Meu abismo e a minha ascensão

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Kadu

Depois de Foch se apresentar, ele me disse para voltar no dia seguinte, pois o sol já havia se posto e ele precisava resolver umas coisas.

- Então, amanhã eu voltarei! - Disse para ele enquanto pegava o cristal de meu bolso

- 15h, - Respondeu Foch - em ponto. Não quero te ver aqui antes desse horário. 

Eu acenei com a cabeça, entendendo o recado, e, em seguida, apertei o cristal. Voltei naquele vazio branco com a sensação de estar num elevador, e em alguns segundos já havia voltado para casa, mais precisamente na cozinha. Meus pais estavam sentados à mesa conversando, mas quando cheguei ficaram surpresos ao ver o quanto estava bagunçado: minha roupa estava suja, minha mão estava enfaixada e meu cabelo estava totalmente para cima, mas meu sorriso revelava que tudo estava bem.

Eu contei como foi meu dia para eles e vice-versa. Depois disso tomei um bom banho, jantei e logo após, fui me deitar. Dessa vez não foi preciso ler nenhum livro para que eu pegasse no sono. Dormi quase instantaneamente, fechando meus olhos, ansioso pelos próximos dias.

Entretanto, nessa noite, eu tive um sonho estranho: meus pés corriam em um deserto, num dia ensolarado, muito ensolarado. O sol raiava tão forte que era difícil seguir em frente com os olhos abertos. Havia outras pessoas correndo comigo, mas não tive tempo de identificá-las, pois nesse mesmo momento, minha força se esvaiu como se uma fogueira fosse apagada por uma avalanche. Eu estava caído, tendo que fazer força para conseguir respirar.

Quando me recuperei e levantei-me, um estacionamento vazio surgiu à minha volta. Havia uma espada cravada no chão, e uma cobra passando pelos meus pés. Na escuridão do estacionamento, olhos de diversas cores me observavam como predadores em busca da mesma presa. Antes mesmo que eu pudesse reagir, o chão desmoronou em pedaços e meu corpo despencou em queda livre num céu vermelho com nuvens brancas. Quando me aproximei do chão, fechei os olhos e caí de costas, num solo que estava repleto de água. Água essa, que não passava dos meus pés.

O céu então mudou para o azul marinho e ficou estrelado. De longe, observei uma silhueta. Me aproximei instintivamente. Reconheci com facilidade quem ali estava: era como olhar no espelho. Havia um clone meu, sentado, de olhos fechados. Porém, de alguma forma, esse "eu mesmo" parecia ser alguns anos mais velho.

- Olá? - Chamei ao sujeito que se assemelhava a mim, enquanto me dava mais alguns passos para frente

Seus olhos abriram-se lentamente, e enquanto isso acontecia, uma sombra abstrata passava debaixo da água. Os olhos da minha cópia se abriram e eles eram vazios, sem emoção. Olhos esses, que não possuíam pupilas, porém refletiam a cor do fundo do oceano. Eles eram profundos e misteriosos.

- Esperei por você - Disse meu sósia mais velho - Bem aqui, todos os dias. Você cresceu, Kadu.

- Como você sabe meu nome? - Perguntei surpreso e assustado

- Seu nome? Sei bem mais do que isso, se é de seu interesse.

- Quem é você?!

Me afastei ainda olhando para frente, e o sujeito se levantou.

- Não se assuste - Ele disse - Eu não estou aqui para te fazer mal algum.

Depois daquela fala, um vento forte passou sobre nós e, como um truque de mágica, ressurgimos sentados ao chão.

- Pois bem - Falou o ser enquanto passava a mão na água com seus dedos - Eu sei quem você é, mas já que tu quer saber quem sou, irei contar.

- Quem é você?! E onde eu estou?

Shujinko no Yume - O Sonho do HeróiOnde histórias criam vida. Descubra agora