Azriel assim que ficou de frente a porta do quarto sentiu-se em paz e aliviado por apenas estar ali. Sem nem ao menos precisar abrir a porta ele sabia que ela estava ali, conseguia sentir seu cheiro adocicado e ainda conseguia ouvir sua voz baixa cantarolando uma melodia baixa. Ele não precisava abrir a porta para saber que ela estava sentada na poltrona do quarto com um livro aberto em suas mãos, para ter a certeza de que mesmo cantarolando uma melodia de uma música difícil sua atenção estava voltada apenas para o livro em sua frente.
Ele não precisava saber prever o futuro para saber que assim que abrisse aquela porta e entrasse no quarto seria recebido com um lindo e sincero sorriso, logo depois por um abraço forte, porém gentil e logo depois por um curto e carinhoso beijo nos lábios.
Todas aquelas certezas sobre ela, tudo que sabia sobre ela assustava-o profundamente. Era assustador a intensidade que vivia cada momento junto a ela. Era assustador o quanto ansiava estar com ela. Era assustador a paz que sentia quando estava com ela e apenas com ela.
Abrindo a porta e entrando no pequeno, porém aconchegante, quarto. Azriel não precisou andar muitos passos para a ver exatamente como previra que a veria. Ali estava ela, com os olhos azuis cintilantes vidrados no livro aberto em suas mãos, com os cabelos pretos amarrados em um coque frouxo, mas não bagunçado ou desleixado. Ela estava sentada na poltrona, com as pernas cruzadas, vestindo uma camisola branca que ia até os joelhos.
E exatamente como havia previsto, pouco tempo depois dele entrar no quarto ela desviou a atenção do livro para ele e abriu um largo sorriso que apenas ela sabia como abrir. Olhos Cintilantes, forma como Azriel a chamava, foi até ele e o abraçou carinhosamente, para logo depois beijá-lo rapidamente.
— Chegou cedo hoje, Mestre Sombra. — Falou ela, dizendo seu apelido zombeteiramente como sempre fazia quando o pronunciava.
Ela começou a chamá-lo por achar interessante a forma como ele controlava as sombras, porém sempre dizia o apelido zombeteiramente para não inflar o ego de Azriel.
— Terminei as coisas mais cedo que o normal. Esperou muito?
A morena sorriu e negou com a cabeça. Ela ainda estava de frente para ele penteando seus cabelos para trás, um carinho que Azriel amava quando ela fazia, pois conseguia sentir-se acolhido de uma forma inexplicável.
— Pedi comida faz pouco tempo, venha comer comigo — Convidou ela puxando-o pela mão. — E quem sabe falarmos sobre o que está fazendo esses lindos olhos dourados estarem tão cabisbaixos...— Disse ela, fazendo Azriel sorrir minimamente, não era apenas ele que estava se entregando afinal.
— É apenas trabalho. Nada que realmente importe... — Afirmou ele indo até a mesa e acomodando-se para a refeição.
A fêmea havia pedido algo simples, apenas sopa, pão e chá. Porém ele não podia negar que o cheiro estava mais que agradável.
— Seu trabalho parece sempre estressá-lo... — Disse ela servindo-se de um pouco de sopa.
— Nada que seja anormal. — Concluiu ele. — O seu sempre parece animá-la, por outro lado.
A fêmea soltou uma baixa risada. Era sempre assim, ela sempre estava com um ótimo humor, ela sempre conseguia trazer a melhor atmosfera para as piores conversas.
— Eu gosto do que faço! — Afirmou ela, ainda sorrindo. — Mesmo em dias estressantes... gosto de lembrar que amo o que faço!
Azriel percebeu a sinceridade em cada palavra dita por ela, os olhos azuis cintilantes brilhando mais que o normal. Seja lá qual fosse a profissão a fêmea já havia se entregado de corpo e alma.
— O que estava lendo? — Perguntou Azriel, querendo mudar de assunto.
Se havia percebido ou não que era proposital a mudança repentina de assunto, a morena não deixou transparecer. Ela apenas juntou as sobrancelhas e depois ofereceu para ele um sorriso pequeno, mas agradável.
— É um livro mundano para ser sincera, Romeu e Julieta, um romance. — Respondeu dando de ombros. — É interessante analisar, porém é uma história muito... dramática.
— E você não gosta de drama? — Perguntou ele.
— De dramático já basta a vida. — Respondeu ela com diversão.
Ele a olhou com profundidade, e para somar mais uma pequena complicação — porém uma complicação satisfatória — em sua vida, olhou-a com sentimento.
— De dramática já basta a vida. — Concordou ele, fazendo a fêmea encará-lo com diversão.
Era bom, ao mesmo tempo que nostálgico e doloroso, lembrar de momentos como aquele. Azriel evitava lembrar daquilo, contudo, sua mente, como a ótima trapaceira que era, gostava de fazê-lo recordar de certas cenas com detalhes que para ele eram inúteis. Via-se atormentado por isso desde que a reencontrou, chegava a ser torturante ter memórias como aquelas armazenadas em sua mente.
Fazia cinco dias que os Grey 's haviam chegado a Velaris e fazia cinco dias que Azriel pouco se preocupou em colocar os pés nas ruas da cidade. O motivo? Nem ele próprio queria admitir que existia um motivo para aquilo.
— Acordado a essa hora de novo? — Questionou Cassian, assim que viu o irmão sentado escorado numa das pilastras da arena de treinamento.
— Insônia. — Foi a única coisa que Azriel disse, conseguindo trazer preocupação para o rosto, antes tranquilo, do irmão.
Já era a terceira noite que Cassian encontrava Azriel na arena de treinamento antes do sol nascer, geralmente, ele encontrava-o socando alguma coisa. Porém naquele momento seu estado era um pouco mais deprimente.
— Uma hora vocês dois terão que conversar. — Falou Cassian, não precisava ler mentes para saber o que estava tirando o sono de Azriel. — Vocês três, na verdade, aquela pequena pestinha também tem que estar inclusa. — Completou ele, antes de sentar-se ao lado de Azriel, que aparentava estar com um humor pior que o habitual, notara Cassian.
— Não a chame de pestinha, comparado a você quando criança, Ravenna consegue ser um anjo. — Replicou Azriel, em um resmungo baixo.
— Você apenas diz isso por ela ser a filha que você descobriu ter a apenas alguns dias. — Disse Cassian, porém logo se arrependeu das palavras que deixou escapar. — Desculpe, irmão, foi insensível da minha parte dizer isso dessa forma.
Azriel soltou um suspiro e fez um gesto com a mão indicando que aquilo não significou nada.
— Você não mentiu de qualquer forma.
Cassian também suspirou, um suspiro de desânimo. A situação em que Azriel estava cada dia mais cansativa de se vivenciar e a forma como o Mestre Espião lidava com aquilo também não era muito animadora.
— Você deveria falar com elas. — Falou Cassian mais uma vez.
— Falar o que? — Questionou Azriel, um pouco irritado pelo repetitivo conselho que vinha recebendo. — Ámbar não se mostra muito convidativa para se ter um diálogo civilizado.
— E desde quando você se importa com isso?! — Exclamou Cassian, cansado de ver aquela situação que estava chegando a ser ridícula. — Azriel, você tanto quanto ela estão se evitando. Faz exatos 5 dias que ela está em Velaris e você nem ao menos deu as caras na Casa da Cidade ou até mesmo pisou os pés na rua! — Desabafou ele. — Se ela está fugindo, você não está fazendo diferente!
Azriel passou a mão no rosto e nos cabelos, merecia ouvir cada palavra, mas isso não significava que estava disposto a ouvir.
— Cassian, entendo que você apenas quer ajudar, e que eu estou sendo.um verdadeiro covarde nesta situação, mas você poderia parar de falar sobre esse assunto?
— Não pode fugir. Você sabe disso.
— Sim, eu sei. — Falou Azriel e então olhou para as cicatrizes em suas mãos. — Nunca adianta fugir, de qualquer forma, especialmente dela.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Corte de Laços e Amor
FanfictionÁmbar quer fugir do Mestre Espião, quer tentar negar tudo aquilo que sente! Mas como ela conseguiria resistir ao belo Encantador de Sombras? Como resistiria aqueles beijos? E como ela resistiria aos próprios sentimentos, que já haviam se mostrado t...