There You Are

Capítulo 11

Domingos gostava da vida no campo. Quando finalmente se deu ao luxo de parar de trabalhar, comprou um sítio próximo da cidade. Dominique achava um exagero chamar de sítio, mas Domingos tinha um belo jardim, podia cuidar de suas plantas e abrigar mais de doze cães que ele adotava em abrigos ou apareciam por lá e eram acolhidos.

Luísa fazia questão de semanalmente dirigir até a casa do pai para uma refeição em família. Além de passar tempo com Domingos, era também uma forma de desligar um pouco de toda a rotina de trabalho, dos problemas e de qualquer coisa que ocupasse sua mente. Depois do almoço sempre sentava em um sofá no alpendre ao lado do pai, enquanto Dominique ou dormia ou ficava no celular.

Gostava de ouvir os passarinhos e o vento. Em dias como aquele podia observar os pingos de chuva e sentir o cheiro da grama molhada. Eram momentos de paz, de conexão consigo mesma e com seu pai. Luísa e Domingos tinham uma ligação especial e profunda desde a infância dela. Era como se pudessem sentir quando o outro estava triste ou com algum problema.

- Você está anormalmente quieta hoje. – Domingos disse, observando a chuva.

- Estou? – Luísa sorriu para si mesma. – É impressão sua.

- Nunca é impressão minha. – ele sorriu. – O que é que está incomodando?

- Nada. – ela suspirou. – Nada incomodando, na realidade.

- Mas algo está te fazendo pensar.

Luísa refletiu. Sim, algo estava em sua cabeça. Mais precisamente, algo estava em seu coração. Uma constatação assustadora.

- Eu estou apaixonada. – ela disse em voz alta, tornando real seu pensamento.

- Esse é um assunto novo e interessante. – Domingos pegou a mão de Luísa.

- Não sei como isso foi acontecer. – ela sorriu. – Acho que eu deveria me preocupar com a rapidez desse sentimento.

- Você não é impulsiva com seus sentimentos. – Domingos refletiu. – Deve ser alguém importante.

- Ele é. – suspirou. – Ele se chama Pedro e tem duas filhas, que são amigas do Dom.

- E essa falta de empolgação tem algum motivo?

- Pai, você sabe até mais do que deveria sobre a minha vida amorosa. – Luísa resmungou. – Faz algum tempo desde que me apaixonei pela última vez.

- Sim... – Domingos sorriu. – Já era hora, se me permite a observação.

- Mas Pedro... bem, ele acabou de se separar.

Domingos ficou em silêncio, mas desviou o olhar para a filha.

- Vinte anos de casamento e meses de separação. – Luísa suspirou. – Ele é ótimo, de verdade. Mas num momento complicado.

- A vida é sempre complicada, Luísa.

- Eu fui a primeira pessoa a aparecer na vida dele depois da ex. – refletiu.

- E isso não é bom?

- Tem sido bom. Mas eu não acho que vai durar, então é um problema estar me apaixonando por ele.

- Por que não duraria, Luísa?

- Pai, você as vezes parece um psicólogo. – Luísa riu. – Porque eu lembro como foi a vida depois da separação. A vontade de conhecer outras pessoas, de viver a liberdade, de fazer as coisas que tinha me privado. E nem de longe foram os vinte anos dele.

- Você não é o tipo de pessoa que desiste por um motivo tão teórico.

- Eu não vou. – ela deitou com a cabeça no ombro do pai. – Mas existe uma chance de eu precisar de um pote de sorvete e do colo do meu pai em breve.