Entrega

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Sentia-se como se vivesse em dois mundos. Esta seria a resposta que Seokjin daria a alguém, caso fosse perguntado sobre como andavam seus humores e preocupações nos últimos tempos.

De um lado havia o temor, a raiva, a dúvida, o sentimento de inaptidão e insuficiência perante suas obrigações de príncipe alfa e único filho de Gwacheon. Não havia mais o que fazer, tinha certeza disso: ou fazia a Rainha acordar, ou seria forçado a sacudi-la até que caísse do trono, deixando para ele o local vago. Não era bonito, não era honrado, mas diante dos grupos que, alimentados por meias verdades e boatos, estavam se organizando para futuras amotinações, Seokjin precisava tomar a primeira grande decisão de sua carreira ainda não iniciada como rei. Ou mostrava força agora, ou perderia a chance de fazê-lo mais tarde. Hoseok já tinha lhe alertado que o tempo encurtava, e no fundo Seokjin já tinha se convencido de qual seria sua ação. A mãe jamais cederia, não por vontade própria. A mulher era firme como uma rocha e também teimosa como uma mula quando queria. Seokjin era quem iria forçá-la a ceder, fosse pelo meio que fosse. Ainda alimentava esperanças de que sua diplomacia funcionasse, mas se ela falhasse, já tinha reunido com Hoseok um bom número de homens dispostos a lutar ao seu lado, e nomes importante nos Conselhos Reais para votar a seu favor. Seria doloroso chegar a usar tais ferramentas, mas tal qual Namjoon lhe dissera, antes um traidor da família que um traidor de seu povo. Os primos distantes da mãe não se moviam para Gwacheon por motivo que não fosse a ganância, e Seokjin não facilitaria para eles, mesmo que isso lhe doesse. Esse era o mundo principal em que vivia, e não vinha sendo muito bom.

O outro mundo era Namjoon, e neste se via muito bem. Talvez pudesse até dizer que, com Namjoon, era feliz.

Era novato nesses assuntos de amor e sentimentos. Já tinha ficado fervorosamente enfeitiçado por uma jovem ômega no passado, quando a viu cantar no cabaré que frequentava com o irmão. Com ela Seokjin sabia o que tivera: uma forte atração sexual recíproca, que se consumou naquela mesma noite e foi embora junto com a moça no dia em que ela partiu com a sua trupe de artistas para outros reinos. Tinha sido sua emoção sexual e afetiva mais forte até então, e sua única base para definir tais sentimentalidades. Ao perceber que não sentia o mesmo por seu esposo, que por ele nutria uma admiração mais recatada, mais pura e menos escandalosa, imaginou que estava criando por ele um carinho suave, como de amigos, e ficava alegre com isso, porque era o que de melhor se esperava de um arranjo.

Quando passou a desejar o marido de forma mais afoita, dando o seu melhor para se controlar por acreditar não ser ainda o momento, imaginou que se tratava dos seus hormônios agindo, porque o cheiro amendoado do seu ômega era muito atraente, e Seokjin era um alfa, afinal. Não tinha a menor ideia do que acontecia consigo, e sozinho não conseguiria conceituar nada. Quem o elucidou sobre seus próprios sentimentos foi, como não poderia deixar de ser, Hoseok.

— Estás apaixonado. — O ruivo disse numa conversa em que, tal qual inúmeras antes daquela, Namjoon era o protagonista dos relatos de Seokjin. — Ah, meu irmão... Faz-me tão feliz que estejas apaixonado por ele!

— Tens certeza? — Seokjin parecia surpreso, mas contente com a constatação.

— Se tenho? Nunca te vi com olhos tão brilhantes ao falar de alguém como ficas quando mencionas teu marido. E sabes o melhor? — Cutucou o mais novo de leve. — Ele sente o mesmo por ti.

— Com que conhecimento afirmas isto? — Riu, balançando a cabeça.

— Eu sei, meu irmão. Garanto-te que sei reconhecer isto.

— Como podes saber mais que ele e eu, homem? — Cutucou o meio irmão com mais agressividade do que tinha sido cutucado.

— Não sou iniciante como vós, já tive minha parcela disto que vós experimentais! — Empurrou o outro com o ombro, o fazendo tombar. — Sei bem o que se passa, podes confiar no que te digo. — Tornou a empurrá-lo quando Seokjin se levantou.

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