nove

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As coisas certamente não estavam acontecendo como Kai planejava.

Uma parte dele realmente achava que quando ele finalmente conseguisse conversar com Lenore as coisas se desenrolariam de forma relativamente fácil, outra parte achava que ele seria sentenciado à morte por tentar fazê-la ir contra Eikko. Imagine a surpresa que ele sentiu quando, depois daquela terrível conversa, a única coisa que ele recebeu foi o absoluto nada.

Era difícil compreender a passagem de tempo enquanto estava lá embaixo. A prisão era profunda demais para os raios solares chegarem e, mesmo que não fosse, os prisioneiros não tinham qualquer visão do lado de fora. Tudo o que ele tinha eram as refeições, que chegavam em intervalos irregulares, de forma que poderiam ter se passado dois dias ou uma semana, apesar de, na cabeça de Kai, parecer mais de um mês.

Para passar o tempo ele só podia observar a cela em frente à sua, onde uma sereia se distraia passando as mãos pelo cabelo e olhando para o teto como se pudesse ver as estrelas através de camadas e mais camadas de pedra. Às vezes ela o observava também, parecia querer falar algo para ele, e se expressava de formas abruptas, mas ele nunca compreendia, então ela apenas  cantarolava o ritmo de uma canção familiar que Kai não conseguia identificar.

O tempo passou tão devagar que Kai pensou que fosse enlouquecer e se sentiu uma mistura de emoções quando ouviu vozes na direção dos portões. Desde que tinha sido trancado, todos os que apareceram vieram diretamente para a cela dele, Eikko ou Lenore e quem quer que estivesse os acompanhando, então não foi muito difícil deduzir que a visita era para ele. Primeiro ficou feliz, por finalmente ter algo com o que se preocupar diante do tédio que estava sentindo, mas ao perceber que essa preocupação poderia ser a morte súbita a felicidade escapou de seu corpo em um piscar de olhos.

Obrigou seu corpo a se manter na mesma posição, não se permitindo qualquer reação, mesmo que as pessoas ainda estivessem distantes. O olhar da sereia exibia preocupação, provavelmente a mesma que ele sentia, e Kai desviou os olhos, sentindo um alívio intenso ao perceber que não era Eikko, mas sim a garota que o havia curado alguns dias antes - Lenore a havia chamado de Alina - e aquele garoto que seguia a princesa para todo lado, se o seu nome já tinha sido falado perto de Kai ele certamente não se lembrava.

- Isso sim é uma surpresa. – ele disse com um sorriso forçado, tentando entender se ela estava ali para ajudá-lo ou matá-lo – Alicia.. Aline... – estalou os dedos - Alina, certo?

A garota deu um sorriso tranquilo e acenou levemente com a cabeça.

- E esse é Caspian. – apontou para o garoto, que parecia extremamente desconfortável, apesar de não ter movido um músculo desde que parara ao lado de Alina.

Kai assentiu, sem saber o que responder, então escolheu a opção mais óbvia:

- Por que está aqui?

Alina se aproximou da grade observando cada milímetro do corpo de Kai, provavelmente checando os ferimentos que ela mesma havia curado, quando concluiu que ele estava bem ela soltou um  suspiro.

- Lenn não sabe que estou aqui.

Lenn sendo apelido de Lenore, o que quer dizer que elas realmente são amigas, mas isso Kai já tinha percebido pelo pouco tempo que as duas ficaram juntas perto dele. E ainda assim... que a Líder não sabe que ela está aqui, isso sim é intrigante. Se Lenore não sabe, então Eikko provavelmente também está alheio à visita e, se ela manteve tudo tão secreto só pode significar--

Foco, pensou, voltando a se concentrar no que Alina falava.

- Quero que me conte tudo.

- Tudo? – ele franziu o cenho – Por quê?

Coroa de GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora