4.
Agora, a mente parecia ter se familiarizado com o assustador e os elementos anteriores começavam a dar lugar a algo novo. As ataduras antigas iam revelando não carne morta, mas carne viva. Com o passar dos dias, os sonhos revelavam o rosto de um jovem homem. Enfeitado com pinturas, a face tinha traços marcantes: a mandíbula era definida e as bochechas altas. Seus olhos eram vivos, envoltos por tinta que os deixava ainda mais marcantes, grandes e brilhantes. O nariz era delicado, e a boca vermelha e carnuda. Os longos cabelos pretos ficavam presos no alto da cabeça e emolduravam o semblante, contrastando com a pele que lembrava um tom dourado.
Namjoon tinha certeza que aquele rosto era familiar. Não só porque a sensação de reconhecê-lo o tomou mesmo durante o sono e persistiu durante o dia, mas também porque ele sabia que a mente humana não é capaz de criar novos rostos durante o sono, então certamente seu cérebro estava tomando as feições de alguém emprestadas pra tirar-lhe o sono.
No trabalho, a tradução avançava e as inscrições pareciam ser, na verdade, uma última declaração de amor, aparentemente do morto ou em nome do morto. O que era bastante interessante do ponto de vista histórico e cultural. Já havia traduzido e estudado algumas outras inscrições funerárias e era comum que ali se registrasse o que havia de mais importante para as pessoas de uma época. Segundo havia investigado, algumas das outras múmias encontradas na região daquela tinham algo parecido: uma última declaração pública, como que explicando o porque haviam morrido. Como e porquê estavam reunidas naquele local, mesmo sendo cada um de uma origem distinta, era um mistério que a ciência, a arqueologia, a história e a linguística ainda não tinham decifrado.
Determinado a dormir melhor, já que a privação de sono começava afetar diretamente a capacidade de sua mente de realizar conexões mesmo que o café e os energéticos estivessem em sua dose máxima, Namjoon saía do trabalho, comia qualquer coisa na rua e passava pelo menos duas horas fazendo exercícios físicos: corria, depois ia à academia. Era bom em ser compulsivo, então tão logo começava um trote, já se via querendo aumentar o ritmo e superar sua marca pessoal de cinco minutos por quilômetro. Tão logo carregava um peso, já queria aumentá-lo. Não tinha mais um corpo jovem, mas se esforçava até seu limite. Queria se esgotar ainda mais, chegar em casa e se deitar cansado, para, quem sabe, acordar só no outro dia com a mente mais arejada.
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Língua dos Sonhos
FanfictionKim Namjoon é um linguista famoso chamado pra decifrar as inscrições que adornam um corpo mumificado de 3000 anos. Desde então, o homem cético e viciado em trabalho passa a ter sonhos estranhos e inesperadamente... eróticos. 6k AVISO DE CONTEÚDO: s...