Capítulo 1 - Pilot - Part 1

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Muitas vezes é mais fácil entender os sentimentos de outras pessoas do que os próprios, Anahí sempre soube disso.

Escrever sobre amor, sobre perdão, sobre resiliência, sobre cura. Ela sempre teve um certo tipo de facilidade, e acontecia em momentos mais inoportunos possíveis, acredite — bastava estar em frente a TV vendo um filme ou um seriado qualquer, ouvindo música em uma das inúmeras playlist's que tinha de diversos gêneros e estilos diferentes ou, quem sabe, dormindo, imersa em um mundo de sonhos. Poderia ser a qualquer hora do dia, onde estivesse, se a lâmpada mágica surgisse ela iria correr para anotar no lugar mais próximo e seguro que encontrasse, geralmente em sua companheira fiel e inseparável agenda, ou no bloco de notas de seu celular, até que finalmente estivessem sendo repassadas para uma página do Word em seu notebook.

Os rascunhos estavam lá, inúmeros deles, cheios de rabiscos e anotações das quais ela sabia que dependiam diversas vidas, incluindo a dela própria e dos personagens que criava. Enredos eram desenvolvidos primeiro dentro de sua cabeça para depois começarem a tomar forma, pouco a pouco. Personalidades eram modeladas, plots surgiam do nada, e então a magia começava a acontecer: o tão esperado felizes para sempre.

Antes de começar a escrever, Anahí não lembrava como vivia. Foi uma criança curiosa, nunca satisfeita com o pouco que conseguia sempre que questionava sobre alguma coisa, disposta a procurar por respostas, fascinada por fantasiar e criar. Sua avó materna, a quem tinha um grande apreço, costumava dizer que ela seria uma garota de sorte, que nunca iria parar de sonhar porque tinha energia suficiente para ir atrás do que almejava e nunca cogitar sequer desistir. Talvez por essa razão ela tenha crescido e se tornado uma mulher tão destemida, ciente do que queria fazer por toda uma vida; escrever e publicar livros, ser capaz de tocar uma única pessoa através do que escrevia, e então estaria satisfeita.

Mas agora Anahí não sabia identificar quando tinha começado a ficar tão difícil.

Antes sua mente em sincronia com os seus dedos pareciam ter controle próprio — bastava sentar e mergulhar em seu mundo de ideias e voilà: vidas e histórias surgiam, tomando forma. Agora tudo o que ela conseguia eram horas e mais horas de frustração enquanto o traço esperando por continuidade piscava na página em branco em sua tela — uma, duas, três ininterruptas horas. E lá estava ela, paralisada mediante seu bloqueio, totalmente refém dele.

Prazos infelizmente existiam, e ela estava ciente de que o seu em algum momento chegaria ao fim. Por mais que sua Editora-chefe — uma das mulheres mais pacientes que tinha o prazer de ter em sua vida —, sempre estivesse disposta a lembrar que ela conseguiria dar um jeito, que tinha todo o tempo do mundo, Anahí sabia que na prática não poderia ser assim tão fácil e simples. Toda uma equipe estaria a disposição dela no minuto seguinte em que estivesse dando a grande notícia, a mesma que esperavam por semanas, de que tinha conseguido vencer o bloqueio e estava imersa entre páginas e mais páginas de um mais novo romance predestinado a ocupar um lugar como o mais novo best-seller do New York Times.

No entanto, por mais que ela forçasse sua mente a criar, não estava conseguindo nada. Somente uma vastidão em branco, um vazio do qual ela bem lembrava, mas daquela vez estava sendo mais agonizante. Bloqueios criativos eram comuns, embora muitas vezes ruins, mas sempre que aconteciam não costumavam durar muito, ela só precisava parar para respirar, de uma xícara de chá, ouvir uma música para relaxar, se arriscava até a se aventurar em sua cozinha e a inventar receitas novas, e logo estavam lá, tão claras e certas: ideias, inúmeras delas.

Não era mais o caso desde... muito tempo. Dias, semanas, mais de três meses em que Anahí encontrava-se paralisada. Não tinha ideia de quando terminaria, mas sabia muito bem como havia começado, é claro que sim. 

𝙈𝙮 𝙏𝙪𝙧𝙣𝙞𝙣𝙜 𝙋𝙖𝙜𝙚 Onde histórias criam vida. Descubra agora