Salvatore ♦ Kim Taehyung

Deixe a neve cair

O arquejo de seu brônquio era tudo o que Taehyung ouvia, um som pesaroso e alarmante! Uma onda de calor o cercava de modo estupendo abafando o ar em torno, dificultando sua própria respiração em alarde. Todas as vozes austeras se embolavam como ruídos arrastados ao pé do ouvido, sentiu os próprios batimentos acelerarem numa crescente incontável e depois cessaram, repentinamente, num único suspiro!

Os segundos se relentaram, enervado na adrenalina altíssima e sentindo o suor rolar por sua testa, o vampiro alavancou com os próprios pés, uma força descomunal, como um tiro de rifle, algo que até então ele não sabia que pudesse realizar.

— Saiam! Saiam da frente! — Gritou com a voz grave a plenos pulmões. Todos se afastaram! Ele mordeu o canto dos lábios e inspirou o ar, tragando-o com força, como se fosse o combustível para suas entranhas.

Então, num milésimo de segundo extremamente valioso, o calor incendiante que o cercava fora substituído pelo vento frio e o choque de temperatura do exterior do trem, os estilhaços da porta dupla caíram com ele na terra pisada, o seu corpo sendo arremessado por ele mesmo, e o metal revirado num único chute! Cortes rasos espalhados pela extensão de seu corpo, a textura dos cascalhos perfurando sua pele oliva, o formigamento de seus membros, tudo ele sentia de modo agravado, enquanto rolara para fora do vagão em movimento, a sua consciência ainda transitando entre um momento e outro.

Ouviu o sibilar de gritos no tablado, assustados pelo ato horripilante e que beirava o sobrenatural! Uma figura sombria havia quebrado uma porta de aço batido e o seu vidro, estilhaçando-a e rolando para fora.

A iluminação do tablado não refletia em seu rosto, ouviu pessoas ao longe correrem, a desorientação e apavoro tomou conta da maioria que começou a fugir, enquanto o Salvatore apenas sentia o zumbir do ouvido, assim como o sangue quente escorrendo de sua têmpora esquerda, próximo a pestana. Levantou-se após não muito custo, arfando profundamente, absorto, buscou o ar que se perdeu em seu pulmão, tentando revestir seu âmago e não perder o impulso.

O primeiro floco de neve bateu na sua maçã sombria, derretendo. Taehyung frisou as órbitas a frente, entre a correria e histeria, não conseguia ver mais ele.

O sentimento apoderou novamente o seu corpo. Como se o sangue voltasse a circular, ele cerrou os punhos e disparou em direção ao tablado! As lágrimas estavam secas em seu rosto, nem mesmo sentia a dor dos seus ferimentos, estava sendo guiado puramente por seu emocional enervado. Crispou os olhos assim que pisou na madeira velha, viu alguns correrem e um oficial de plantão acelerar em seu caminho, subitamente.

— Rapaz, melhor ficar paradinho aí.

— É melhor sair da minha frente! — Algumas veias saltadas ainda brotavam de seus olhos castanhos, Taehyung nem precisou se concentrar para hipnotizar, a sua sede por vê-lo gritava mais alto, sobressaia a tudo e a todos!

O oficial recuou uns passos e então ele caiu em si, viu os olhares das pessoas para ele, dos poucos corajosos ou covardes que se petrificaram na plataforma. Dentre eles, não muito longe, a figura distorcida do mais velho tremelicou, como as orbes lacrimejantes de Taehyung, que arderam ao deixar uma lágrima escapar novamente.

— D-Damon? — Os aproximadamente vinte metros que os separavam, foram o suficiente para fazê-lo avistar um rapaz sujo e fatigado, mas da qual possuía um olhar fito na sua pessoa. Sentiu uma pontada aguda no peito, um baque profundo que o fez titubear, passou o peso do corpo para a perna esquerda, girando o calcanhar na direção daquele rapaz.

Os olhos azuis, escancarados! Ele ouviu o barulho repentino e a gritaria tomar conta das pessoas, recuando assim ele e Enzo para a plataforma da ferroviária.