cinco

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Cas entrou no castelo segurando a corda que prendia os pulsos do garoto com uma mão e o cabo de sua espada com a outra. Ele estava estressado. 

Havia passado as últimas vinte horas sendo obrigado a ouvir as provocações que o cara lançava a Lenn e a cada um dos guardiões, inclusive a ele mesmo. 

Pensou em reagir diversas vezes, mas Lenn sequer erguia o olhar na direção de qualquer um. Parecia tão absorta em seus próprios pensamentos que nem mesmo percebeu a tortura que ele estava sofrendo. E Cas sentia que, se reagisse, acabaria passando a impressão de que garota não era capaz de se defender por conta própria, o que, obviamente não era verdade. Então esperou.

Esperou.

E esperou mais um pouco.

Mas Lenn não falou nada!

Absolutamente nada...

Apenas quando alcançaram a ponte, Kai – que tipo de nome é esse? – resolveu ficar quieto. Talvez por perceber que ali, se ela reagisse, destruí-lo seria fácil demais, já que uma vasta fonte de Água se estendia abaixo deles.

Então, sim. Cas estava definitivamente irritado, só não sabia dizer se era com Kai, que não calou a boca um minuto, com Lenn, que permitiu, com os guardiões, que não fizeram nada a respeito, ou ele mesmo, que não empurrou o cara da ponte quando teve a chance. 

- Leve ele para as celas. – Lenn pediu, se virando para Cas – Vou reunir o Conselho e relatar o que aconteceu. – e respirou fundo, se voltando para Kai, que rapidamente voltou a sorrir ao notar que finalmente tinha a atenção dela – E você, é bom começar a fazer uma lista do que vai querer nos contar. – e saiu.

Cas apenas fez sinal para que três guardas fizessem o que Lenn pediu, enquanto tirava a parte mais pesada da roupa, que estava começando a incomodar.

- Um prisioneiro? – uma voz familiar ecoou em seus ouvidos, enquanto deixava a roupa em um dos bancos, ficando apenas com uma camisa mais fina por baixo.

- Agora não, Al. – ele praticamente rosnou, mas a garota não recuou, acostumada demais com o temperamento do amigo para se abalar.

- Agora sim, Cas. – ela tocou seus braços, agitando-os levemente – Como foi? Me conte suas aventuras e eu conto as minhas.

Cas finalmente se virou para a amiga e rapidamente percebeu uma tristeza em seu olhar. Ficou desconcertado por alguns segundos antes de optar por não comentar. Alina nunca foi muito de falar de seus próprios sentimentos, apesar de sempre insistir que os outros o fizessem e a probabilidade de ter sido sua mãe é maior do que Cas gostaria de admitir. Talvez ela conversasse com Anya - a garota tinha mania de falar com a fada - mesmo que ela não pudesse responder, afinal, todos sabem que pixies não falam.

- Não teve uma aventura. – deu de ombros – Os rebeldes sabiam que íamos atacar, então fugiram. Só sobrou aquele cara.

- Ele é muito bonito.

- Fique cinco minutos perto dele e eu duvido que ainda pense assim. – bufou frustrado, enquanto andava para a escada, em direção aos seus aposentos.

- Alguém está de mau humor. – Alina provocou, soltando uma risada enfraquecida pela tristeza antes de segui-lo.

- Claro que estou. Não adiantou absolutamente nada irmos até lá.

- Vocês conseguiram um prisioneiro, ele pode dar as informações que vocês precisam.

- Não... você não está entendendo. – parou no meio da escada, passando a mão pelo cabelo em um gesto aflito.

Coroa de GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora