Capítulo 8

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— Ele é o Mestre Espião do Grão-Senhor?

— Sim.

— Aquele mesmo macho que veio até aqui ontem?

— Sim.

— E ele é o pai da Ravenna?

— Sim.

E terminando de fazer as mesmas perguntas pela terceira vez seguida Alice Grey joga-se na cadeira de uma maneira nada delicada, algo que não era muito do seu feitio. Akin se pôs atrás da cadeira da fêmea e começou a massagear os ombros tensos da esposa, enquanto encarava a filha com um semblante sério.

Ámbar estava sentada no sofá com os cotovelos nos joelhos e as mãos no rosto, mostrando o quanto estava aflita com a situação. Nunca havia pensado que ele reapareceria depois de tantos anos.

— Ele já sabe, não é? — Perguntou Akin, de repente.

— Sim.

— Ámbar, pare de responder as perguntas apenas com um simples "sim"! Seja mais explicativa! — Esbravejou Alice.

— Pelo Caldeirão, mamãe! A senhora quer que eu diga mais o quê?! — Indagou Ámbar levantando a cabeça apenas para encarar Alice, o tom de voz aumentado apenas o suficiente para a Alice notar o desespero da filha.

Ámbar logo depois de notar que havia levantado o tom de voz abaixou a cabeça e a enterrou nas mãos.

— Desculpe, não queria gritar. É só que... Pela Mãe, em que momento cheguei a esse ponto? — Ámbar fala seu desespero transparecendo em cada palavra que escapava de sua boca.

A cabeça de Ámbar estava uma bagunça, tanto que ela não conseguia saber qual era a sua principal preocupação. Se era Ravenna, se era Azriel ou se era tudo que Azriel trazia consigo.

Ámbar evitava pensar na noite anterior, ela queria preservar a minúscula partícula de sanidade que ainda lhe restava. Ela sabia que aquele macho ainda seria sua ruína, mesmo que tivesse se passado 1000 anos distante dele. Afinal, mesmo depois de anos Azriel nunca saiu de seus pensamentos, nunca saiu de seu coração por completo.

Ámbar nunca fora daqueles tipos de fêmeas que acreditam em amor à primeira vista, assim como a maioria das fêmeas que eram da alta aristocracia da Cidade Escavada, elas sim gostavam de sonhar com tal possibilidade, mesmo sabendo que estavam fadadas ao casamento arranjado. Ámbar sabia que seu pai nunca a submeteria a tal crueldade, mas ainda assim ela temia amar e então sofrer com isso.

Era um medo bobo considerando o casamento perfeito dos pais, mas não era um medo sem sentido considerando a sociedade em que vivia.

E mesmo assim o amor a encontrou...

— Ámbar, meu amor, não fique assim... — Disse Alice ajoelhando-se na frente da filha e começando a acariciar-lhe os cabelos. — Converse com ele, jogue as cartas na mesa. Resolva os conflitos que ficaram entre vocês dois, entrem em um acordo. Mas ficar assim, em estado de desespero, não vai adiantar de nada, apenas vai piorar.

— Sua mãe tem razão, querida. Tudo tem uma solução, eu entendo que seja uma situação complicada, mas ela ainda assim tem uma solução. — Disse Akin, sorrindo singelamente.

Seus pais tinham razão, eles sempre tinham razão, pelo menos era naquilo que Ámbar queria se agarrar.

Mas ainda assim Ámbar temia o que estava por vir. Pois assim como um navio à beira mar no meio de uma tempestade, Ámbar fora completamente abatida pelos próprios segredos, e aquele naufrágio estava longe de ser salvo.

E Ámbar apenas confirmou que a tempestade que afligia seu navio estava longe de ir embora assim que a governanta entrou na sala e anunciou a chegada do Mestre Espião.

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