Prenúncio

263 38 87
                                    

Os dias na praia tinham sido os melhores, mas tinha sido necessário que acabassem. Pela vontade de Seokjin nunca terminariam, porém, um bom príncipe colocava as necessidades de seu reino acima das suas, e havia muito tempo desde que Seokjin percebeu que precisava, enfim, se render a essa máxima. Namjoon tinha toda a razão quando lhe dizia isso, e era chegado o momento de tomar sua decisão mais ousada e difícil, como homem do povo que era. Adiara por tempo demais seus movimentos; já passava da hora de, enfim, começar a ser quem tinha sido criado para ser.

Estava de volta ao palácio principal fazia três dias. Passou o primeiro deles trancado no quarto de Namjoon, sem sair para refeições ou qualquer atividade, oficial ou não. No segundo dia retomou suas obrigações, e isso se estendeu ao terceiro. O quarto dia, o que vivia atualmente, seria o decisivo. Já tinha conversado com Namjoon e Hoseok, acertado todos os pontos práticos e emocionais do que estava prestes a fazer. Tinha acreditado que a ideia de Namjoon não era pior do que o que vinha fazendo às costas da mãe, e que valia a pena tentar antes de iniciar uma possível batalha. Seria até um pouco mais cortês com a Rainha lhe dar a chance de evitar o confronto, ainda que de maneira tão baixa. Seokjin tinha se esforçado muito para enxergar os pontos positivos da situação, e estava quase convencido de que eram maiores que os negativos. Nunca estaria convencido por completo de coisa alguma, por isso, estar quase convencido era o melhor estado em que poderia estar.

Antes de sair do próprio quarto teve uma reunião com Hoseok, que lhe garantiu que estaria no ponto estratégico, esperando para cumprir as suas ordens, fossem quais fossem. Os alfas que compunham seu exército revoltoso estavam a postos, com suas armas limpas e carregadas, esperando um sinal para iniciarem a marcha. Se tudo desse errado, naquele mesmo dia os encontraria e os lideraria. Seria sua primeira vez atuando no comando de um exército na prática, mas isso não o assustava. O que o atormentava era o motivo de fazê-lo.

Imaginava que um dia poderia vir a ser um rei guerreiro. Não à toa o personagem no jogo que mantinha com Namjoon era um Rei Alfa conquistador. Pensava que no futuro, quando sua linhagem estivesse garantida por meio de vários possíveis sucessores, poderia sair por aí com um bom exército em busca de territórios desconhecidos para anexar a Gwacheon. Isso foi antes de Namjoon, claro, mas pensava haver uma forma de unir sua paixão e seus objetivos quando a hora chegasse. Não supunha que seu talento bélico seria testado tão cedo, especialmente contra a própria mãe. Tinham desavenças enquanto governantes, mas no âmbito familiar, se adoravam. E isso, longe de trazer alento, deixava os próximos passos mais custosos.

A Rainha sempre tinha sido excelente para ele, às vezes era até mais próxima que a Rainha Consorte. A Rainha cuidava dele de perto, como se tivesse receio que o filho pudesse sumir a qualquer momento, cheia de pequenos cuidados. Seu jeito era introspectivo, sério, pouco amigável, mas ela exibia sua melhor versão quando se tratava de ser a mãe de Seokjin. O jovem príncipe suspeitava que não fosse exatamente por amor; ele era o único herdeiro do trono, e como Namjoon apontara, sua mãe era muito orgulhosa. A demora para que tivesse filhos e o fato de apenas um ter nascido de seu casamento deviam ser fatores que a levavam a mimar Seokjin, a estar sempre de olho nele.

No fim, nada daquilo faria muita diferença. Se era amor ou não, era provável que não restaria nenhuma fração após o primeiro ataque. Em teoria, Seokjin estava preparado para perder o afeto materno, de ambas as rainhas, porque a ameaça recairia nas duas. Não sabia como seria ser considerado um pária no seio familiar, mas poderia se acostumar. Desde que estivesse dando o seu melhor por Gwacheon, se habituaria ao que viesse.

Era como gostava de enxergar as coisas.

— Dormiste ao menos um pouco, Seokjin? — Namjoon perguntou assim que acordou, vendo o marido o observar da beira da cama, todo arrumado.

By arrangementOnde histórias criam vida. Descubra agora