cap 2

85 12 2
                                    

Depois de conseguir permanecer longe da cidade de Denalhia por insuficientes cinco anos o conde Ház de Lukewood viu certa necessidade de retornar. Não que sentisse alguma falta do lugar que algum dia tinha sido seu lar, mas sim por que infelizmente a temporada casamenteira havia começado e o primeiro baile da alta sociedade denalhiense seria realizado justamente na casa de sua família, onde hoje residia apenas a sua tia, Lady Coneliett. Não haviam motivos suficientes no mundo que fizessem com que sua tia concordasse em dispensá-lo da obrigação, neste caso não restavam muitas opções a não ir diretamente para a toca do leão.
Quando percebeu que já estava se aproximando da sua antiga residência ele suspirou. Pediu que seus criados que o acompanharam fossem na frente para já arrumarem seus pertences em seus aposentos, e enquanto isso ele preferiu ir até o campo onde ele passava a maior parte do seu tempo disponível quando morava ali.
Ele cavalgou por alguns minutos até chegar em uma arvore especifica, poderia passar o tempo que tivesse que passar, mas ele tinha a inconfundível certeza de que jamais se esqueceria daquele lugar. Por mais que em seu interior ele desejasse desesperadamente fazê-lo. Sentou-se embaixo da sombra por mais ou menos uma hora, mas logo se deu conta que não poderia adiar por muito mais tempo a sua chegada, então se levantou e cavalgou de volta para o seu caminho original.
Ele sorri assim que vê a Lady Coneliett a sua espera, com a sua habitual carranca de desagrado misturado com um sorriso de muita saudade. Por mais surpreendente que que fosse, aquele sorriso havida sido um sorriso genuíno, ele realmente havia sentido falta dela e nem ao menos tinha se dado conta disso. Era possivelmente uma agradável percepção no momento.
— Sabe que não foi nada educado da sua parte me deixar esperando, não sabe senhor? —  A Lady Coneliett não é uma pessoa muito adepta da virtude da paciência e disso ele sempre soube.
Desceu do cavalo em um salto e fez uma reverência bastante exagerada.
— Minhas mais sinceras desculpas Lady Coneliett, eu apenas quis cavalar um pouco pelo campo antes de vir. — Concluiu a frase com um pomposo floreio e ela deu um sorriso aos poucos desfazendo a carranca, era evidente que as suas desculpas não haviam sido aceitas, mas é claro que a Lady Coneliett sabia fingir bem, então deixou isso apenas sem resposta. Ela preferia aproveitar o deleite de ter seu amado sobrinho em casa novamente, seu coração já não se aguentava de saudades daquele garoto irresponsável. Inclusive havia sido esse o motivo primordial para que decidisse oferecer o primeiro baile da temporada, sabia que ele jamais seria descortês ao ponto de se negar a brinda-los com aquela imponente presença de um menino mimado e decidido.
— Espero que esteja com bastante animo para o baile desta noite, não contei a ninguém sobre o seu retorno mas creio não poder mantê-lo no anonimato por mais tempo do que esta tarde. — Ele concordou.
— Não será necessário me manter anônimo, vou ficar pouco tempo na cidade. — Ele pretendia que aquela fosse uma estadia rápida, apenas para estar presente no baile por pura educação e talvez se estivesse se sentindo particularmente bem disposto pretendia ficar algumas semanas a mais.
Sua tia disse que não pelo menos umas três vezes até Finalmente virar para ele.
— De maneira nenhuma! Isso está totalmente fora de questão e você sabe que seria uma extrema grosseria. Fique até o fim da temporada, quem sabe alguma das trinta e cinco jovens chamem a sua atenção.
E naquele momento Ház se lembrou do motivo de não ter pensado em Lady Coneliett com o sentimento de saudade nem uma única vez. Ela vivia tentando casá-lo e mesmo ele sendo jovem ainda ela nunca conseguia fechar a boca e parar de atormenta-lo com esses assuntos triviais e até o momento, sem nenhuma importância. Ele apenas respirou fundo e deixou passar, a temporada dura no mínimo seis meses e nunca mais que  oito, não era tanto tempo para que ele enlouqueça de vez em algum momento, seria apenas tempo suficiente para irritá-lo até os ossos, disso tinha certeza.
                         *********
Na casa dos Clarkes tudo seguia na mais perfeita ordem. Desde que chegaram em casa automaticamente começaram os preparativos para arrumar a Tessa de maneira impecável e a sua mãeaseria capaz de apostar todos os seus diamantes na certeza de que a sua filha atrairia pelo menos cinco pretendentes esta noite.
Aquela garota havia nascido para um futuro lindo, Amélia sempre teve certeza disso, desde que Tessa era apenas um lindo bebêzinho.
Jace estava sentado com a Evie na sala de visitas degustando um maravilhoso lanche da tarde,  ambos eram os que mais tentavam não prestar atenção naquela correria em torno de deixar a sua irmã o mais bela possível. Eles sabiam que de toda forma ela arrumaria um bom marido no fim disso tudo então sempre optavam por ficar fora do caminho, aquilo parecia um território de guerra e eles não desejariam nunca interferir nos planos do general da ação, a sua mãe.
O mordomo Henfield se adentrou na sala de visitas, todos ficaram um pouco mais atentos para saber quem seria a pessoa anunciada como visita recém chegada.
— Senhorita Arabela Fitz. — Assim que o Henfield anunciou, uma garota com cabelos escuros como a noite entrou no aposento. Ela tem a mesma idade que a Evie e talvez seja um dos motivos para elas serem tão próximas.
Arabela fez um curto cumprimento e sentou-se ao lado da amiga. A partir daí o tempo correu de maneira diferente para as três pessoas ali presentes. Para as duas meninas parecia que o relógio estava correndo e embora ambas tivessem tentado incluir Jace na conversa o máximo possível ele não conseguia ver nada de interessante em uma conversa com duas garotas de quinze anos. Ele acreditava  que com os seus vinte e um anos não acharia mais produtividade nessas conversas triviais e ligeiramente incompreensíveis, então pediu licença para as senhoritas e se retirou, gostava de fazer caminhadas mas sabia que caso se atrasasse para o baile a sua mãe ficaria furiosa e lhe puxaria as orelhas, então foi até a cavalariça e montou em um cavalo saindo cavalgando rapidamente em seguida em busca de um ar mais puro.
Enquanto Arabela e Evie se divertiam conversando sobre as frivolidades de ser apresentada a  e como seria incrível viver sendo a dona da própria vida, no quarto de Tessa o pensamento dominante era bem diferente. Ela passou a vida sonhando em conseguir um marido rico, bom e influente. A mãe dela conseguiu um conde na sua época, então Tessa sabia que teria que conseguir um título ainda maior. Não para exibi-lo esse nunca foi o seu propósito, mas para orgulhar a sua família, todos se esforçam para não pressiona-la, mas não era necessária nenhuma pressão para que ela percebesse que todos nutriam muitas expectativas com relação a ela.
Quando retirou o vestido novo da caixa constatou que havia escolhido a melhor vestimenta para usar no baile e como consequência ela sorriu. Ele era azul turquesa e tocar o seu tecido era quase como estar tocando em pétalas de rosas, o tecido era fino, elegante e delicado. A hora do baile foi se aproximando e algumas criadas chegaram para ajudá-la a se vestir, com todo aquele ar de nervosismo nem mesmo o corpete que geralmente lhe machucava as costas e apertava suas costelas conseguiu desviar a sua atenção do principal objetivo. Teria que estar absolutamente perfeita.
                          *********
— Mãe, alguém deveria apressar a Tessa, creio que não seja de bom tom chegar mais atrasada do que o considerado elegante. — Disse o Bruce. Segundo os comentários da alta sociedade, o irmão do meio (ou como ele detestava que falassem, o irmão de número dois) era conhecido como o mais ajuizado comparado aos seus irmãos, por também ser o menor dos libertinos entre eles o segundo irmão Clarke acabava por ser sempre o principal alvo de mães incansáveis apresentando-lhe suas filhas.
Não era apenas ele que estava impaciente, mas fora o único que resolveu verbalizar isso.
— A paciência é uma virtude, Bruce, tenho certeza de que não vai demorar muito mais. — Ele suspirou. Não havia mais nada que pudesse fazer a não ser esperar, embora tenha sentido uma quase incontrolável vontade de ser impertinente e dizer que a paciência não faz parte dos genes Clarkes.
— Mãe a Arabela vai ficar aqui comigo por que todos na casa dela também vão ao baile. — Lady Amélia se viu em uma posição complicada. Não podia dizer que não concordava pois já perdera a conta de quantas vezes a Evie havia ficado sob a responsabilidade da família de Arabela enquanto eles tinham algum compromisso, mas uma coisa era deixar uma garota de quinze anos em casa praticamente sozinha, outra bem diferente era deixar duas. Ambas precisavam de supervisão mesmo que não percebessem isso.
— Neste caso um de vocês vai ter que ficar também, as garotas não podem ficar completamente sozinhas em casa. — Amélia apontou para os três filhos em um tom de voz que apesar de muito fino e educado deixava claro que não esperaria contradição de nenhuma das partes. Ela não pretendia fazer nenhum tipo de pressão, eles mesmo que escolheriam quem ficaria como tutor esta noite.
— Pai, fala para ela que eu e a Arabela não somos mais crianças e podemos ficar em casa sozinhas. — Ele sorri.
— Pensar dessa forma só prova que precisam de um acompanhante. Vamos meninos, decidam qual dos três vai ficar. — Nenhum deles estava contente com a possibilidade de deixar de ir a uma boa festa para ficar em casa cuidando das meninas, mas sabiam muito bem que se eles mesmo não escolhessem, a mãe o faria.
— Vamos fazer isso de forma justa. — Disse o Henri.
— Eu jamais sonharia em fazer de outra forma. — Concordou o Jace com um sorriso de canto. Aquele garoto é imensuravelmente famoso na cidade por despertar suspiros nada discretos em diversas moças, ele com todo seu jeito brincalhão e leve de ser sabe tornar tudo uma boa conquista. E uma boa disputa. Henri já havia perdido as contas de quantos vezes entrará em disputas tolas com o irmão apenas por diversão e em todas essas fitas disputas o mais novo tentava trapacear. Ele justificava suas ações travessas com uma comparação tola sobre como aquela seria a única forma de tornar as coisas justas já que ele era o mais novo entre os três.
— Chega de palavras sem ações, vamos tirar na sorte e pronto. — O Bruce chegou com a solução em forma de três palitinhos. Os três sabiam como funcionava e sabiam também que não poderiam reclamar do resultado.
— Vocês são três crianças crescidas. Vão mesmo decidir dessa forma? — O conde Clarke olhou sorrindo para seus filhos. Era muito agradável ver que a sua prole realmente gostava um do outro, aquele era um feito difícil de alcançar naquela sociedade onde a família não importa tanto quando títulos e dinheiro.
Os três juntos falaram que sim.
— Nenhum de nós quer ficar de babá pai, mas como precisamos essa é a forma justa de decidir. — Disse o Henri e exercendo o direito de filho mais velho ele pegou os palitos e os misturou entre si. O conde levantou as mãos enquanto sorria em um claro sinal de que não iria se intrometer naquela decisão perfeitamente infantil e os garotos contaram até três e um a um foram retirando seu palito escolhido. Bruce e Henri comemoram e Jace apenas retira seu paletó com um sorriso conformado.
Havia perdido de forma justa, e nem estava com tanta vontade de ir àquele baile mesmo.
— Triste não é irmãzinha? Vai passar a noite inteira na minha companhia. Boa sorte. — Ele sorri e Evie cruza os braços fazendo birra. Uma genuína criança por mais que ela se negasse a admitir.
Neste exato momento Tessa surgiu na parte de cima da escada e sorri. Conforme foi descendo todos notaram o quanto ela estava linda, parecia até estar flutuando, como se ela fosse perfeita demais para colocar os pés sob o solo. Com toda certeza ela iria atrair diversos pretendentes consideráveis. Ela sorriu como se tivesse pensado exatamente a mesma coisa e isso a deixou satisfeita.
O Henri deu-lhe o braço e todos os outros os seguiram para a carruagem. Tessa sentia um formigamento excitante percorrendo o seu corpo e ela gostou da sensação, deduziu que isso poderia ser um bom pressagio ou coisa parecida e se agarrou a isso com todas as suas forças.


O conde de Lukewood - volume 1 os ClarkesOnde histórias criam vida. Descubra agora