A garota da capa verde

201 26 161
                                    


Daegu | Coreia do Sul

A nevasca caia de maneira intensa, hostil, abrasadora e congelante na região. O topo das árvores era forrado pela alva da neve, a baixa temperatura resfriava o pulmão e as vias respiratórias da jovem desconhecida. Uma sensação de inexatidão e pavor. Ela ao menos sentia o seu próprio corpo, estava por completo adormecido pelo frio e extasiado pela pressa e o medo!

A floresta por onde percorria, deixava como sinal de alerta as suas pegadas apressadas, uma trilha de desespero e temor, a profunda pontada lhe atingia de modo tão forte a ponto de lhe causar tonturas e náuseas! Seria um jogo suicida, mas enquanto permanecesse segurando no item escondido, dentro da bolsa velha e desbotada, ela conseguiria percorrer todo o caminho ardiloso, sem antes expirar no meio das altas árvores congeladas.

O inverno na Coreia do Sul é mais severo do que aparenta, a neve é densa e o frio é capaz de tirar a vida dos desfavorecidos, algo que a mulher entende muito bem, até demais! Andava de maneira astuta e em completo alerta, rápida na medida do possível, sempre driblando as árvores e deixando uma trilha confusa pelo chão branco, assim como algumas poucas gotículas vermelhas, gotas de sangue que escapavam de seu ombro ferido, rumo a contaminar a neve perfeitamente alva, deixando como evidência um contraste significativo.

A capa verde que cobria da cabeça até seu corpo, tentava omitir a ferida de bala inutilmente. O pequeno furo na manta quente que a protegia da nevasca, agora entregava as suas verdadeiras condições.

Entretanto, enquanto estivesse segurando dentro da pequena bolsa, a dor do tiro não seria um impedimento para a sua eminente fuga!

A cada cinco segundos, a jovem bonita olhava para trás, alarmada e visivelmente preocupada! Podia ouvir se camuflando ao som do vento... vozes masculinas ecoando do horizonte, como um sussurro ameaçador e contínuo, que brotava do meio das árvores, em direção ao seu coração temeroso. O céu foi se tingindo de uma coloração azul escura, certamente o relógio marcava mais de seis horas da tarde. Se tentasse acender alguma chama, poderia ser encontrada de modo mais rápido, e caso permanecesse naquelas condições, morrer congelada também seria uma opção, havia se metido num jogo perigoso, pior do que imaginava a algumas semanas atrás! A mente trabalhava tão rápido quanto a respiração ofegante, os pés que não cessavam o alarde, as mãos estavam completamente frias, a fumaça branca cortava a boca da morena, dando lhe uma grande dificuldade para o simples ato de salivar. De longe, estava no auge de qualquer perigo pertinente e, por mais que não quisesse admitir, havia se tornado um alvo fácil!

Porém, se tinha uma coisa que ela sabia muito bem, era sobreviver! Mesmo com as vistas em queimação e ardência, a jovem coreana franziu o cenho, tendo a bela visão ofuscada de luzes e civilização. Algo que não via a cerca de um mês, a bolsa estava passada pelo ombro e uma mão segurava com firmeza na pedra, como se a sua vida dependesse disto. A outra tentava apertar o próprio ferimento afim de conter o sangramento. Mesmo assim, todo o seu corpo era preenchido pela dor do formigamento, ela estava tão perto! Certamente não poderia desistir, fraquejar ou vacilar.

Os bonitos lábios se encontravam rachados pelo frio, mesmo assim ela os comprimiu, pegou o resto de força que tinha para correr de vez, saindo por fim da maldita floresta devoradora.

Com a boca entreaberta ela correu, se concentrou no seu próprio extinto de sobrevivência e após alguns metros, percebeu construções em ruas desnivelares. Pessoas desconhecidas preencheram a sua visão ao adentrar o primeiro beco, viu alguns com tochas de fogo nas mãos, acendendo as candeias fixadas por ganchos nas paredes, iluminando o breu que se iniciava.

Com o rosto abaixado e tampado em partes pelo capuz verde escuro, ela apressou os passos fazendo pouco contato visual. Tinha certeza que ainda estava em Daegu, mas nunca tinha visto este vilarejo antes, o cenário era completamente novo, diferente de um certo outro, da qual foi o demarco que deixou a sua vida de ponta cabeça!

Salvatore ♦  Kim TaehyungOnde histórias criam vida. Descubra agora