Capítulo 4

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Pedro sempre se sentia desconfortável ao visitar a casa dos pais. Era uma mansão em um condomínio de luxo com vizinhos bastante questionáveis, e só o valor da porta de entrada alimentaria uma família por anos. A decoração era uma mistura de objetos de ostentação do pai com artigos completamente inúteis escolhidos pela mãe.

E não estava falando de objetos de arte. Antes seus pais gastassem fortunas com pinturas ou esculturas. Tudo o que compravam era caro e brega. Por mais que os amasse, tinham um estilo de vida que Pedro nunca se identificou ou quis para si. Não era um hipócrita de achar que dinheiro não era importante, apenas não gostava de gastar tanto com inutilidades.

Mas, mesmo com todos os conflitos que poderiam existir por pensarem tão diferente, Pedro sempre se orgulhou da família que tinha e fez questão de manter uma excelente convivência. O que incluía almoços ocasionais com os pais, que as vezes contavam com a presença de Francisca, a única irmã de Pedro que morava no Rio de Janeiro.

Suas filhas estavam presentes naquele dia, o que sempre gerava um excelente entretenimento. Francisca, assim como Leopoldina, odiava seu nome. As duas inventavam apelidos e implicavam com a responsável por aquelas escolhas. Costumavam dizer que talvez Leopoldina, a mãe de Pedro, odiasse tanto o próprio nome que fez questão de batizar outras pessoas com nomes duvidosos.

- São nomes belíssimos. – a senhora disse, bebericando lentamente um caríssimo vinho. – E se não fosse por uma imposição eu jamais as chamaria por apelidos.

- Chicá não é mais um apelido, mamãe. Batizar minha marca de roupas assim fez com que eu ganhasse o direito de mentir que é meu nome de verdade.

- Eu posso fazer o mesmo... – Dina sorriu.

- Dina, querida, você teve mais sorte do que eu. O seu nome ao menos tem um apelido que disfarça seu próprio nome. – Chicá lamentou. – Bom mesmo deve ser para Pedro.

- O que eu tenho a ver com isso? – Pedro se defendeu.

- Você aceitou que a vovó escolhesse o meu nome. – Dina protestou.

- E ganhou um nome normal. – Chicá concluiu. – Ainda não entendo como você e Teresa foram capazes.

- Eu não sei porque insistem nessa conversa. Leopoldina é um lindo nome. Eu o adoro. – Leopoldina disse, tranquila.

- Mas você é uma senhora. Eu tenho quinze anos, vó. – a adolescente resmungou.

- Nós achamos que você seria um menino, Dina. – Pedro explicou. – Não tínhamos planejado um nome, e a sua avó se aproveitou da nossa fragilidade.

- Que absurdo, meu filho.

- Por que eu não podia ter um nome normal, como Isabel tem?

- Eu to quietinha aqui, Dina. Você não precisa me envolver na história.

- É fácil falar com um nome normal.

- Vamos mudar de assunto. – Chicá falou, de repente. – Quero saber sobre a nova vida do meu irmão.

- Não é exatamente uma nova vida, Chicá. – Pedro riu. – Eu continuo trabalhando nos mesmos lugares, morando no mesmo bairro, tendo as mesmas filhas.

- Mas finalmente está livre daquela enjoada. – ela torceu o nariz. – Com todo o respeito, sobrinhas lindas.

- Nunca vou entender porque você e mamãe se odeiam. – Isabel disse, já acostumada as alfinetadas.

- Vocês já são grandinhas para entender que Pedro e Teresa não foram muito felizes. – ela deu de ombros. – Eu só antecipei esse fato em alguns anos.

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