Um a um

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Namjoon sempre foi uma pessoa realista. Não tinha por hábito ser questionador, tentar mudar a ordem das coisas, ir contra as normas. Ainda na infância, quando não sabia para que lado seus hormônios o levariam, já entendia que como príncipe teria obrigações que não podia refutar, e se preparava com afinco para isso. Se seria um alfa, um ômega ou um beta, não importava; fosse ele quem fosse, seria o melhor possível.

Sendo o irmão mais novo, tudo o que sabia era que a probabilidade de governar era baixa. Se seu irmão se mostrasse um alfa, a Namjoon restaria algum principado, caso também o fosse, ou fosse um beta. Se sua puberdade mostrasse que era um ômega, isso seria usado a favor de seu reino para obter uma aliança forte com outro, e passaria a servir outra Corte, diferente da de seu nascimento. Desde que se entendia por gente compreendia seus possíveis destinos, e se preparou bem para qualquer um deles.

Ser realista e compreensivo, contudo, não o impedia de criar fantasias. Alimentara das mais diversas por muito tempo. Imaginara-se governando um dia, sendo um bom alfa para Ilsan e para quem se casasse com ele, sendo um bom pai para sua prole e reinando por muitos, muitos anos. Tinha se imaginado um beta comandando um principado pequeno, de preferência um em que a agricultura e extração fossem o forte, porque sempre simpatizou com esse tipo de vida. Vira-se, também, como um consorte companheiro e auxiliador, dando filhos lindos para sua Corte de casamento enquanto podia viver momentos felizes ao lado das crianças e do alfa que lhe desposasse. Não fazia diferença qual rumo tomaria, aceitava qualquer possibilidade e a desempenharia bem, porque desde cedo compreendeu que, mais que um indivíduo, era um príncipe. E príncipes, como ele já afirmara tantas vezes para seu esposo, tinham obrigações maiores que a própria existência. Pensar assim não o impedia, porém, de sonhar um pouco. E quando se mostrou um ômega, seus sonhos tomaram uma forma específica.

Não se deixava guiar pelo o que sonhava, mas em seus desejos mais secretos, queria viver com a pessoa que casaria um romance parecido com os que lia nos livros. Queria sentir o coração tremer como os dos mocinhos daquelas histórias, o peito se encher de alegria ao estar com a pessoa amada, queria se sentir tão emocionado ao ponto de chorar de amor e felicidade, igual aos personagens daqueles livros. Isso, porém, ele desejava somente no fundo de seu ser, e era ali que guardaria tais anseios tão improváveis. Para o mundo daria sua versão mais lúcida e sóbria, porque esta era sua destinação. Tinha nascido para servir, sendo um príncipe, e o faria sem hesitação. Se fosse um alfa, serviria reinando e cuidando de seu povo. Se fosse um beta, serviria administrando um pequeno pedaço de terra de seu reino natal. Sendo um ômega, iria contribuir para a criação de geração futura de seu reino por aliança. Seus sonhos podiam ficar bem guardados, para que o príncipe que havia nele pudesse cumprir o papel para o qual nasceu.

Foi com esse espírito que Namjoon chegou a Gwacheon, a fim de dar um dos passos mais importantes de sua vida. A pintura que recebeu de Seokjin lhe mostrava que ele era lindo, e certamente Namjoon imaginou como seria estar apaixonado por um homem tão bonito quanto aquele. Olhando para o retrato do alfa lúpus que tinham escolhido para ele, pensava se seu coração teria sobressaltos por causa dele, se suspiraria estando com ele, se viveria, enfim, seu próprio romance de biblioteca. Mas não se impressionava demais com isso, não se deixava levar por tais pensamentos. Uma coisa era sonhar, isto era permitido e não fazia mal. Outra coisa, e esta sim poderia ser prejudicial, era querer que a vida fosse como nos livros, em que tudo dava certo e era perfeito. A vida tinha suas próprias regras, e Namjoon estava disposto a segui-las. Por isso, a única coisa que esperava era que pudesse, ainda no primeiro ano de casado, dar um filho saudável para Seokjin e seguir o fazendo todos os anos, ofertando a Gwacheon muitos príncipes que, com suas peculiaridades, pudessem prosseguir o legado de Seokjin e também o expandir.

Namjoon nunca imaginou que o empecilho para tanto viria justamente de seu alfa. Seokjin, com seus pensamentos tão diferentes do que um lúpus, em tese, deveria ter, impedia que Namjoon cumprisse sua parte no acordo e o deixava desnorteado por conta disso. Seokjin o levava a desaprender tudo o que lhe fora ensinado e reaprender a viver de uma maneira diversa. Ele fazia seu coração se sobressaltar e lhe causava suspiros, mas não de paixão, como os personagens dos livros, e sim de agonia, dúvida e exasperação. Foi necessário que tentasse o entender para que, quem sabe, pudesse fazer o que lhe competia. E foi nessa busca por entendimento e compreensão que tudo mudou.

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