Capítulo 6

429 57 3
                                    


Ámbar observava, de longe, a filha brincar. A pequena menina corria de um lado a outro enquanto a cobra de estimação corria atrás dela. Ravenna corria e corria, mas quando a cobra estava a quase lhe agarrar o calcanhar ela levantava voo fazendo Bree soltar sons estranhos, expressando a frustração que sentia por a sua dona estar trapaceando na brincadeira.

— Ravenna, meu ouro, pare de trapacear! Breana irá se irritar dessa forma e abandonar a brincadeira! — Exclamou Ámbar enquanto observava a filha rir, enquanto via a cobra tentar pegar o pé dela com a cauda.

— Está bem! Mamãe, posso correr um pouquinho mais longe, então? Prometo ficar dentro dos arredores!

— Pode sim, mas assim que eu lhe chamar, venha correndo de volta! Breana, cuide de Ravenna.

A cobra acenou com a cabeça confirmando que atenderia o pedido da fêmea mais velha.

— Bree, vem! Prometo não voar!

Ámbar esperou até que a filha sumisse do seu campo de visão para finalmente se encostar em uma das árvores que sempre rodearam os arredores da mansão. Como Ravenna estava com Bree, que mesmo sendo uma cobra era muito mais racional que sua filha, que é uma grã-feérica, Ámbar escolheu se instalar e relaxar ali e então voltar a ler o romance que havia começado pela manhã, não via necessidade de ir até mais perto da filha. Havia lido apenas um capítulo quando ouviu passos vindos da casa. De alguma forma, conseguiu não olhar até que uma sombra pairou sobre ela.

— Acredito que me deve algumas explicações... — Falou uma voz masculina. A voz masculina que ela menos queria escutar naquele instante.

— Para lhe dar explicações, acredito que primeiro você tenha que fazer perguntas. — Falou Ámbar fechando o livro e levantando o olhar para a figura alta e hipnotizante que era o Mestre Espião.

— Perguntas? — Ecoou ele. — Você realmente acha que eu deva fazer mais perguntas do que aquela que fiz lá dentro? A sua resposta falou muito mais do que mil perguntas! Imagino que eu não necessite falar mais do que isso para fazer você entender o rumo que essa conversa irá tomar!

Ámbar suspirou, seu interior estava conturbado, ela não sabia por onde começar, ela não nem ao menos sabia que caminho tomar a partir daquele momento. E saber que a única culpada por aquilo tudo era ela não a ajudava a ficar tranquila. Ela gostaria, ah como ela gostaria, de culpar o Encantador de Sombras ou qualquer outro alguém desde que ela tivesse alguém a quem culpar, Ámbar queria algo que a fizesse se sentir menos pressionada pelo peso da culpa, mas ela não era daquele jeito, ela não era mulher de fugir dos próprios erros. 

Olhando nos olhos do homem que antes era o motivo de todo o seu distúrbio mental, Ámbar percebeu o quanto errara ao abandoná-lo naquela época, que antes era coisa do passado, mas que acabara de se tornar um presente perverso.

Ficando de pé e usando de todo o autocontrole para não virar o rosto, Ámbar ficou frente a frente com o seu ex-amante.

— Vamos, comece. —  Falou o macho, quase ordenando.

— Não há palavras que justifiquem os meus atos... — Começou ela. — Mas ainda assim... Eu quero pelo menos tentar explicar.

— Você ao menos ia me contar? Na verdade... você ao menos tentou me contar?

— Eu tentei! Juro que tentei! Procurei por você, mandei os contatos de meu pai atrás de você! E depois tentei lhe enviar uma mensagem, mas você ignorou, Mestre Espião!

Ámbar piscou para afastar as lágrimas de pura raiva que invadiam os seus olhos. E então fixou o olhar no rosto de Azriel e cambaleou para trás. Os olhos dele estavam em chamas, ardendo de raiva e, sim, de uma mágoa que ela mal conseguia compreender.

Corte de Laços e  AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora