02

421 32 26
                                    

Aline acordou-se um pouco atordoada

Abriu os olhos lentamente, se adaptando a claridade do local. Estava no quarto do hospital - esse quarto que ela pode chamar de casa, pois não saiu mais dele depois que descobriu que tinha câncer, há mais ou menos 8 meses.

Seu braço estava estirado, e tinha uma agulha enfiada entre seu braço e ante braço. Que pelo o que ela já sabia, a agulha estava diretamente ligada a sua veia. Aline tenta se levantar sem fazer muito esforço, mas não teve muito sucesso. A quimioterapia estava a deixando fraca, não tem a mesma disposição, seu rosto está pálido, olheiras mais a mostra, lábios ressecados. Aline evita olhar no espelho. Não se conhece mais. Não sabe quem é mais Aline Mineiro , aquela mulher forte, que não deixava se abalar por nada. Que vivia feliz, independe da situação. Agora... agora Aline é frágil como vidro, pode se quebrar a qualquer momento. Aline é como uma granada, que pode explodir e deixar um grande estrago.

Neia, mãe de Aline, é uma das pessoas que Aline sabe o quão grande vai ser o estrago na vida dela, quando ela morrer. Porquê ela sabe que vai morrer. Não sabe quando, mas vai.

Em um instante de segundo, Aline sentiu uma vontade enorme de vomitar. Como já de costume, uma pequena vasilha preta estava ao seu lado. Virou-se para o lado, vomitando por breves segundos um líquido quase sem cor, que cheirava um pouco mal. Sentiu sua boca ficar com um gosto horrível, agradeceu aos céus por alguém ter deixado uma garrafinha de água ao seu lado. Ela tomou, deixando quase vazia.

Ao ver que Aline já estava acordada, Néia, que estava na porta conversando com o médico, andou até a filha, em passos rápidos e precisos.

- Oi, meu amor. Néia beijou a testa da filha - fazendo um carinho em seus cabelos. Como você se sente?

- Fraca. - Respondeu com sinceridade com a voz rouca. - Minha cabeça tá doendo um pouco, mas isso não tá me incomodando tanto.

- Tem algo te incomodando? A agulha tá doendo?

- O mesmo de sempre, mãe. Só um mal estar e os enjoos...

Aline sentiu mais uma vez a vontade de vomitar, pela segunda vez em menos de cinco minutos. Estava forte demais toda quimioterapia. Sua mãe a ajudou dessa vez, segurando seus cabelos e limpando sua boca logo em seguida.

Quer que eu deixe você descansar? Estarei ali o tempo todo.

- Não, fica aqui. Não gosto de ficar sozinha nesse quarto.

Néia assentiu, sentando-se ao lado de Aline na maca.

- Por que tô com a impressão que a senhora que me dizer alguma coisa? - Aline perguntou baixinho, olhando para Néia um pouco desconfiada.

Néia respirou fundo.

- Line, sei que você não pode se preocupar com nada, e por favor, não fique, mas o Léo veio aqui mais cedo, você estava dormindo, então mandei ele voltar depois.

Ao ouvir o nome "Léo", os olhos de Aline brilharam quase que instantaneamente. Sentiu sua garganta apertar, mas abriu um largo sorriso.

- Liga pra ele, mãe. Diz que eu já acordei.

- Tem certeza? - Aline balançou a cabeça positivamente. Mas Néia não aceitou de primeira. - Agora não, Aline. Quando acabar a quimio você faz o que quiser.

Aline não ousou contrariar sua mãe. Olhou para aliança dourada na sua mão direita. Ganhou há 2 anos atrás, talvez um dos dias mais feliz da vida de Aline.

***

São Paulo 08/04/2019 21:32

Aline voltou da cozinha vindo com uma Heineken em mãos. Quanto mais perto chegava, mais o som ficava mais e mais alto. Seu irmão mais velho, Rico, estava complementando mais um ano de vida e a família resolveu fazer uma festa surpresa. Nada escandaloso, nem chique demais, foi simples e muito significativo. Os convidados estavam espalhados pela área, uns bebendo, conversando,
dançando um pouco.

Da vida até a morte || DaylineOnde histórias criam vida. Descubra agora