Capítulo 3

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Luísa ouvia o tom monótono de uma professora que ela tinha quase certeza que era a de matemática. Ou talvez fosse a de física. Era certamente alguma professora de exatas que discursava sobre a falta de comprometimento dos adolescentes da classe. Nada novo no conceito das reuniões escolares, mas a cada ano que passava elas pareciam ficar menos proveitosas.

Mas como uma boa mãe solo, Luísa estava ali, como esteve nas últimas dezenas de reuniões de pais e mestres. Quando Dominique era menor e sua vontade própria se resumia a decidir qual desenho gostaria de assistir, Luísa entendia que aqueles encontros serviam para que os pais entendessem o que realmente acontecia com seus filhos. Agora era só uma desculpa. Certamente responsáveis pelos alunos problemáticos não estavam ali.

Ela tentava prestar atenção, mas seus olhos eram constantemente desviados para o celular. Tinha seu trabalho, seu pai mandando notícias sobre política, Dominique querendo saber do jantar, Pilar perguntando sobre o final de semana. E Luísa só prestou atenção na figura que ocupou a cadeira ao lado da dela quando ele se aproximou e disse em voz baixa.

- Quantos anos de vida você já perdeu? – a voz de Pedro fez ela sobressaltar.

- Uns cinco. – Luísa respondeu, escondendo uma risada.

- Qual é o assunto?

- Eu não faço ideia há pelo menos dez minutos. – ela sussurrou, fazendo os dois rirem.

Luísa não se recordava de ver Pedro em alguma reunião dos últimos dois anos. Tinha quase certeza que era esse o período em que Isabel e Dominique dividiam a turma. Dina era mais jovem que os dois, portanto de outra classe. Mas certamente era a primeira vez que Pedro estava ali.

Ela tinha quase certeza, ao menos. Imaginava que perceberia um homem como ele na reunião de pais. Pedro não era exatamente um homem que não chamaria sua atenção em qualquer cômodo. Era um homem interessante, bonito, charmoso, e bastante cheiroso. Ele teria arrancado um ou outro olhar dela em qualquer lugar do mundo.

É bem verdade que talvez parte do charme fosse saber que ele era um homem solteiro. Provavelmente o acharia interessante mesmo com uma aliança no dedo, mas duvidava que fosse fazer uma cena o observando mesmo se o visse em outra reunião. Então poderia não ser a primeira vez que Pedro estava entre eles.

- Esse cara é um imbecil. – ele sussurrou novamente, fazendo Luísa prestar atenção no homem que agora falava.

Não se surpreendeu ao ver o professor de história. Cristian? Cristiano? Sabia que era um francês com sotaque carregado e que implicava com Dominique. A origem da implicância tinha alguma relação com Dom se recusar a dar respostas em francês para o professor.

- Quando vejo esse babaca falando eu penso na quantidade de dinheiro que coloco nessa escola. – Pedro resmungou novamente.

- Ele detesta o Dom. – Luísa fofocou. – Tenta falar com ele em francês e Dominique não responde.

- Verdade?

- As notas de Dom em história são terríveis. – ela suspirou. – Vou contratar um professor particular no próximo bimestre.

- Não precisa contratar ninguém. – Pedro falou um pouco mais alto, fazendo algumas cabeças virarem em sua direção. – Eu faço questão de fazer Dominique tirar nota máxima na prova desse imbecil.

- Seria ótimo, obrigada. – Luísa o encarou de canto de olho. – Mas por que eu sinto que tem uma história deliciosa sobre esse ódio todo?

- Porque tem. – ele sorriu, encostando-se mais na cadeira e cruzando os braços.

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