VIII

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 Pensando que não faria mal, pois a família não viria, não voltaria nunca mais, diziam alguns, e a casa ia ser vendida talvez em setembro no dia de São Miguel, a sra. McNab se abaixou e colheu uma braçada de flores para levar para casa. Pôs o maço na mesa enquanto tirava o pó. Adorava flores. Era uma pena desperdiçá-las. Se fossem vender a casa (ficou na frente do espelho com as mãos na cintura), ela ia precisar de um trato – ia sim. Tinha ficado esses anos todos sem uma alma viva lá dentro. Os livros e objetos estavam embolorados, pois, por causa da guerra e sendo tão difícil arranjar ajuda, não tinha conseguido manter a casa limpa como queria. Agora deixá-la em ordem ultrapassava as forças de qualquer um. Estava velha demais. Tinha dor nas pernas. Todos aqueles livros precisavam ser postos na grama para tomar sol; no vestíbulo tinha caído uma parte do reboco; a calha em cima da janela do escritório estava entupida e entrava água; o tapete tinha se estragado. Mas o pessoal que viesse ou mandasse alguém vir ver. Pois havia roupa nos armários; tinham deixado roupa em todos os quartos. O que ia fazer com elas? Estavam com traça – as coisas da sra. Ramsay. Pobre senhora! Ela é que não iria querê-las nunca mais. Tinha morrido, diziam; anos atrás, em Londres. Ali estava a velha capa cinzenta que usava para jardinar (a sra. McNab apalpou). Podia vê-la, quando subia pela trilha com a roupa lavada, cuidando das flores (o jardim agora dava dó de ver, todo destroçado, coelhos escapulindo dos canteiros quando a gente aparecia) – podia vê-la com uma das crianças ao lado com aquela capa cinzenta. Havia botas e sapatos; uma escova e um pente na penteadeira, exatamente como se pretendesse voltar no dia seguinte. (No fim tinha morrido muito de repente, diziam.) E antes vinham, mas depois deixaram de vir, por causa da guerra e sendo tão difícil viajar nesses tempos; não tinham vindo nesses anos todos; só lhe mandavam o dinheiro; mas nunca escreveram, nunca apareceram e esperavam encontrar as coisas como tinham deixado, ah, pois como! Ora, ora, as gavetas da penteadeira estavam cheias de coisas (abriu-as), lenços, pedaços de fitas. Sim, podia ver a sra. Ramsay quando subia pela trilha com a roupa lavada.

E ela dizia: "Boa tarde, sra. McNab".

Tinha um jeito agradável. Todas as criadas gostavam dela. Mas muitas coisas tinham mudado desde aquela época (fechou a gaveta); muitas famílias tinham perdido seus entes queridos. Ela tinha morrido; o sr. Andrew foi morto; a srta. Prue morreu também, diziam, com seu primeiro bebê; mas todo mundo tinha perdido alguém nesses anos. Os preços tinham disparado que era uma vergonha, e não iam baixar. Lembrava-se muito bem dela com a capa cinzenta.

"Boa tarde, sra. McNab", dizia e falava para a cozinheira separar um prato de sopa cremosa para ela – e bem que ia querer mesmo, carregando aquela cesta pesada desde o povoado. Podia vê-la agora, inclinada sobre suas flores (e frágil e faiscante como uma réstia amarela ou o halo na ponta de um telescópio, uma senhora de capa cinzenta, inclinada sobre suas flores, passou pela parede do quarto, por cima de penteadeira, através do lavabo, enquanto a sra. McNab seguia com seu andar manco e arrastado, espanando, endireitando as coisas).

E o nome da cozinheira, como era? Mildred? Marian? – uma coisa assim. Ah, tinha esquecido – esquecia mesmo as coisas. Estourada, como todas as ruivas. Tinham dado muitas risadas juntas. Sempre era bem recebida na cozinha. Fazia elas rirem, ah se fazia. As coisas eram melhores do que agora.

Suspirou; era trabalho demais para uma mulher só. Abanou a cabeça. Este aqui era o quarto das crianças. Aiai, estava tudo úmido aqui; o reboco estava caindo. E para que queriam uma caveira de bicho pendurada aqui? embolorada também. E ratos em todo o sótão. Entrava chuva. Mas nunca mandavam ninguém; nunca vinham. Algumas fechaduras estavam quebradas e as portas batiam. Ela também não gostava de ficar aqui sozinha ao anoitecer. Era demais para uma mulher só, demais, demais. Estralejava, gemia. Bateu a porta. Passou a chave na fechadura e deixou a casa fechada, trancada, sozinha.

Ao Farol (1927)Onde histórias criam vida. Descubra agora