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11.

O cérebro de Namjoon parecia ter se concentrado nas palavras a tal ponto que entrou numa espécie de transe. Seus sentidos estavam suspensos. Ouvia os aplausos distantes, embora o público estivesse próximo, as luzes dos flashes apagavam a sua visão e caminhava de volta para seu lugar quase sem sentir os próprios movimentos.

No seu assento, ouviu a breve explicação que a equipe do departamento de história e arqueologia dava sobre as inscrições e a ritualística imaginada para aquela peça funeral. Já não tinha a consciência muito clara sobre o que falavam, e então alguém, que ele tinha consciência de saber o nome, mas que sua mente não conseguia mais afirmar quem era, chegou ao pequeno palco seguido do próprio ataúde, sobre um carrinho com rodas e protegido por uma camada de vidro, trazido por funcionários uniformizados.

Namjoon olhou para o corpo embalsamado à sua frente, separado da caixa onde havia sido guardado por milênios, e o arrepio estranho que sentira na primeira e única vez em que esteve na presença daquele objeto retornou. Agora o arrepio trazia a Namjoon algo bom, como se todo o peso deixasse seu corpo.

Atrás do objeto exposto, o homem no palco anunciava a reconstituição facial daquele homem de 3000 anos. Namjoon olhou para a tela onde uma animação mostrava um holograma do corpo como viam à sua frente, depois uma camada de músculos foi adicionada e por fim, pele, cores, e todos os seus traços delicados. E o rosto era familiar: na tela, estava o homem de seus sonhos.

Namjoon viu as imagens se tornando uma mancha escura, ouviu gritos e sentiu o chão duro sob seu corpo. Sentia-se tremendo, sentia frio, muito frio e uma pressão dolorosa no peito. Fechou os olhos e de repente, sentiu paz. A mesma paz que havia sentido quando aquele homem deitou em seu peito. Foi inundado de tanto sentir, que aquilo transbordou de seus olhos. Não se lembrava da última vez que tinha chorado, mas chorou, chorou e a paz passou a ser sua.

Ao abrir os olhos novamente, viu, entre todas as pessoas que o cercavam, distante, aquele homem, batizado em sua vida após a morte de Jimin. Vestido com um manto vermelho e roxo, o peito, o pescoço, as orelhas adornadas com jóias douradas, o cabelo preso e enfeitado com uma espécie de coroa que lembrava uma flor sobre sua cabeça. O rosto tinha uma pintura em branco e preto ao redor dos olhos, destacando ainda mais aquele olhar sereno e amoroso. A mão dele se estendeu, e os lábios - a boca mais linda que já vira - se abriram em um sorriso caloroso.

Falaram-se na mesma língua. "Não precisa ter medo, meu amor!", a voz suave sussurrou e Namjoon se levantou, indiferente a toda a confusão ao seu redor. Não precisou de palavras para definir o que sentia. Sentia muito pela vida que havia perdido até então. Sentia muito. Sentia muito também ao ir na direção daquele homem. E agora era bom sentir.

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