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 Pois Cam passou quase relando pelo cavalete, por um dedo; não parou para o sr. Bankes e Lily Briscoe, embora o sr. Bankes, que gostaria de ter uma filha, estendesse a mão; não parou para o pai, a quem também quase relou por um dedo; nem para a mãe, que chamou "Cam! Venha aqui um instante!", enquanto passava em disparada. Voava feito uma ave, bala ou flecha, impelida por qual desejo, disparada por quem, mirando a quê, quem sabia? O quê, o quê?, perguntava-se a sra. Ramsay a observá-la. Podia ser uma visão – de uma concha, de um carrinho de mão, de um reino encantado do outro lado da sebe; ou podia ser o prazer glorioso da velocidade; ninguém sabia. Mas, quando a sra. Ramsay chamou "Cam!" pela segunda vez, o projétil parou no meio da carreira e Cam voltou devagar, arrancando uma folha pelo caminho, até a mãe.

Com o que ela estava sonhando, indagou-se a sra. Ramsay, vendo-a distraída, quando parou ali, com algum pensamento todo seu, de modo que teve de repetir o recado duas vezes – pergunte a Mildred se Andrew, a srta. Doyle e o sr. Rayley já voltaram. As palavras pareciam ter caído num poço, cujas águas, se eram límpidas, tinham também uma capacidade tão extraordinária de distorção que, mesmo enquanto desciam, dava para vê-las se espiralando para formar sabe-se lá que desenho no fundo da mente da menina. Que recado Cam daria à cozinheira?, indagava-se a sra. Ramsay. E de fato foi apenas esperando com paciência e ouvindo que havia uma velha na cozinha de faces muito coradas, tomando uma tigela de sopa, que a sra. Ramsay finalmente fez aflorar aquele instinto de papagaio que recolhera as palavras de Mildred com grande precisão e agora podia apresentá-las, se a pessoa tivesse paciência de esperar, numa cantilena sem cor. Mexendo-se de um pé para o outro, Cam repetiu as palavras, "Não, não voltaram, e falei para a Ellen tirar a mesa do chá".

Minta Doyle e Paul Rayley então não tinham voltado. Aquilo só podia significar, pensou a sra. Ramsay, uma coisa. Devia aceitá-lo ou recusá-lo. Essa saída depois do almoço para um passeio, mesmo Andrew estando com eles – o que poderia significar? a não ser que ela tivesse decidido, com razão, pensou a sra. Ramsay (e ela era muito, muito afeiçoada a Minta), aceitar aquele bom rapaz, que podia não ser brilhante, mas, pensou a sra. Ramsay, notando que James estava lhe dando uns puxões para que continuasse a ler o Pescador e sua Mulher, do fundo do coração preferia infinitas vezes uns toleirões a homens muito sabidos que escreviam dissertações; Charles Tansley, por exemplo. Fosse como fosse, a essas alturas já devia ter acontecido.

Mas leu: "Na manhã seguinte, a mulher acordou antes, enquanto rompia o dia, e da cama viu o belo campo que se estendia à sua frente. O marido ainda se espreguiçava...".

Mas como agora Minta poderia recusá-lo? Não poderia depois de concordar em ficar passeando tardes inteiras pelo campo só com ele – pois Andrew devia ter ido procurar seus caranguejos – mas talvez Nancy estivesse com eles. Tentou relembrar a imagem de ambos na porta da entrada após o almoço. Lá estavam olhando o céu, comentando o tempo e ela dissera, em parte para disfarçar a timidez de ambos, em parte para incentivá-los a sair (pois suas simpatias estavam com Paul), "Não há uma nuvem sequer numa extensão de quilômetros", ao que pôde perceber a risota do franzino Charles Tansley, que os acompanhara até lá fora. Mas ela fez isso de propósito. Se Nancy estava ali ou não, não sabia com certeza, fitando um e outro com os olhos da memória.

Continuou a ler: "'Ah, mulher', disse o homem, 'por que haveríamos de ser reis? Não quero ser rei'. 'Bem', disse a mulher, 'se você não quer ser rei, eu quero; vá até o Linguado, pois quero um reino'".

– Entre ou saia, Cam – disse ela, sabendo que Cam se sentia atraída apenas pela palavra "Linguado" e que num instante começaria a espicaçar e a brigar com James, como sempre. Cam saiu chispada. A sra. Ramsay continuou a leitura, aliviada, pois ela e James tinham os mesmos gostos e se sentiam bem juntos.

"E quando ele chegou ao mar, estava de um cinzento muito escuro, as águas se erguiam das profundezas e cheiravam mal. Então parou ali e disse:

'Linguado, linguado que estás no mar,

Ao Farol (1927)Onde histórias criam vida. Descubra agora