Capítulo 1

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As risadas altas vindas do jardim podiam ser ouvidas por toda a casa. Mesmo em seu quarto, Luísa podia ouvir seu filho Dominique e os amigos conversando e gargalhando. O barulho que poderia incomodar outras pessoas fazia Luísa vibrar de alegria. Era sinal de que seu filho estava em casa, protegido e feliz.

Talvez fosse o resultado de ser mãe aos vinte anos. Dominique tinha dezesseis anos e estava no auge da adolescência, e Luísa ainda considerava-se jovem. Ao menos era o que tentava se convencer todos os dias. Mas compreendia seu filho, conversava com ele de igual para igual, e é claro, era a grande mãe entre os amigos de Dom.

Estava acostumada a ter sempre um "sobrinho" pela casa. Dominique era um jovem sociável, e a liberdade que tinha em casa fazia com que seus amigos se sentissem confortáveis de estar lá. Luísa era a mãe legal, que conversava sobre qualquer assunto, aconselhava sem dar bronca. Não era incomum que fosse chamada ao resgate em alguma encrenca maior.

O ex-marido, Eugênio, adorava incomodá-la por isso. Achava que Dominique tinha liberdade demais, mas ela não concordava. Seu filho era responsável, centrado, mas ainda assim um adolescente. Cometia erros da juventude que ela mesma cometera, e a grande maioria das vezes tudo se resolvia com uma longa conversa.

Além disso, estava acostumada a ser uma mãe solo. Eugênio estava na França desde o divórcio deles, quando Dominique tinha cinco anos. Visitava o filho uma vez por ano, e Dominique viajava para encontrar o pai nas férias escolares. Era a rotina deles e Luísa achava que era justamente sua forma de conversar com Dom desde pequeno que fazia com que seu filho não fosse um adolescente rebelde por não ter o pai fisicamente perto.

A medida que foi crescendo Dominique também entendia que tinha uma mãe jovem demais para se privar da vida, e por isso era o maior incentivador de Luísa. Seu último relacionamento sério havia sido há quatro anos, e desde então nada mais do que casos rápidos (rápidos demais para que Dominique ficasse sabendo, é claro).

Mas Luísa estava cansada de relacionamentos passageiros, de homens desinteressantes que só a viam pela beleza. Homens que entravam em conflito mental assim que ela informava que tinha um filho adolescente. Imaturos e incapazes de um relacionamento com profundidade emocional.

E era esse o motivo dela estar em casa numa sexta-feira a noite, ouvindo o filho e os amigos dele, e não no bar que Pilar havia insistido que fossem. Luísa só queria uma noite tranquila, uma boa leitura, uma taça de vinho. Estava merecendo após uma semana cansativa no trabalho.

Luísa ouviu uma batida na porta e o rosto de Dominique apareceu no vão.

- Mãe, a lasanha tá pronta. – ele disse com um sorriso. – Você quer?

- Não, meu amor. – ela sorriu. – Vai aproveitar seus amigos.

- Dona Luísa, foram os meus amigos que insistiram pra te chamar. – o jovem jogou-se na cama da mãe. – Tenho certeza que a maioria deles gosta mais de você do que de mim.

- E isso é ciúme dos seus amigos ou da sua mãe?

- Da minha mãe. – ele respondeu rindo. – Vem, vamos jantar.

- Eu não estou com fome. – Luísa respondeu. – Mas vou buscar uma tacinha de vinho e dar oi para o pessoal.

- Então vamos. Esse bando de esfomeados vai acabar com tudo.

Desceram as escadas abraçados e Luísa viu os rostos habituais. Foi recebida por um "oi, tia" coletivo, e sempre se sentia feliz ao ver que os amigos do filho se sentiam confortáveis em sua presença. Negou a lasanha, que surpreendentemente parecia apresentável para um prato preparado por adolescentes e serviu-se de um pouco de vinho branco.

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