Começando
"Toda vez que você tentar esquecer quem eu sou
Estarei lá para te lembrar de novo
Você me conhece" - Reminder, The Weeknd
Nunca fui uma filha perfeita, admito. Acho que para a minha mãe eu nunca seria, mas me colocar em um internato no outro lado do mundo apenas por bater um carro bobo, era a decisão mais idiota que eu já a tinha visto tomar. Tinha tentado explicar que não tinha sido culpa minha, só que tudo que eu dizia parecia entrar em um ouvido e sair em outro, mamãe apenas ignorava o que eu falava enquanto tentava de todas as formas fazer meu nome sumir nas manchetes de jornais. A essa altura tenho certeza que ela já tinha conseguido subornar todos a fontes de mídia para que o nome dos Dupain-Cheng não fossem vinculados a qualquer fofoca escandalosa.
Como se sofrer um acidente fosse algo que eu escolhesse...— Espero que entenda, é para o seu bem — mamãe falava comigo através do celular, já que eu me encontrava em um carro a caminho do meu novo lar.
— Para o meu bem ou para o seu? – Rebati, sabendo que ela só estava me afastando para não ter que lidar com a filha rebelde, como ela mesmo dizia.
— Marinette não começa, François-Duponte é o melhor internato do mundo, você vai ter muitas atividades para ocupar sua mente e tempo para pensar melhor – disse como se estivesse me mandando para um spar cinco estrelas. Mamãe era uma piada.
Tentei segurar a gargalhada, mas era inevitável. Suíça tinha cheiro de adolescente rebelde ou muito controlado pelos pais. A resolução de qualquer família rica era abandonar os filhos lá quando não conseguiam lidar com eles sozinhos.
Ou quando não queriam lidar, pensei.— Tudo bem mamãe, sei que só quer o meu bem — disse por fim. Era o último ano do ensino médio, no final eu iria para faculdade e finalmente deixaria de ser a marionete dos meus pais.
— Ainda bem que você me entende filha – seu tom de voz calmo e suave, como se tivesse conseguido o que queria - Espero que faça novas amizades porque depois dele...
— Tudo bem mamãe, depois conversamos — e por fim desliguei.
Eu não gostava quando ela tentava mencionar quem não devia ser lembrado, ainda mais quando parecia querer dar entender que depois dele eu me tornei um fracasso em pessoa. Respirei fundo, afastando qualquer lembrança que tentou vir a minha mente depois da menção da sua existência. Para minha consciência o nome dele era como o de Voldemort no universo de Harry Potter, não devia ser dito.
Assim que o carro parou pude contemplar o famoso François-Duponte. A construção era enorme, algo extremamente parecido com a catedral de Notre Dame, o que fez um frio percorrer toda a minha espinha só de pensar na possibilidade de mamãe ter me mandado para uma escola católica. Analisei a arquitetura gótica, aceitando que aquilo era algum tipo de mosteiro e que eu seria obrigada a orar todos os dias e vestir aquelas roupas de freira, mesmo não sendo uma. As paredes beges, essa a única cor que tinha naquele lugar, pareciam implorar por uma pintura nova, estava tão desgastada que a junção das paredes com o chão tinha uma cor escurecida. Como um lugar tão caro tinha uma aparência assim?
— Por favor não seja uma escola católica – murmurei como uma oração, enquanto saia do carro.
Minhas coisas já estavam lá dentro, por isso dispensei o motorista no mesmo momento que desci. Com alguns passos relutantes caminhei até recepção, ainda clamando fortemente para que não desse de cara com uma freira. Queria muito ter pesquisado sobre esse lugar antes de ter vindo parar aqui, Sabine já tinha ameaçado me mandar para um colégio interno antes, o mínimo que eu poderia ter feito era uma lista dos quais ela provavelmente escolheria. A recepcionista não era uma freira, suspirei aliviada quando vi uma mulher com uma camisa bem decotada debruçada sobre seu computador. Ela parecia bem concentrada na sua tela para notar minha presença, por isso me inclinei sobre o balcão para atrair sua atenção.— Moça eu estou aqui — acenei freneticamente com as mãos na frente dela para que me olhasse.
— Olá, novata certo? — ela falou, sem desgrudar por um instante os olhos do computador.
— Sim.
— Por favor me informe seu nome completo para que eu puxe sua ficha — sei que era o trabalho delas, mas seu tom de voz profissional forçado estava me dando nos nervos.
Talvez fosse a TPM, a mudança drástica na minha vida...
— Marinette Dupain- Cheng.
Então ela mexeu seus dedos ágeis pelo teclado e me entregou um espécie de documento.
— Aí está algumas regras que você deve cumprir e alguns dos deveres que terá que fazer. O resto o representante da sua turma explica pra você — disse monótona, provavelmente já entediada de ficar sempre repetindo isso, antes de voltar sua atenção para o computador.
• toque de recolher
• hora para café da manhã/ almoço/ lanche/ jantar...
• sem interação íntima com os garotos(as), como beijos, abraços e etc.
• quartos...
— Aí! — parei de ler a lista quando descuidadamente acabei esbarrando em alguém.
— Desculpas — disse uma menina de cabelos ruivos e um óculos enormes no rosto.
— Ah não, a culpa foi minha, eu que estava sem olhar por onde andava — eu estava um pouco nervosa. Já tinha começado bem mal aqui.
— Aluna nova? — ela perguntou, enquanto ajeitava sua saia quadriculada.
— Infelizmente sim — suspirei.
— Aqui não é tão ruim, exceto por ela, Regina George — então ela se virou na direção do corredor, de onde vinha um garoto bem alto, que parecia desfilar – É responsabilidade daquele garoto ser nosso cão de guarda.
— Ele é gay? — cochichei.
— Ninguém sabe, mas o que todos temos certeza é que ele tá em um celibato do caralho ou que aqui ninguém é bom o suficiente pra ele. Também tem a possibilidade de Adrien Agreste namorar a distância, mas...
— Calma, você disse Adrien Agreste? — perguntei a cortando. Eu tinha escutado errado, certo?
— Em carne e osso, a sua disposição — o garoto respondeu por Alya, pegando minha mão e depositando um beijo casto.
Não acredito! Era muita coincidência.
— É uma pena Agreste, realmente uma pena, mas não preciso de você — puxei minha mão abruptamente.
— Fiz algo? — ele me olhava intrigado, até Alya me encarava assim.
— Não lembra de mim ? – questionei, o tom ácido dominando na minha voz – Como é que você me chamava mesmo ... – fingi vasculhar algo na minha mente – My Lady, lembra?
— Marinette? — ele me olhou boquiaberto. Surpreso gatinho?
— Ah então você lembra – tentei não rir, não de alegria, mas da ironia fodida do destino.
Preferia a escola católica agora do que me encontrar com esse ser humano novamente.— E como esquecer My Lady, você sabe, é inesquecível – senti todo meu peito arder em ódio por seu tom irônico.
Adrien tinha me esquecido em segundos...
— Vou fazer da sua vida um inferno – falei a primeira frase que a raiva me permitiu formular, ignorando totalmente a Alya que nos assistia com uma expressão confusa.
— Tsc tsc tsc... – Adrien balançou a cabeça em negação – Não fala assim com o dono do lugar meu bem – então ele se aproximou perigosamente de mim, me fazendo travar — Mas já que quer assim, bem vinda ao inferno então.Continua?
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Internato Miraculous
Fiksi PenggemarUm internato só pelo seu nome já passa uma impressão de lugar extremamente rigoroso, o quê fazia Marinette repudiar a ideia dos seus pais em coloca-la em um. Mas o quê ela não esperava é que François-Dupont tinha lá suas peculiaridades...