• Solitaire •

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" E quando seus olhos encontraram pela primeira vez os meus, senti um clique, como uma chave finalmente destravado depois de anos, um cadeado "
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Petrópolis amanheceu fria e cinzenta.
Parecia que seu dia estava igual minha mente.
Nublado. Embaçado.

Havia dormido pouco, e esse pouco havia sido de péssima qualidade. As vezes eu queria desligar minha mente. Não pensar tanto. Ser mais confiante em mim e nas minhas decisões. Mas era algo totalmente difícil quando você havia sido criado e ensinado desde cedo pra isso. Pensar. Calcular e só então agir. E principalmente, nunca, jamais pensar em você ou seus desejos em primeiro lugar.

Deus do céu!
Eu precisava parar com aquilo ou ia enlouquecer. Balanço a cabeça afastando tais coisas.

Café.
Eu precisava de uma bela dose de café.

Rumo em direção a sala, onde a essa hora eu com certeza acharia meu líquido desejado. A mesa estava posta e vazia, mas não ficou assim por muito tempo. O tempo que tenho de sentar, é o tempo que leva pra que minha irmã chegue. Com um sorriso de orelha a orelha e seus cabelos tão bem presos aparentemente úmidos.

- Ora! Bom dia dorminhoco! - Ela fala ao passar por mim e beijar meus cabelos. Chicá era a única que continuava fazendo isso comigo adulto. E quando suas mãos tocaram meus braços, mesmo com blusa de manga, percebi que ela estava gelada.

- Já acordei há algumas horas, mas achei que ainda estivessem todas na cama! - Falo dando um gole no café.

- Que nada! Fomos a missa na capela aqui da casa mesmo, e na volta Luísa e as meninas resolveram apreciar a neblina! Lá fora está totalmente branco e gelado! Eu como não tenho mais idade pra tal coisa, as larguei lá e entrei! Só quero um café bem quente, um livro e uma lareira! - Ela fala de servindo.

- Mais idade! Falou a velha! - retruco pra provoca-la.

- Velha é a senhora sua tia! Aquela que não é a minha! Porque jamais xingaria minha família.

- Você xingaria sim! Me xinga direto!

- Você merece direto! E pare de drama, não te xingo tanto assim! Maria da Glória sofre mais em minhas mãos.

- Queria saber de quem você herdou essa língua de chicote! - Falo a olhando.

- Vovó Carlota Joaquina! Com toda certeza! - Ela fala com um sorriso. - A língua, a aparência, o bom gosto, só não herdei a safadeza, essa aí ficou com João! - Ela finaliza.

João.
Lá estava ele em nosso meio de novo.

- Por falar em João, Luísa foi falar com você? - uma das outras características de Chicá, ela não enrolava. Ia direto ao assunto fosse ele qual fosse.

- Sim! - me limito a responder.

- E o que ela queria?

- Julguei pela pergunta que soubesse. - Falo a encarando.

- Não! Apenas sei que ela queria conversar com você, sei disso desde a França, e imaginei que ontem, sozinhos aqui tivesse sido a oportunidade perfeita pra ela. - Ela termina sem tirar os olhos de mim.

• Ma Fée • Onde histórias criam vida. Descubra agora