Idiotice

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— Acho que  agora você  pode me falar o quê  rolou com a Regina George — Alya usou seu típico  tom brincalhão, mas era visível  a preocupação no seu olhar.

— Acho que  agora eu preciso falar — sussurei mais para mim do que para a garota a minha frente.

Alya era minha amiga, sabia que podia confiar nela, por isso quando ela estendeu os braços  para que  a abraçasse, eu apenas a apertei e deixei que  as lágrimas  descessem, que todos os sentimentos saissem. Ainda com a voz embargada, comecei a falar:

— Eu conheci Adrien a cinco anos atrás, ele foi meu primeiro  amigo e depois  o meu primeiro amor — tentei  me acalmar, aquelas lembranças  mechiam comigo mais do que  qualquer coisa — Sempre  fui muito sozinha na minha infância, meus pais não  me deixavam sair nem para olhar o sol no jardim, mas um dia  consegui  sair e encontrei um garotinho escondido  nos arbustos — sorri ao lembrar da cena.

Eu podia ver bem na minha frente,  a primeira vez que falei com Adrien. Era verão, o dia tinha cheiro de lírios  recém  desabrochados e o calor do sol parecia pincelar de dourado o verde como esmeraldas da grama  do jardim, aquilo  tinha um ar tão  convidativo, a tarde parecia clamar para que descesse e sentisse o úmido  da relva tocando a solinha dos meus pés.  Eu precisava sair daquele quarto e ir lá  fora, nem que fosse por míseros  segundos. A janela  do meu quarto era alta, mas não  tão  alta para fraturar  todos os ossos do meu corpo, por isso sem pensar muito eu a pulei, pulei direto no arbusto que tinha abaixo dela. Lembro do frio na barriga durante a queda e do sentimento  de liberdade quando toquei o chão. Um chão  que falava. E ali estava Adrien, um garoto franzino com o rosto sujo de terra, de um sorriso doce e olhos instigantes, verdes como aquela grama que eu queria tanto sentir, transmitindo  a mesma sensação de as tocar com a sola do pés, a mesma calma e alegria.

Voltei a realidade, me desprendendo daquela memória e prossegui:

— Ele era filho do jardineiro e todos os dias ia lá  para ajudar o pai  a cuidar das plantas. Então  todos os dias eu passei a dar um jeitinho de fugir para brincar com ele. Com o passar dos tempos fomos nos aproximando e viramos melhores amigos — parei um pouco. A ruiva me olhava com atenção, não  como uma pessoa curiosa, mas apenas como a amiga que estava disposta a me ouvir, o quê  me motivou a continuar — Ele gostava de falar que eu era uma joaninha, porque eu gostava mais da grama molhada do que  das flores.

— Que fofo Mari — Alya me puxou para baixo, para que  eu me sentasse ao lado dela.

— Ele era. Adrien era como um príncipe  que me salvava todas  as tardes  daquele frio cinza que era o meu quarto, foi assim até  o meu aniversário  de quinze anos, quando deixamos de ser apenas amigos— abracei os joelhos, tentando controlar meu coração  que batia como louco ao lembrar daquele dia.

Diferente de todos os nossos encontros, Adrien foi me ver a noite. Até  hoje não  sei como ele subiu até  a janela do meu quarto, mas sei que  ele entrou lá  e me deu o maior susto de toda a minha vida. Eu estava deitada na minha cama, me perguntando  porque justo naquela tarde que era o meu aniversário, o garoto de cabelos dourados tinha resolvido desaparecer. Ele apareceu do nada, senti meu  coração  parar  por alguns segundos e depois voltar a bater muito rápido, Adrien estava no meu quarto segurando um saco de papel marrom.

— Desculpa não  ter vindo mais cedo, tinha que comprar  seu presente — disse apertando a sacola entre os dedos.

Pulei da cama e  me joguei nos braços  dele, o surpreendendo com um abraço  de urso. Se Adrien soubesse que  só  a sua presença  já  me enchia de alegria.

— Bobo.

— Espero que  goste Minha Lady — virei o rosto para esconder o vermelho que coloriu minhas bochechas ao ouvir o apelido que ele carinhosamente  tinha me dado.

Dentro do saquinho tinha um globinho de neve, com um pequeno jardim cheio de flores. Sorri, Adrien sabia o quanto eu amava o jardim e as plantas que tinha nele.

— Eu não sei o que dizer, foi o melhor presente que já ganhei na vida — sem me conter,  o puxei para outro abraço apertado.

— Um simples globo de neve ? —  ele se afastou, apenas para me olhar nos olhos.

— Não é só o presente Agreste — levei o dedo até a ponta do seu nariz e o apertei.

Adrien continuou me olhando, com um sorriso estranho e os olhos tão brilhantes que faziam suas orbes parecerem duas esmeraldas. Sorri sem graça, sem entender o que ele tanto admirava. Até um dos seus dedos escorregar pela minha bochecha, com um carinho leve. Senti meu coração bater como louco com aquele toque simples.

—  Eu te amo Mari, você foi a melhor coisa que caiu na minha vida — brincou, ainda com os dedos acariciando levemente o meu rosto.

Não sei explicar o que senti e o que me levou a fazer o que fiz. A verdade é que eu sempre fui comandada por impulsos e sem que penssase muito, lá estava eu, aproximando perigosamente meu rosto do de Adrien. Seus dedos que antes estavam no meu rosto, desceram para minha nuca, a segurando firme fazendo um estranho arrepio percorrer por minha pele. Estranhamente a boca do meu melhor amigo parecia tão convidativa, isso era errado e...

— Me beija — apenas o comando sussurado de Adrien foi o suficiente para que minha mente se calasse.

Toquei seus lábios delicadamente, eu não queria que ele percebesse que aquele era o primeiro beijo que eu dava na vida. Apenas segui os movimentos que ele fez depois, me beijando de uma forma tão maravilhosa que eu só conseguia pensar que aquele era o melhor momento para estar viva. Era a melhor coisa do mundo.

— Adrien — me afastei, o olhando nos olhos, sentindo meu coração bater como um cavalo selvagem correndo no campo— Eu te amo.

...

— Aí  Alya eu fui tão idiota — abracei meus joelhos, tentando conter as lágrimas que desciam descontroladas — Depois daí, desse dia em diante Adrien nunca mais foi na minha casa, nem o pai, nem nada.

— Como assim Mari, ele sumiu ?

— Ele só foi embora e me deletou da vida dele. Não avisou que ia embora — puxei uma lufadinha de ar, tentando me acalmar — Eu consegui achar E-mail e contato do Agreste, mas ele só me ignorou como se nunca tivesse me conhecido e nunca, nunca, me explicou o porquê.

Alya colocou a mão  no meu ombro e me puxou  para um abraço. Não sei o quanto eu estava precisando daquilo, foi como puxar o gatilho para que eu me despedaçasse. Apoei a cabeça  em seu peito e deixei que tudo que tava guardado saísse.

— Mas agora ele está  aqui nessa maldita escola, na mesma sala  que a minha e a merda do meu coração  não  quer lembrar das coisas ruins, só  quer as coisas boas que  tivemos juntos — estava dividida entre a tristeza de não  ter Adrien e raiva de não  conseguir simplesmente  odiar ele.

Ela continuou alisando meus cabelos, como a boa ouvinte que era. Eu não precisava que Alya dissesse nada, apenas me escutasse e foi o que ela fez.

— Idiota — murmurou com raiva.

— Sim, muito idiota — murmurei de volta, me aconchegante no seu abraço.

Sei que ela falava do Agreste, mas eu, eu me referia a mim. Era idiotice minha, mesmo depois de tudo, mesmo depois dele dizer que não  ia se explicar, ainda se encher de esperança que em algum momento as coisas iriam se resolver. Realmente... Idiota!



HELLO!! Olha só quem resolveu aparecer. Gente, eu precisava fazer esse capítulo com algumas lembranças pra vocês terem um pouco de noção de como era a relação da Mari com o Adrien. Espero que vocês tenham gostado e depois desse capítulo,  é só bomba, então se prepararem.

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