Kitty

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Pela manhã, por volta das 08:00, o Seokjin estava deitado em sua cama, repassando mentalmente todos os acontecimentos recentes, olhava na direção do garoto que dormia consigo e só sentia uma imensa vontade de ajudá-lo, não sabia o que precisaria fazer para inserir uma pessoa assim no meio de uma sociedade discriminatória, o governo havia deduzido que criar híbridos em laboratórios deveria ser considerado uma atividade ilegal, até fizeram leis em cima disso, mas entre o papel e a realidade, não há uma linha tênue e sim um precipício que separa as duas partes. Quando todos descobriram a tortura que esses seres passavam ao longo do seu desenvolvimento em um laboratório, houve uma comoção geral e vários movimentos se juntaram para 'libertar' os híbridos, desde então, várias leis foram criadas em inúmeros países, entretanto, por baixo dos panos, os laboratórios não foram desfeitos ou sequer foram multados por terem causado tamanha crueldade, alguns deles ainda funcionam, não há supervisão e essas criaturas foram jogadas na rua para serem tratadas como inferiores. As pessoas não costumam empregar híbridos em seus estabelecimentos ou empresas, temem o seu lado animalesco que foi criado pelo próprio ser humano, a ganância em tentar evoluir a espécie para um patamar maior, acabou resultando em experiências fracassadas, criaram seres que são fascinantes, mas eles julgaram a sua maioria como sendo inúteis, então, são tratados assim como meros bichos de rua, destinados a viver em alojamentos ou permanecer nos laboratórios, chegaram a disseminar notícias falsas que apontavam os híbridos como sendo portadores de doenças terríveis, o que só contribuiu para a marginalização desses seres.

Entretanto, a humanidade não estava totalmente perdida, alguns humanos entenderam que foram eles quem criaram esses seres a partir de sequências genéticas modificadas, então, se juntaram para construir lares que podem abrigar essas pessoas, lugares seguros e que disponibilizam uma educação correta, nada de agulhas e disciplinas cruéis, porém, é algo muito recente, os híbridos estão legalmente livres para escolherem o que fazer com o seu próprio corpo há apenas três anos, ainda terão um longo processo pela frente até que possam conviver em sociedade. Seguindo essa corrente de humanos com uma consciência saudável que escolheram fazer o mínimo, temos o Seokjin, seu único contato com um híbrido foi quando o seu melhor amigo, Kim Taehyung, o chamou desesperado em uma noite fria de outono para dizer que tinha um híbrido machucado no quintal da sua casa, eles cuidaram do garoto bravinho que odiava contato humano e o Taehyung se responsabilizou a ficar com ele, isso aconteceu antes mesmo dos híbridos terem o direito à liberdade, já que o gatinho chamado Yoongi vive com o menino há cinco anos, eles eram amigos próximos no começo, até que os únicos toques que o híbrido desejava e queria receber se tornaram o do mais velho, este que nunca se colocou na posição de "dono" e por isso, eles construíram uma relação que se tornou confusa na cabeça do Yoongi, esse ser que nunca teve contato com emoções positivas, estava apaixonado, e após longos períodos de adaptações, passaram a se considerar namorados quando o híbrido teve a noção do que significava aquele termo e que desejava aquilo mais que tudo. Agora, com um segundo híbrido em sua vida, o Jin teve a sorte de presenciar o quanto eles podem ser adoráveis, passando a se questionar sobre a veracidade da premissa que esses seres atingiram o objetivo, eles são humanos evoluídos, sem nenhuma maldade intencional, com olhos puros e bondosos, dotados de gratidão e um espírito indisciplinado, o médico percebeu tudo isso enquanto ajudava o híbrido a escolher um nome para si, queria apenas sugerir alguns para que eles pudesse pensar a longo prazo, mas o garoto sequer exitou em insistir que já havia encontrado o que queria, apontando para a palavra no computador, Namjoon, uma escolha totalmente sincera e dotada de felicidade, ficou animado ao ser chamado por um nome composto de letras e não de números. Até mesmo em sua indisciplina, ele conseguia ser uma pessoa preciosa aos olhos do Seokjin, batendo o pé no chão continuamente ao insistir que não iria dormir sozinho no quarto de hóspedes, apontou inúmeros argumentos que se resumiram em apenas um, o seu medo do escuro, sendo assim, o médico não teve outra alternativa a não ser ceder a sua cama para que eles dividissem o colchão e foi uma escolha acertada, pois agora mesmo, havia acordado com a certeza de que não precisaria trabalhar pelos próximos três dias, já que havia feito um plantão que reduzia a sua escala, mas nem mesmo essa notícia, teve a capacidade de superar o conforto que sentia ao se deparar com aqueles olhos amarelados que lembravam o mais puro mel retirado de um favo generoso e quente.

Honey CatOnde histórias criam vida. Descubra agora