Daniel 07

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- Porcaria! - eles pegaram amostras do meu sangue, médicos, cientistas, isso aqui parece uma comédia de jalecos brancos ou terror. Me obrigaram a tirar as roupas, estou nu, passei por vários tipos de exames, agora sou obrigado a usar roupas branca, calça, camisa, exceto calçados. Eu estou pronto para o que está prestes a acontecer, eu não sei o que, mas estou pronto. Como será que Sophia está? Talvez melhor que eu. Estou sozinho em um quarto branco, não tem nada aqui, nada. A única porta do lugar se abre, dou dois passos para trás - não posso acreditar!

Fico contra a parede do quarto, estou pasmo, completamente arrepiado como se uma corrente elétrica passa-se pelas pontas dos meus dedos.

- Olá amor.

Mary! Fiquei ali em silêncio, não é possível.

- Parece que o gato comeu a sua língua - ela sorri revirando os olhos, entediada - fala comigo...

Seus olhos combinam com tom loiro de seus cabelos, a pele branca e a pose de autoconfiança, ela está exatamente igual há meses antes de descobrir o câncer na medula óssea, por incrível que pareça, quando descobrimos sobre! O câncer já tinha chegado ao estágio quatro e ela nem percebeu, era tarde - você está morta!

- Eu pareço morta pra você? - ela se aproximou de mim, estendeu a mão, olhei para ela por breves segundos mantendo silêncio - é só tocar.

Devagar, ergo a mão até tocar os dedos da mão esquerda dela, pude sentir, ela está aqui, viva! Carne e osso. Abracei ela com força, senti sua pele quente e seu cheiro, meus olhos lacrimejam alegria e alívio, porém ela não retribui o abraço, ela me afasta com suas mãos suaves, seu olhar expressa tédio, ela suspira.

- Não sou mais a mesma pessoa Daniel!

- O que!?

Estou confuso, o que ela quer dizer? Desvio o olhar, mas logo resolvo encarar a situação. Mary está de jaleco branco, ela coloca as mãos nos bolsos do mesmo, andando de um lado para o outro.

- Você trabalha aqui?

- Sim, eu sou responsável por essa zona, todo esse pessoal que viu aqui, trabalham pra mim.

Estou mais perdido do que antes - a quanto tempo você trabalha aqui?

Ela me olha seriamente - você lembra? A ideia de vir embora da França foi minha - soa o seu sotaque francês - mas antes mesma da minha formatura eu já atuava como auxiliar do meu pai, ele fundou a ZV: a famosa zona vermelha, é claro a gente tem sócios, o governo tem envolvimento mas nem tanto.

- Porque não voltou pra casa, para mim? Eu sempre amei você.

- Amou? Olha eu acho bem difícil pelo que eu soube da sua nova namoradinha, como você a chama?

Suspirei pesadamente - Mary!

- Sophia! Ela é a minha predileta, avançamos muito com ela.

- Porque Mary? Porque desistiu da gente, porque tortura pessoas?

Ela me questiona só com o olhar penetrante - você acha que a gente tortura pessoas? Isso é ciência Daniel, você não entende - novamente soa o sotaque francês - em cada ponto da evolução humana alguém teve que sujar as mãos de sangue para que os "bonzinhos" levassem o crédito, eu faço o que muitos não tem coragem, eu busco evolução, evolução de verdade - ela desvia o olhar de mim - o sangue derramado aqui, cada morte, vai valer a pena, não existe futuro sem sacrifícios.

Eu não a conheço mas, Mary, tá tão diferente, eu juro que não sei como lidar com isso - e quanto a gente?

Ela riu voltando a me olhar, ela se aproxima de mim, acaricia minha nuca, sussurrando com seus lábios próximos dos meus, pude sentir a respiração dela, quente, se misturava a minha, ela me beija, sinto os doces lábios delas, macios, perfeitos, ela se afasta e me encara com aqueles olhos castanhos - Daniel! Não acredito que pensou que a gente seria um casal feliz, morando no finzinho de mundo, em uma cidadezinha qualquer, com filhos, envelhecer juntos, é muito clichê, fala sério! - Meus olhos quase saltaram ao ver Mary dizer tudo isso.

Obsessão Mortal - EM REVISÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora