Coroa de Gelo

vinte e um

Alina tinha passado o dia todo dentro daquele quarto. Era minúsculo e ela estava começando a se sentir claustrofóbica ali, mas não tinha forças para sair.

Não queria sair, e certamente não sairia tão cedo.

Tinha, porém, uma boa noção do que estava acontecendo do lado de fora. A garota dos olhos puxados, Asteria, tinha lhe contado o suficiente na noite anterior para que Alina soubesse que devia se preocupar. Estavam indo para Ardhi e, por Darya, isso ainda causaria tantos problemas... Lenn enlouqueceria com a possibilidade e talvez fosse por isso que Cas aparecera minutos antes buscando a garota desesperadamente. Conhecendo Lenn, ela escolheria voltar para Eikko antes de enfrentar Kael, e Cas estava plenamente ciente do que ela tinha ameaçado fazer na noite anterior, de forma que não seria nada difícil ele unir os pontos, mesmo que sequer soubesse sobre Ardhi.

Alina estaria mentindo se dissesse que, em sua mente, ela não tinha corrido atrás do garoto - igualmente aflita com a possibilidade de Lenore retornar para um ambiente tão abusivo quanto o que ela estava antes - mas não conseguiu. Seu corpo parecia pesar infinitamente mais do que o normal e tudo o que ela conseguia pensar é que talvez tivesse criado problemas para Ameer.

Damen saberia de sua participação, ele era uma péssima pessoa, mas isso não o tornava burro. Ele sabia e podia usar isso contra ela de formas inimagináveis. Alina estava aliviada por ter conseguido tirar Lenn de lá, mas Ameer—

Não deveria pensar nisso.

Ameer não queria sair. Era seu reino. Assim como Lenn nunca abandonaria Oseaan, Ameer não abandonaria Flamma e Alina tinha que arrumar uma forma de lidar com isso sem se consumir pela culpa.

E não era só isso.

Queria que fosse, mas tinha tão mais... havia usado seus poderes. Em Damen, sim, mas—

Tinha agido como ela – sua mãe – e não conseguia se livrar da sensação desagradável que se instalara quando a garota teve tempo para, de fato, pensar sobre isso.

Inspirou profundamente e fechou seus olhos. Um truque que tinha aprendido com Cas, contando de um até cinquenta para se distrair enquanto suas mãos passavam pelo livro que tinha encontrado e tentava ler, mesmo que o foco não existisse naquele momento.

Alina conseguiu chegar em trinta e três até Cas retornar.

Um olhar foi tudo o que ela precisou para entender o que tinha acontecido: Lenn não tinha ido embora – ainda – e eles tinham brigado. Ele tinha aquela expressão perdida que Alina raramente via, mas era marcante o suficiente para não se esquecer. Não era nada imprevisível, Alina sabia que isso aconteceria em algum momento, e sentiu uma parte de sua tensão amenizar.

- O que houve? – perguntou mesmo que já imaginasse.

Ela precisava se distrair e ele precisava colocar para fora, ela conseguia ler isso em seu rosto. O garoto se jogou na cama ao seu lado e expirou lentamente.

- Ela não foi embora. – sua voz soou mais perdida do que Alina pensou que estaria – Não acho que vai, mas estava tão perto, Al... tão perto.

-  Você a impediu? – ele negou com a cabeça.

- Mas falei algumas coisas.

- Hm... – endireitou a postura e se virou para o amigo, cruzando as pernas e se concentrando na conversa – Ela merecia ouvir algumas coisas.

- Sim. – ele respondeu seco, distraído com seus próprios pensamentos.

Alina soltou um suspiro e levou uma mão ao seu cabelo, começando o processo de tirar os nós que sempre se formavam nos fios loiros do garoto. Os olhos dourados a encararam como se buscassem a resposta para todos os problemas em seu rosto.