Capítulo 2

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Pedro encarou desanimado todas as caixas que ainda permaneciam fechadas. Quando imaginou que teria tantas coisas? É claro que a maioria delas continha livros, outra parte era de novos móveis ou objetos, e uma minoria era de roupas ou outros objetivos pessoais. Ainda assim, sentia-se desanimado apenas em pensar que precisaria desfazer todas elas.

Por sorte agora tinha um lugar para chamar de seu, o que era muito diferente de morar no flat. Embora não pagasse nenhum aluguel no flat, já que era filho dos donos, Pedro odiava a sensação de depender de sua família. Não que odiasse seus pais, apenas não gostava da sensação de ostentar um dinheiro que não era oriundo de seu trabalho.

Sabia que escolher cursar História era uma grande decepção de seus pais. Mesmo que Pedro fosse Mestre, Doutor e inclusive autor de alguns livros, e que fosse um professor reconhecido em sua área, seus pais ainda achavam que sua carreira se resumia a dar aulas numa escola de ensino fundamental. Não poderia culpa-los, já que a mesma falta de interesse que eles tinham em entender, ele tinha em explicar.

Sua ex-esposa era também uma grande crítica à forma como Pedro encarava a vida. Era uma mulher que gostava de coisas caras e de um padrão de vida que Pedro não valorizava. Ele gostava de coisas simples, ou de pelo menos gastar com suas filhas, boa comida e bebida. Não com festas ou roupas.

Era esse o motivo de ter tão poucos pertences. Considerava inútil gastar com tantas peças de roupa. Dividia seu guarda-roupas em peças para o trabalho, quando tentava parecer apresentável, dois ternos que usava em todas as ocasiões formais e suas roupas casuais. As últimas já tinham visto dias melhores, mas a menos que estivessem furadas ele não se importava. Não havia mal nenhum em roupas um pouco desbotadas.

Era vaidoso apenas com sua barba, e ainda assim não por vaidade, mas porque considerava que parecia um louco quando deixava crescer sem controle. Seus cabelos não tinham a mesma atenção. Pedro gostava de sentir os fios quando passava as mãos pelos cabelos, e esse era um hábito que ele tinha para acalmar os nervos quando ficava ansioso.

Sua nova casa não era luxuosa. Era, na verdade, até grande demais para ele. Mas pretendia que as filhas fossem morar com ele, ou ao menos, que gostassem de visita-lo. Embora fosse menos espaçoso do que a casa que costumava morar, tinha certeza que a garantia de um pequeno quintal era o suficiente para encher os olhos das jovens.

Odiava o fato de precisar gastar tanto dinheiro para a mudança, mas foi também uma opção não debater móvel a móvel durante o divórcio. Deus sabia que Teresa debateria cada garfo se pudesse. Por isso comprou o mínimo para começar. Um sofá confortável, uma boa cama, uma cômoda, uma estante, e o suficiente para cozinhar.

É claro que não poderia convidar suas meninas para morarem com ele ainda, mas aos poucos começaria a ver aquela casa como lar. Não era tão distante de sua antiga casa, e suas filhas não iriam perder a rotina que tanto gostavam. Também não precisariam se afastar dos amigos apenas porque o pai delas não se mudaria para uma mansão.

Apesar das diferenças, também sabia que suas filhas não eram meninas fúteis ou cabeça de vento. Entendiam o valor do trabalho, do dinheiro, e embora gostassem de coisas caras como qualquer menina da idade delas, sabiam que havia muito mais na vida. E Pedro agradecia todos os dias por isso.

Pegou uma cerveja ainda quente da geladeira recém ligada e sorriu. Poderia organizar as caixas amanhã e aproveitar aquela noite. E iria dividir aquele momento com as filhas, mesmo sabendo que elas não poderiam visita-lo.

- Oi, pai! – suas duas sorridentes filhas apareceram na tela do celular.

- Olha onde eu to. – Pedro sorriu orgulhoso, girando com telefone acima da cabeça.

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