Capítulo 9

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Dominique era, na maior parte do tempo, um adolescente bastante razoável. Luísa fazia questão de explicar ao filho, desde pequeno, o motivo de qualquer coisa que ele precisasse ou não pudesse fazer. A relação deles era pacífica e amorosa quase que na totalidade do tempo, mas Dominique ainda era um adolescente e Luísa ainda era sua mãe.

Era raro que suas discussões virassem brigas de verdade. Muito raro, aliás. Mas aquele era um desses momentos. E por um motivo que Luísa julgava completamente irrelevante, mas Dominique não. Por isso há dois dias eles não conversavam direito, e qualquer tentativa de Luísa era respondida por um resmungo.

Tudo havia começado após Pedro e as meninas irem embora da casa deles. Passaram um final de tarde de mãe e filho e Dominique escolheu um filme de terror, para o desespero de Luísa. E, no meio do filme, seu filho informou que não pretendia ir para a França nas férias.

Seus argumentos eram todos válidos, afinal ele era um adolescente e todos os seus amigos tinham planos interessantes em conjunto. Viagens para o sítio de um, para a casa de praia de outro, um filme novo que iria estrear. Era perfeitamente aceitável que Dominique preferisse os amigos à uma viagem com o pai.

Viajar para outro país, onde não conhecia ninguém de sua idade, era divertido apenas quando não se tratava de rotina. E aquela era a rotina de Dominique desde pequeno. Não era uma aventura emocionante e Luísa compreendia em totalidade que seu filho quisesse outros planos.

Mas, como a parte menos interessada naquele arranjo, Luísa fez a única coisa que lhe cabia: sugeriu que Dominique conversasse com Eugênio. E esse foi o estopim de uma crise de irritação no filho, que, apesar de tudo, ainda podia culpar seus hormônios pelas mudanças de humor.

Algo que Luísa não se orgulhava era seu temperamento durante discussões. Era uma pessoa observadora e intuitiva, e sabia atingir o ponto fraco de seu oponente, assim como seu pai sabia. Havia aprendido a domar esse impulso com o decorrer dos anos, mas Dominique, que era filho de Luísa e neto de Domingos, ainda não conseguia controlar essa característica familiar.

E, por isso, sua crise escalonou rapidamente para diversas acusações, a maioria delas infundada. Mas, há sempre alguma culpa carregada no fundo da alma, e a de Luísa era a de ter se divorciado de Eugênio e decidido viver com Dom no Brasil. E foi justamente sobre sua culpa por ter um pai distante e ser obrigado a se dividir entre países que Luísa ouviu Dominique discursar.

Ela não se arrependia, e sabia que Dominique não se incomodava com aquilo na maior parte do tempo. Mas era dolorido ouvir seu filho reclamar sobre não ter uma vida normal por culpa dela, sobre ser obrigado a escolher entre os amigos e o pai, quando, segundo ele, tudo era muito mais fácil para ela, que só fazia o que queria.

Dominique era o maior amor de Luísa e a pessoa por quem se dedicava inteiramente. Nada do que fizesse era sem pensar nas consequências para ele, e Luísa sabia muito bem todas as oportunidades que deixou passar por não serem a melhor escolha para o filho. Mas, como não era seu objetivo culpa-lo por nada, Luísa apenas se calou.

Seu silêncio desafiou um adolescente que queria uma discussão, o que apenas piorou os ânimos de Dominique até que suas palavras se tornaram adagas. Luísa encerrou a discussão com um "Chega" e, desde então, mal se falavam. Dominique ainda estava enfurecido e Luísa ainda estava magoada.

Era talvez aquele o maior problema de cuidar sozinha de um filho. Eugênio não tinha a intimidade ou a presença sequer para conversar com Dominique sobre problemas rotineiros. Naquele caso, além disso, sua interferência apenas pioraria a situação. Domingos poderia ser uma opinião, mas Luísa evitava levar seus problemas para o pai.

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