Capítulo 4 - Changes

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A emergência do Yale New Haven Hospital naquele dia estava um verdadeiro pandemônio. Os corredores estavam cheios, os leitos, igualmente tomados, e ainda não eram nem dez horas da manhã direito. Alfonso visualizou o caos acontecer diante dos próprios olhos por alguns segundos antes de desligar o seu lado emocional para que o racional pudesse assumir.

Precisava ser rapido; preciso, funcional. Parte da equipe de residência aguardava na porta com ambulâncias indo e vindo. A recepção estava tomada, pessoas pediam por informações. Os leitos começavam a superlotar e transferências seriam necessárias, logo reforços do outro lado também chegariam.

Alfonso então caminhou apressado, entrando e saindo de portas, analisando minuciosamente um prontuário que tinha em mãos. Leito 9, confere. Então assinalou, em seguida, parando diante da porta aberta, avistando o rosto conhecido esperando por ele.

— Dr. Herrera, a que devo a honra? — a pergunta carregada pelo tom irônico e ao mesmo tempo simpático o fez sorrir, cortês.

— Sra. Morgan, bom dia — Alfonso cumprimentou, guardando a caneta que tinha em mãos no bolso do jaleco que vestia.

— O que aconteceu com o nosso acordo, querido? Senhorita, por favor…! — a senhora de meia idade relembrou com um tom de repreensão que o obrigou a conter um riso, embora quase nunca fosse possível sempre que estavam naquele embate. — Esses fios brancos que tenho aqui são uma mera formalidade, convenhamos. E me trate por você, por favor.

Dianna Morgan;
73 anos;
Natural do estado de Oregon, Portland – EUA.
Paciente apresentava problemas de insuficiência cardíaca e transporte de sangue inadequado para o corpo e realizou uma cirurgia para colocação de um marcapasso.

A ficha que Alfonso tinha em mãos abrigava todas aquelas informações, típicas anotações que eram cruciais, embora ele estivesse convivendo tempo demais com a paciente para não precisar revisar nada.

— Claro, como pude ser tão descortês?
Desculpe, senhorita — Alfonso frisou a palavra em tom de desculpas — Como você está hoje?

— Perfeitamente bem, como a muito tempo não sentia. Parece até que tenho 30 anos novamente — Dianna sorriu expressivamente — Imagine que daqui uns dias nem precisarei mais continuar neste hospital.

— Para a minha felicidade e a sua tristeza, eu suponho? — Alfonso aproximou-se para checar os sinais vitais dela, como de praxe — Porque tudo o que eu mais quero é assinar a sua alta.

— Ora, a quanto tempo nós estamos nesse impasse? — o tom da pergunta dela fez Alfonso rir, ajustando o estetoscópio para examiná-la — Eu posso sair dessa cama andando hoje mesmo.

— Dispensaremos uma cadeira de rodas, então? — Alfonso ergueu uma sobrancelha e o olhar que a mulher mais velha esboçou apresentava um sim que dispensava qualquer comentário — Foi o que eu imaginei. A sua sorte, Senhorita Morgan, é que você é uma das minhas pacientes favoritas.

— Diga isso para aquelas enfermeiras, elas me odeiam — Dianna resmungou com convicção — Imagine que eu não pude levantar para caminhar como fizemos na sua última visita. Estou nesta cama a tempo demais, isso não é saudável.

— Ah, claro, mas elas estão apenas seguindo ordens médicas minhas — Alfonso explicou, afastando o estetoscópio do peito dela, em seguida anotando rapidamente em seu prontuário — Precisamos ser cautelosos, principalmente porque esse coração já nos deu sustos suficientes, não é?

— Estamos nos comportando bem — Dianna torceu o nariz, ultrajada — Nada de sustos por um bom tempo.

— Estamos contando com isso. — Alfonso afirmou, convicto. — Agora eu preciso ir. Estamos tendo um dia corrido por aqui. Volto para checar você mais tarde, está bem?

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