Shujinko no Yume - O Sonho do Herói

Travessia do Limiar

Kadu

A tão esperada missão no reino das fadas estava marcada para a sexta-feira seguinte. Esperei ansioso dia após dia, mal conseguindo dormir direito. Estava muito animado, já que pisar num lugar tão fantasioso e mágico como esse não era para qualquer um. Li vários contos sobre o reino das fadas, mas existem pouquíssimos registros sobre a cultura, imagens e como chegar lá. Isso só me deixava mais curioso do que nunca.

Felizmente, a semana passou bem rápido. Trechos da minha luta contra aquele hipopótamo circularam nas redes sociais, e toda a minha escola estava sabendo disso. Quando cheguei pelo portão da escola, na segunda, todo mundo estava me olhando e falando de mim. Muitos alunos e professores vieram falar comigo para ver como eu estava e como havia sido aquele confronto. Mas aquilo tudo ainda era uma sensação muito estranha pra mim, eu nunca tinha visto tanta gente falar comigo num só dia, e aquilo me impressionou bastante.

Eram tantas perguntas legais, pena que eu era muito tímido e não sabia como reagir a tudo aquilo. "Como você conseguiu derrota-lo?", "Por que decidiu lutar contra aquele hipopótamo?", "Você tem um poder! Como conseguiu desperta-lo?", "Mostra seu poder aí". Essas foram só algumas das perguntas que eu mais ouvi naquele dia. Até mesmo o professor de português insistiu para que eu mostrasse meu poder.

- Faça aquele negócio dos portais. - Disse ele quando eu entrei na sala. Para uma segunda-feira, até que tem bastante gente aqui, pensei. - O seu poder é tão interessante!

- Se chama magia interior - Respondi - E n-não vou fazer nada disso. A chance de causar um acidente é alta.

- Ah, que pena. Mas eu entendo perfeitamente, fique tranquilo.

Ele entendeu, mas a turma não. Ficaram o resto do dia me pedindo, ou melhor, implorando para que eu usasse o meu "poder". No inicio eu estava negando, mas chegou uma hora que eu só comecei a ignorar.

Somente uma pessoa da minha sala não ficou me enchendo o saco, mas seu olhar incomodava o dobro. Muitas vezes, do outro lado da sala, reparei que ela, a garota misteriosa de cabelos verde-limão, estava me encarando, pensando em algo. Eu até cogitei em ir falar com ela, pois assim como eu, ela também não era muito sociável. Entretanto, acabei hesitando. Mal sabia o nome dela, ia ser muito estranho chegar falando algo.

No final da aula, antes de bater o sinal, a representante de sala me perguntou se eu ia estar no passeio que minha sala marcou para sexta. Eu disse que sim, mas tinha me esquecido que a minha viagem para o reino das fadas também ia ser nesse mesmo dia. Ela disse "ok, você ocupou a última vaga no ônibus, por favor não falte". Era tarde para falar "não", porque o sinal já havia tocado. E eu também era muito tímido para mandar uma mensagem. Espero que ela se esqueça disso, pensei. Não, ela não vai esquecer. Eu tô ferrado, cara.

Terça, quarta e quinta foram dias que passaram voando, por mais incrível que pareça. Na noite de quinta meus pais me ajudaram a arrumar minha mochila para a missão. Eu queria colocar apenas o básico, mas minha mãe ficou insistindo e me fez lotar a mochila com protetor solar, repelente, boné, capa de chuva e mais um monte de coisas.

Após ter tudo pronto, fui para a cama bem cedo para poder acordar com muita energia. O problema mesmo é que eu tava tão ansioso, que dormir não estava sendo uma tarefa fácil. Me revirei um milhão de vezes enquanto pensava em como seria épica a minha viagem. No final, tive que ler mais alguns capítulos dos contos de Fireway para que eu conseguisse pegar no sono... dormi leve, porém com muita animação para o dia seguinte.

Acordei cedaço. Despertei mais cedo até do que o sol. Tomei um bom banho e coloquei uma roupa confortável para viajar. Desci as escadas tão animado que quase tropecei em um dos degraus. Quando toquei meus pés na sala, me surprendi. Meus pais estavam tomando café, mas tinha outras duas pessoas com eles... uma delas era conhecida, mas eu não esperava que aquela pessoa fosse estar lá bem naquele momento, me esperando com um sorriso.