sete

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Depois de ter uma conversa pouco produtiva com Eikko, Lenn desceu nas pedras até chegar na Água, afundando o corpo lentamente, até que só seus ombros não estivessem cobertos. Foi rapidamente seguida por Alina e Cas, e trocou um último olhar com seu tio antes de afundar. Não parou para se deliciar com a sensação agradável e acolhedora do mar, pois sabia a postura que deveria manter. 

A prisão fica em um dos locais mais profundos de Oseaan, bem abaixo do castelo, de forma que, apesar de querer simplesmente descer com rapidez, sabia que não podia. Não com Alina e Cas ao seu lado, pelo menos. Por isso acabou descendo lentamente, demorando um pouco, mas pelas expressões de incomodo no rosto dos amigos, ela sabia que se acelerasse seria ruim.

Quando finalmente chegaram ao fundo, os guardas se ajoelharam em uma reverência e Lenn apenas acenou com a cabeça para eles, que rapidamente reconheceram a ordem e abriram os portões. Um dos guardas, o maior de todos, se propôs a acompanhá-los e Lenn não impediu. Ela não o conhecia, pois raramente vinha aqui embaixo, mas sabia quem ele era. Athol era como o homem se chamava e Eikko confiava muito nele - o suficiente para permitir que ele cuidasse da maior prisão do reino. 

Lenn não olhou para trás para ver se seus amigos a seguiam quando passou pelo portão e ultrapassou uma parede invisível, que dividia o oceano da prisão, pois esta não tinha Água alguma -com exceção das celas de indivíduos que não conseguiam respirar fora d'Água, é claro, eles não era tão cruéis -, apesar da umidade presente em cada canto. Sentiu Cas respirar fundo ao sair da Água, inalando o máximo possível de ar, antes de voltar com a postura séria, refletindo a expressão indecifrável de Lenn. Alina, no entanto, permaneceu serena, como se estivesse em um passeio tranquilo na praia.

Era admirável como ela conseguia esconder suas emoções, pois Lenn sabia perfeitamente que a amiga estava mais incomodada que Cas. Eles nunca tinham descido até aqui, Lenn mesmo viera pouquíssimas vezes. 

Lenn deu alguns segundos para os dois se recuperarem e continuou andando, passando por diversas celas. Viu sereias, sirenas, humanos, feiticeiros... a prisão era extensa o suficiente para ter ao menos um indivíduo de cada espécie existente, mas, à medida que passava por eles, não desviou o olhar do caminho que seguia. Sabia que muitos a reconheceram, pois vários se agitaram, alguns se encolhiam no canto das celas, outros avançavam e gritavam obscenidades, mas muitos sequer reagiam, parecendo confusos com todo o alvoroço.

Esses certamente estavam ali antes mesmo de Lenn nascer, jamais poderiam reconhecê-la.

Parou, finalmente em frente à cela que sabia que Kai estaria. Ao olhar para o garoto, precisou se esforçar para não se encolher. Ele estava jogado em um canto da cela, o corpo repleto de hematomas, algumas manchas de sangue e um corte extenso no rosto, que parecia ao ponto de uma infecção. Sua cabeça estava tombada para o lado e ele se moveu, reconhecendo a presença deles, mas considerando o estado de um de seus olhos, que estava roxo e inchado, Lenn teve sérias dúvidas se ele conseguia realmente vê-los.

- Alteza, de volta tão cedo? – sua voz saiu arrastada, como se falar exigisse um esforço muito maior que o normal.

- Abra a cela. – Lenn ordenou, com os olhos fixos no prisioneiro.

- Estava me perguntando quando voltaria a vê-la.

O guarda retirou uma chave do bolso e abriu a mesma com agilidade. Lenn apenas olhou rapidamente para Alina, que assentiu, entrando na cela e se abaixando ao lado do garoto.

- Espero que reconheça que atacar agora seria algo extremamente estupido, considerando onde estamos.

- Atacá-la em qualquer outro lugar seria considerado extremamente estupido. – ele respondeu com a voz tão baixa que quase não foi possível ouvir, e Lenn não discutiu.

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