Confidências

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A primeira noite passada ao lado de Seokjin após as pretensas núpcias não tinham sido, novamente, como Namjoon esperava que fosse, porém, tinha trazido algo que, sob análise, talvez fosse melhor. Os caminhos que seu casamento vinha tomando não eram fáceis pra quem tinha sido ensinado de maneira diversa. Contudo, se prestasse atenção nos próprios sentimentos, apesar dos altos e baixos que seu emocional experimentava, tudo parecia curiosamente satisfatório.

Uma espécie de encanto se quebrou quando Namjoon se sentiu traído pelo marido, e o fato não passou despercebido por seu coração. Por mais que o jovem príncipe já tivesse se dado conta e aceitado que nutria por seu alfa muito mais que o respeito que a ele devia, seus sentimentos românticos não foram suficientes para que, de cara, se sentisse outra vez tão entregue e confortável ao lado do príncipe que o desposou. Foram dias complicados em que teve de lutar contra o que sentia e o que achava certo, fora uma batalha que em sua curta vida jamais imaginou que poderia combater. Um ômega devia ser complacente, dócil, eternamente disposto. Entretanto, mesmo se mantendo agradável e obediente como os costumes ditavam, não encontrava a facilidade para dar amplos sorrisos, para iniciar conversas ou mesmo continuá-las quando Seokjin não lhes dava continuidade. Até mesmo os beijos, ainda que não falhassem em lhe arrebatar e deixar os batimentos disparados, emocionalmente falando perderam um pouco de peso.

Por dias Namjoon se sentiu atormentado com tantas camadas pessoais que nunca julgou existirem dentro de si. Não entendia ao certo o que corria em sua mente. Sentia muita falta de Seokjin quando estavam separados, ainda que tivessem passado o dia quase que integralmente juntos. Ia sempre dormir com ele no pensamento, desejando que amanhecesse para que o pudesse ver, e quando a manhã chegava e trazia Seokjin com ela, sentia-se feliz. Cada passo ao lado dele, cada momento em que escutava sua voz, todas essas horas eram muito apreciadas. O problema era que, em algum lugar de seu cérebro, era como se houvesse uma fina voz afirmando que seu marido lhe mentira e que talvez ainda o estivesse fazendo, e essa dúvida corroía a confiança que um dia tão facilmente tinha depositado no alfa. A exaustão que isto lhe causava o fazia se sentir o pior ômega que já existiu, e por mais que se esforçasse para não deixar transparecer, imaginava que Seokjin percebia tudo e a possibilidade o deixava mais desgastado.

Foi aos poucos, a partir de inúmeras conversas não só com Seokjin, mas também com seu suposto cunhado, que seu emocional foi se refazendo.

Era preciso dizer que, a princípio, se sentia muito estranho ao conviver com Hoseok. Não pela forma como era tratado, certamente. Hoseok era cordial e sempre se referia a Namjoon como se estivesse conversando com um igual. Para seu pretenso cunhado não parecia fazer a menor diferença o fato de ele ser um alfa e Namjoon um ômega, assim como não fazia tanta diferença Namjoon ser um Príncipe Consorte perante um Senhor. Para Hoseok, era como se Namjoon fosse pura e simplesmente um parente de enlace, e ainda que fosse interessante ser tratado com tanta consideração, para Namjoon era esquisito, para dizer o mínimo. E para além disso, Seokjin e Hoseok eram muito semelhantes, ao mesmo tempo em que tinham grandes diferenças. Ambos podiam ser considerados alfas fora de padrão, Namjoon podia dizer não só pela maneira como o tratavam, mas pelo teor das conversas que tinham em sua presença. Os dois possuíam as mesmas ideias progressistas e de igualdade de castas, e cultivavam as mesmas preocupações e perspectivas em relação a Gwacheon. 

E era aí que as semelhanças morriam.

Além das óbvias diferenças físicas, tanto de feições quanto cabelos, cheiro e estirpe, tinham temperamentos um pouco opostos. Seokjin era sempre muito polido e sorridente, mas em nada se comparava com os modos de Hoseok. Seu cunhado guardava muito mais maneirismos e era bem mais extrovertido que seu esposo. O ruivo tinha risadas altas e era extremamente ligeiro e mordaz, enquanto Seokjin ria de forma menos expansiva e preferia dar um sorriso de canto a dizer algo. Era possível enumerar muitas outras diferenças que os caracterizavam mas, de uma maneira própria, eles eram tão simbióticos que as possíveis discrepâncias se tornavam complementares e harmônicas.

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