Acordo unilateral

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Xangai, China | Dias atuais

Enquanto isso, ele titubeou, escorando-se na prateleira do antiquário, o interior do móvel, repleto das mercadorias mais diversas e exóticas. O ar ao derredor, exalava um cheiro ameno de bolor, incômodo e adaptável.

Cruzou os braços, olhando em desapontamento para cima.

Estava cansado de se frustrar, era desgastante!

O mundo se tornou grande e pequeno demais, desde o fatídico dia.

Rolou as órbitas, até descer ao comerciante detrás do balcão de atendimento.

— Tem o que, uns três meses que vendeu a selenita? — O homem bonito se aproximou deslizando os dedos sobre algumas garrafas de vidro, sentiu uma coceira na mão, para jogá-las no chão e se saciar pelo barulho estilhaçado.

— Mais ou menos isso. — o comerciante de meia idade suspirou desconfiado, os dois estrangeiros se entreolharam e o inevitável aconteceu. O de olhos azuis não evitou o descontrole de seus impulsos, agarrou a garrafa tacando-a com força no piso! — E-era um velho rico, coreano, não destrua meu estabelecimento, e-eu imploro.

O riso irônico e triste respondeu ao outro.

— Eu realmente odeio isso. — Praticamente cuspiu as palavras, a própria boca estava amarga, o gosto da resiliência forçada.

— Mas ele está dizendo a verdade, está hipnotizado.

— Isso é pior ainda... Coreia.. agora?

Por um momento, o vampiro até mesmo interrompeu os passos, subiu os dedos para os fios negros do cabelo liso, segurando-os e soltando-os com raiva.

— Temos a sorte de não ser tão longe daqui, podia ser pior. — Tentando ser otimista ele fez sinal ao outro, se aproximando do chinês, rolando as pupilas místicas ao mero humano — Anote num papel o nome desse cliente, e qualquer informação que você tenha.

O de olhos azuis pigarrou, chutou os cacos de vidro para longe, perto da porta. Ficou de costa para eles, apoiou seu peso no batente, as têmporas queimavam, sentimentos humanos difíceis de enterrar, por mais que ele quisesse esquecer.

— Damon?

— Hum? — O Salvatore respondeu, Enzo se aproximou dele com o papel em mãos, indicando que era hora de partirem, novamente.

As ruas locais eram tão lotadas, e ele ainda assim, se sentia o mais solitário de todos os homens.

De longe ouvia o sopro das flautas de bambu, em Xangai tudo acontecia, o comércio, a música, a culinária.

Damon estava sufocado.

O silêncio entre os dois perdurou por um trajeto tumultuoso. Enzo podia sentir nitidamente raiva e tristeza corroendo a mente do vampiro ao seu lado. O cenho franzido, a feição sisuda, o rosto contrito e emoldurando uma insatisfação gritante.

Era o pressuposto perfeito para tocar no assunto.

— Sinto muito por isso. — Enzo abaixou os olhos altivos, prestou as condolências, tendo como resposta, um olhar vazio nas orbes profundas.

— Não sente não — Damon respondeu facilmente, não precisava pensar muito. — você perdeu uma pessoa, eu perdi três!

A verdade tinha um peso enorme, um fardo, uma dor terrivelmente devastadora, a ponto dele lutar para esquecê-la todos os dias, só para não apelar ao refrigério mais sombrio de todos, desligar a humanidade, mais uma vez.

Salvatore ♦  Kim TaehyungOnde histórias criam vida. Descubra agora