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7.

Quando abriu os olhos, estava em sua cama, sozinho e não naquele cenário, com aquele homem. Ofegava enquanto tomava consciência de que estava mesmo em seu quarto.

– Foi só um sonho! Só. Um. Sonho.

Era perturbador ter um sonho erótico daqueles. E mais ainda ver que havia acordado duro. No banheiro, arrancou as roupas e se olhou no espelho. Seu corpo estava em forma para um homem de quarenta anos, o que só denunciava o engano das aparências. Comia mal, tinha uma qualidade de sono duvidosa, era movido a café e só se sustentava por consumir vitaminas e nutrientes sintéticos. Fazia exercícios físicos, mas sempre em exagero e sem se alimentar como deveria. Constantemente ouvia dos médicos que precisava de férias, que tinha que rever seus hábitos e que estava estressado, beirando a estafa. Honestamente, se não fosse obrigado a fazer o check-up anual para ter seu contrato de trabalho renovado, nem ouviria aquela ladainha toda. Inclusive, vinha fugindo dos resultados dos seus últimos exames porque temia um afastamento compulsório por motivos de saúde.

Sabia que não estava bem, apesar de uma boa genética, que segurava seu corpo funcionando - apesar de nunca cuidar dele como devia - e que mantinha também sua aparência razoável. Haviam alguns cabelos brancos surgindo nas laterais da cabeça, mas ainda aparentava uma certa juventude em seu rosto delicado, ainda que cansado. Não estava de todo mal, mas não se lembrava mais da última vez que havia usado o corpo daquela forma que havia feito no sonho. Quando é que tinha sido?

Depois do divórcio! Isso! Depois do divórcio, a equipe de seu departamento insistiu para que o chefe saísse com eles. Se esquivou do interesse de Jihyo bebendo mais do que estava acostumado. Conseguiu afastá-la mas os colegas homens insistiam que precisava transar com alguém, com qualquer mulher. Namjoon sabia que não, não precisava. Mas acabou se deixando beijar por uma das garotas que havia dado em cima dele no bar. Por mais que ela fosse bonita e inteligente, era jovem demais e aquilo o deixava desconfortável. Bebeu mais, de bebidas mais fortes, pra fugir daquilo também, e ela insistiu em levá-lo pra casa. Sabia que ela queria sexo, mas porque com ele?

Acabou pegando no sono no sofá do apartamento para o qual havia acabado de se mudar: pequeno e com uma decoração impessoal, que só acusava sua presença específica porque tinha muitos livros sobre a área que estudava, empilhados no chão ou sobre os poucos móveis que havia comprado. A última coisa de que se lembrava antes de adormecer é que ela estava com uma lingerie bonita e claramente planejada para impressionar e pôde senti-la subindo sobre ele enquanto ela tentava livrá-lo das roupas.

Acordou no dia seguinte sozinho e soube, alguns dias depois, que sua fama de viciado em trabalho tinha recebido o adendo de "viciado em trabalho porque é brocha". Sinceramente, não ligou, porque ao menos depois daquilo ninguém insistia para que socializasse e muito menos para se relacionar com os outros. A ideia de que era anti social também foi reforçada pelo evento. O fato tinha acontecido a três, quatro... a quantos anos havia se divorciado mesmo? Cinco?

Bem, nunca tinha explorado muito seu corpo, de qualquer maneira. Costumava reprimir sua sexualidade no geral, às vezes até de forma consciente. Se relacionar com pessoas tomava um tempo que ele não queria desperdiçar com qualquer outra coisa que não fossem os estudos. Yerim sempre havia sido uma mulher fácil de conviver e não demandava demais dele no começo da relação. Às vezes se sentia mal por ela, porque sempre soube que ela esperava mudá-lo. Mas ele continuou viciado em trabalho, avesso à contato social constante, e quase indiferente a afeto e aquilo se manifestava no sexo - poucas vezes entusiasmado e, no fim do casamento, feito mecanicamente, com data e hora marcada.

Nunca havia praticado muito suas habilidades de se relacionar, a ponto de perdê-las, e por isso havia deixado de investigar até que ponto o seu desejo ia em cada direção possível, mesmo quando era solteiro e desimpedido. Até mesmo Yerim, amarga quando foram oficializar a separação, depois de todas as burocracias da divisão de bens, chegou a fazer comentários ácidos na frente dos advogados, insinuando motivos maldosos pra seu pouco apreço por sexo.

Não estava surpreso por seu sonho. Sua mente estava apenas misturando o trabalho com a falta de sexo, não era? Obviamente, já tinha tido alguns sonhos daqueles, principalmente quando era adolescente. Depois, o foco nos estudos e no trabalho acabou removendo sua criatividade erótica de tal modo que se tornaram raríssimos. E nenhum havia sido tão vívido. Provavelmente era o longo tempo sem nenhuma atividade se manifestando: seu corpo pedia, com aquelas visões, para colocar os hormônios que ainda produzia em uso. Só isso.

Língua dos SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora