Corte de Laços e Amor

Capítulo 1

Ámbar Rosalie Grey estava meio acordada, os olhos ainda meio entreabertos, o peito apertado, o coração batendo depressa. A sensação do beijo dele era tão real, mas ao mesmo tempo tão ilusória em sua boca que ela teve que se beliscar para ter a certeza de que não estava em mais uma de suas fantasias, e quando a resposta veio foi mais do que decepcionante para Ámbar, pois na realidade ela estava em uma fantasia e tal fantasia se foi assim que ela abriu os olhos por completo e sentiu a dor da própria pele sendo beliscada pelos próprios dedos. Um suspiro triste e sofrido saiu de sua boca.

Ámbar, mesmo reconhecendo que caíra em mais uma das artimanhas do próprio cérebro, não conseguiu segurar as próprias mãos quando estas escorregaram pelos lençóis à procura dele, à procura de seu corpo viril e másculo. Mas novamente foi uma tentativa frustrante, pois no fim ela notou que ele não estava ali, como sempre. Seus dedos nada tocaram além dos tecidos das cobertas macias feitas de algodão. Mais um suspiro triste sai de sua boca.

Ámbar constantemente era afligida por uma dor que lhe atingia a alma e o coração, uma dor causada por um passado que ainda era presente. Mas dez anos estavam entre o seu presente e as noites maravilhosas que teve deleitada com um macho que nunca conseguira esquecer, um lindo macho de olhos dourados e asas grandes e majestosas... um macho que fizera Ámbar nunca esquecer o que significa ser idolatrada e adorada... um macho que com apenas cinco noites fizera Ámbar nunca conseguir tirá-lo da cabeça... um macho que presenteara Ámbar com a maior preciosidade de toda Prythian...

Foram apenas algumas noites, mas tais noites foram mais do que suficientes para fazer Ámbar nunca conseguir olhar para macho nenhum com o mesmo olhar desejoso que ela lançava para Senhor Sombra, maneira pela qual ela gostava de se referir ao macho dono de seus pensamentos. Já ele a chamava de Olhos Cintilantes, só de lembrar de tal apelido saindo dos lábios daquele macho de lindos olhos de ouro fazia Ámbar fechar os próprios olhos e aproveitar a sensação de nostalgia que aquelas lembranças causavam.

Sem perceber, Ámbar já estava passando as mãos pelas grossas cobertas, parecendo sentir o mesmo calor que ele deixava quando se levantava... Não, ele não estava ali, ele nunca nem mesmo estivera ali, naquela cama.

Ámbar, aborrecida com o próprio drama e com a própria fraqueza, sentou-se na cama querendo despertar de vez do sonho que tivera. Os olhos azuis cintilantes brilhando de fúria. A fêmea então pegou o travesseiro e socou-o com o intuito de afofá-lo e jogar a raiva que sentia de si mesma em alguma coisa.

Ela dirigiu a atenção para a enorme janela e então soltou um suspiro frustrado ao perceber que ainda era madrugada.

— Olhos dourados idiotas... Já fazem dez anos, quando irão parar de me perturbar? — Resmungou ela voltando a deitar-se.

Já fazia mais de 1 ano que ela havia parado de sonhar com ele. Chegara até a pensar que já havia, finalmente, conseguido superar a perda, se é que aquilo que ela tinha sofrido pudesse ser chamado de perda. Quer dizer, Senhor Sombra não havia a abandonado e muito menos iria abandonar se Ámbar não tivesse decidido abandoná-lo primeiro.

É, ela havia cometido o maior erro da vida dela, porém Ámbar durante 1 mês inteiro, depois de já ter tomado a decisão, tentou se convencer de que ela havia feito o certo, mesmo com o seu cérebro dizendo que ela tinha errado, errado muito feio. Mas como a Mãe gosta de brincar com os seus protegidos, 1 mês depois de sua decisão, Ámbar descobriu que estava grávida.

Como ela iria lidar com aquilo? Como ela iria contar ao pai da criança? Como ela iria contar ao próprio pai que estava grávida? Como encontrar o pai da criança se nem ao menos sabia o nome do macho?

Eram tantas perguntas, eram tantos questionamentos sem respostas naquela época que Ámbar pensou em desistir de tudo, porém logo afastou tal ideia tosca, pois nada era mais importante do que a vida e ela tinha duas pra cuidar, ela agora tinha que pensar nela e no pequeno fruto que ela carregava.