Depois daquela noite a semana passou voando.
Lenn passou quase todos os dias fora do castelo com Cas e as gêmeas, se ocupando ao resolver um conflito entre três Representantes que brigavam há meses e tentando evitar Damen - que a convidava para Flamma como se ela não tivesse nada melhor para fazer.
Convidar talvez não seja a palavra certa. Intimar, talvez? Na cabeça dele ela não tinha qualquer autoridade ou direito de rejeitá-lo.
Ao mesmo tempo teve dificuldades em conciliar os horários com Eikko, que também se manteve ocupado por tempo suficiente para que fosse difícil iniciar uma conversa sobre o prisioneiro.
Dias haviam se passado, mas ela ainda pensava a respeito dele – Kai -, mas, apesar do que pode parecer, a questão não era ele. Não exatamente.
Algo dentro dela não conseguia tirar da cabeça que Eikko sabia desde o início que não aconteceria nada demais. Parecia absurdo até mesmo em sua própria cabeça, mas por temporadas Lenn insistiu em liderar um ataque e ele nunca havia sequer cogitando a possibilidade. Ela já havia ajudado em alguns, obviamente, mas nunca teve a oportunidade de fazer por conta própria, estava sempre à sombra de alguém, e isso a deixava indignada.
E então, de repente, ele mesmo havia sugerido, como se fosse algo pelo qual ele também esperou por tanto tempo e, no final das contas, nada aconteceu.
Sem contar que ele pareceu bem surpreso quando descobriu que ela tinha trazido um prisioneiro. Isso não deveria ser motivo de surpresa, deveria? Por Darya, era para ser um ataque! Muitas coisas acontecem nos ataques e um prisioneiro não deveria ser algo impressionante.
Se sentia culpada por pensar assim, Eikko sempre a colocara de baixo de sua asa e, se ele soubesse realmente não teria a enviado, vinte guardiões poderiam facilmente fazer falta se algo acontecesse no castelo, mas não conseguia tirar a possibilidade da cabeça.
Estava cedo quando uma batida na porta ecoou por seu quarto. Cedo demais.
Lenn soltou um suspiro e se remexeu na cama, ficando um total de cinco segundos observando o teto antes de murmurar uma permissão para quem quer que fosse entrar.
- Uma princesa não deveria estar dormindo à essa hora. – a voz de Dallena quase fez com que Lenn levantasse para se jogar da janela – Seu pai soube que você o estava procurando. Pediu que a encontrasse na ponte.
- E desde quando o seu trabalho é chamar as pessoas com quem ele quer conversar? – não conseguiu conter a resposta afiada – Se quer saber minha opinião, acho que está sendo cada vez menos valorizada por aqui.
- É uma pena que eu não perguntei. – a resposta infantil fez com que Lenn sorrisse, se sentando para encarar a mulher.
- Pensa que é a única que observa as coisas? – arqueou uma sobrancelha – Eu sei que está há temporadas tentando conseguir um herdeiro para Eikko para me tirar da jogada. Acha mesmo que isso vai funcionar? A união de vocês sequer foi abençoada por Darya, não acho que um bastardo mudará muito a sua situação.
- Melhor uma criança bastarda do que uma garota arrogante que sequer é filha dele.
- Tem certeza? – ela riu – Darya me escolheu, você querendo ou não. E Eikko também. Não tem nada que você possa fazer a respeito disso.
- Darya já se enganou uma vez.
Seu tom de voz foi baixo, mas soou como um grito para os ouvidos de Lenn, que já havia pensado sobre isso mais de uma vez. Sentiu seu coração pular uma batida antes de entoar no tom mais ameaçador que conseguiu:
- Saia.
O sorriso no rosto da mulher fez com que Lenn desejasse socá-la, mas ela saiu.
Poucas coisas são piores do que ter suas próprias inseguranças ditas por outras pessoas, mas não podia negar que havia merecido - afinal, estava fazendo o mesmo apenas dois segundos antes.
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Coroa de Gelo
FantasyUm mundo dividido em quatro reinos. Ardhi, o reino das grandes florestas, Flamma, o território tomado pelo fogo, Arian com suas altas montanhas congeladas e Oseaan, um arquipélago com as mais belas ilhas. É nesse último que vive Lenore, Líder da Águ...