capítulo 9

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A família de Tessa logo tratou de espalhar a novidade pelos quatro cantos da sociedade, ela se casaria com o conde Ház de Lukewood dentro de uma semana! Ele era um homem que com certeza todas queriam ter como marido, além de muito bonito e atraente ele era simpático e atencioso. Tem se mostrando um excelente noivo caso alguém quisesse saber, mesmo que só tenha desempenhado tal função a apenas dois dias.
Não, ele não achava que poderia se apaixonar, mas que mal há? Ele teria seus herdeiros afinal, esse era o único motivo para que se achasse um dia, e Tessa não se importava mais com o amor, ela queria se agarrar a essa possibilidade de uma vida melhor sem o julgamento de todos, embora ela fosse forçada a admitir que espera sim um dia se apaixonar por ele. Ainda parecia impossível, mas era um desejo de seu coração.
— Precisa escolher um, milorde.  — Tessa estava tentando fazer com que seu noivo escolhesse uma cor dominante para o baile de noivado deles, o problema era que o Ház parecia ter perdido toda e qualquer capacidade de decisão.
— Escolha qualquer uma e tenho certeza que estará bom.  — Estavam sentados juntos na sala de visitas de Coneliett, Tessa tinha pensado em recorrer ao seu bom gosto, mas achou que esse seria um bom jeito de tentar se aproximar mais do conde, eles se casariam em poucos dias e mesmo que já se conhecessem a alguns meses, nunca trocaram mais que farpas afiadas. Um casamento não podia se basear nisso.
— Queria que isso servisse para nos aproximar Ház, nunca nos tratamos com muita cordialidade e eu estou verdadeiramente perdida. O mais próximo que já chegamos um do outro fora nas muitas vezes em que precisávamos estar lado a lado para que ninguém além de nós escutasse as mútuas ofensas e provocações. Não sei nada ao seu respeito e imagino que muitas das coisas que não sei são parte da obrigação de uma esposa saber. — Ele sorri e parece pensar por um momento.
— Primeiro, nossa troca de farpas sempre foi uma diversão para mim, muito mais do que seria qualquer conversa vil e frívola, segundo, se quer me conhecer de fato, acho que essa não é a melhor maneira para isso, venha.  — Ele lhe estendeu a mão e ela mesmo sem compreender a aceitou. Ele pediu que chamassem sua tia Coneliett e então pediu que ela organizasse o baile junto com a sua futura sogra. Sua tia não poderia ter transparecido maior felicidade ao concordar, ele sorriu de volta e correu com Tessa a reboque.
— Venha, deixe-me ajuda-la.  — Ele segurou-a pela cintura e com um forte impulso a colocou em cima do cavalo. Tessa estava com tanto medo quando olhou para o chão que simplesmente não conseguia sentir suas pernas.
— Está com medo?  — Ela enfim notou a presença dele novamente, mas dessa vez ele também já estava encima do cavalo, com a respiração roçando em seu pescoço.
— Não, eu estou apenas imaginando quantos ossos eu quebraria caso caísse daqui.  — Ele ri da tentativa dela de ser irônica e segurou as rédeas.
— Não vai acontecer nada, eu te seguro.  — Ele deixou uma mão para guiar o cavalo e a outra para segurá-la como havia dito. Sem um aviso que antecedesse sua ação ele simplesmente colocou o cavalo para correr. Sim isso mesmo, não trotar, não andar mas sim correr. Correr com uma mulher que nunca esteve em cima de um cavalo antes.
Grandes possibilidades de algo correr mal.
Por mais incrível que isso possa parecer, ela não sentiu medo algum depois de se acostumar com a altura do cavalo, e não queria que aquele passeio terminasse. Ela se sentia viva como não se sentia havia alguns dias. Anos talvez. Viver em favor da sociedade, sempre buscando ser perfeita e desejável era uma tarefa extremamente cansativa e não tanto glamourosa quanto ela achava que seria. Ali, em cima daquele cavalo gigantesco ela se sentiu finalmente livre para ser quem quisesse, quem era de verdade, sentiu que podia fazer qualquer coisa e não por que fosse o socialmente correto, mas por que simplesmente sentia vontade e gostava. Claro que ela sabia perfeitamente que não estava definitivamente livre do escrutínio da sociedade, isso nunca aconteceria, mas podia fingir, naquele momento, que o era.
Quando Ház olhou para ela viu que seus olhos estavam fechados, ele sorriu, nunca tinha pensado que sentiria vontade de fazer alguém rir novamente, não se perguntou muito de onde vinha essa vontade, afinal de contas ela já havia sofrido o suficiente e agora era seu dever divino assegurar que ela nunca mais sentisse um sofrimento como aquele. ALI estava ele se esforçando como nunca antes, tentando cultivar uma amizade solida com a mulher que dentro de alguns dias seria sua esposa.
Aos pouquinhos o cavalo foi parando e ela abriu os olhos lentamente, tudo o que viu foi um imenso campo e, meu Deus! Ele era perfeito.
Ház a ajudou a descer manteve-se olhando para ela aguardando sua reação.
— Eu costumava ficar aqui muito tempo.  — Ele disse e a levou para a sua sombra preferida, embaixo de sua arvore preferida  naquele campo.
— É lindo. Se importa se eu tirar meus sapatos? Gostaria de sentir a grama.  — Ele sorri.
— Não seria muito elegante de sua parte e com certe-
za isso vai mostrar um pouco mais que os seus tornozelos, mas tudo bem, eu prometo que não conto para ninguém a sua atitude indecorosa. Sei guardar segredos.  — Ele disse enquanto fazia exatamente o mesmo que ela, também queria sentir a grama e nem mesmo sabia o motivo. Fazia muito tempo que não se sentia leve o suficiente para ter vontade de tocar a grama com os pés.
Tessa ri abertamente quando sente as folhinhas da grama pinicarem os seus pés, era uma sensação engraçada, mas muito boa também, ela não se lembrava mais da última vez que tinha sido apenas ela, uma garota comum sem se importar tanto com o que iriam falar a seu respeito, sem se importar se estava dentro dos limites de seu próprio decoro.
Eles se deitaram embaixo desta arvore que muito provavelmente era antiga, Tessa olhou para as raízes e elas eram decididamente muitos firmes e grossas para ser uma arvore jovem.
Ficaram assim, deitados sentindo a leve brisa no rosto sem falar absolutamente nada por longos e agradáveis trinta minutos, até que ela cansou de ficar apenas assim e se virou para ele. Tinham ido ali para que se conhecessem, então seria isso que fariam.
— Qual a sua cor preferida? — Ele estava de olhos fechados ainda, gostava de testar seus outros sentidos, ver se estavam suficientemente bons e constatou que sua audição estava sim muito boa, pois antes dela falar ele já tinha escutado ela se mexer sob a grama denunciando sua impaciência.
— Quer saber a minha cor preferida? — Perguntou o obvio.
— Ora, essa é uma pergunta bastante fácil. — Ele concordou e suspirou pensativo.
— Preto. — Ela se sentou e olhou para ele.
— Tudo bem, por que essa é a sua cor preferida? — Ele não podia crer, começou a rir descontroladamente e olhou para ela. Como poderia existir uma justificativa pra isso? Essa era só uma bobagem sem importância, pessoas escolhiam qualquer cor e dizem ser suas preferidas o tempo inteiro, para Ház não poderia existir nada menos complicado de escolher do que uma cor para chamar de favorita, e isso com certeza deveria dispensar uma sequência interminável de porquês como justificativa.
— Não complique o que é simples, é preto e apenas isso. Nem todas as coisas precisam de justificativa. — Ela ignorou o quanto ele riu dela e apenas deu de ombros. Para ela tinha que ter justificativa sim, assim como todas as coisas na vida. O sim não é simplesmente sim e ponto, tudo tem um motivo. A cor preferida dela por exemplo era o azul e parecia que sempre encontrava novos motivos para que permanecesse sendo. O céu quando está assim, ensolarado possui um tom azulado lindo, as águas dos rios, os mares, o tom que recobre o escritório de seu pai que agora pertence ao Henri. Sempre existem motivos.
— O que aconteceu com os seus pais? — a pergunta voou de seus lábios sem que ela pudesse conter.
— O que quer saber sobre eles? Direi apenas o que eu sei, como deve estar em seu conhecimento eu fui criado por minha tia. — a sua voz não guardava traços de mágoas, era quase como se Lady Conelliet realmente tivesse conseguido segurar todas as pontas mesmo tendo o criado e educado completamente sozinha.
— Quero saber o que aconteceu com eles, eu sempre soube que sua tia o criou, mas nunca soube o motivo. — ele ficou em silêncio por um tempo mais extenso que o necessário para formular uma resposta então ela imaginou que ele não quisesse conversar sobre o assunto. — Não precisa me falar se não quiser.
Ele a olhou com um sorriso.
— Não tem problema, eu estava pensando, tentando lembrar de alguma memória que eu tenha com eles, mas simplesmente não consigo me lembrar de nada. Eles morreram por causa de uma gripe eu acho, eu ainda era muito pequeno, e desde então somos só eu e a minha tia. Eu sei que ela pode ser muito inconveniente e por muitas vezes é uma mulher direta demais, mas é a única família que eu tenho.
— Sempre achei a relação de vocês linda.
Era a mais pura verdade, mesmo Conelliet não sendo mãe dele eles sempre foram unidos, mesmo quando ele havida ido embora.
Ház não quis se estender por muito mais tempo nessa conversa e logo tratou de mudar de assunto, ela não tentou impedi-lo, aquela conversa estava em um tema muito sombrio para uma tarde tão linda como aquela.
Ele disse a ela como preferia seu chá, contou suas manias de criança, e ela lhe contou cada um de seus medos e um deles ele considerou bobo, mas mesmo assim fazia parte dela, então achou um pouco fofo. Borboletas, ela tinha medo daquelas belas criaturinhas com asas perfeitamente desenhadas por Deus. Ele conseguiu compreender (ao menos um pouco, bem pouco mesmo) a fonte desse medo irracional, segundo ela mais de dez borboletas a perseguiram incansavelmente quando ela era criança, e por estar concentrada em fugir das criaturinhas ela acabou tropeçando em uma raiz de arvore e bateu a cabeça no chão com toda força, como prova do que dizia ela lhe mostrou uma cicatriz quase imperceptível que perpassava sua sobrancelha esquerda e ele achou melhor não falar que a culpa daquele acidente era inteira da falta de atenção e péssima coordenação dela e não das borboletas, então se conteve, melhor culpar as criaturas. Com relação aos medos, bem, isso ele não sabia como responder, não se considerava um homem com temores.
— Você me disse que não poderia me oferecer amor, pode me explicar o motivo? — Tessa não estava apaixonada pelo conde, longe disso ela poderia afirmar, mas não gostava de pensar que talvez nunca experimentasse o sentimento. Sempre tinha sido ensinada que o amor é uma das coisas mais belas e preciosas que a vida tem para oferecer, então por que haveria de evitá-lo quando tudo o que queria era correr em direção a ele?
Ház se endireitou e olhou para ela. Em seguida suspirou.
— Eu poderia dizer que é por nunca ter tido o exemplo de um casal amoroso em casa, como já lhe contei os meus pais morreram muito cedo e a minha tia nunca se casou. — ele encostou as costas no tronco da árvore e ela não conseguiu esperar que ele continuasse.
— E não vai me dizer isso? — ele balançou a cabeça em uma firme negativa.
— Eu não poderia fazer isso, por que seria mentira. A verdade é que existia uma mulher na minha vida, ela era muito linda, quase tanto quanto você. Durante muito tempo todos os meus pensamentos eram dominados por ela, uma mulher tão cheia de si, tão livre. Olhar para ela me fazia sentir vivo, sempre existia uma novidade, sempre era excitante. — Ele falava e seu olhar estava distante, quase como se ele tivesse retornando para estes tempos tão bons, onde tudo parecia certo para eles, mesmo que fosse condenável pela sociedade.
— Você a amava? — Tessa perguntou com um incomodo agudo no coração, não por ele ter amado alguém antes de se casar com ela, mas sim por que seu futuro marido aparentemente ainda amava esta mulher e por este motivo tinha tanta certeza de que jamais amaria a sua futura esposa. Bem, naquele momento mesmo sem ter certeza a Tessa soube que a rejeição possuía um gosto amargo. A cada momento em que ele estivesse com ela, estaria desejando que fosse outra mulher em seu lugar.
— Amava sim, ou pelo menos acreditava que amava, hoje eu percebo que amava mais a ideia do que ela representava na minha vida do que a ela verdadeiramente. Ela não respeitava as tão indispensáveis convenções sociais e isso que era tão interessante. Costumávamos vir para este campo quase que todas as tardes, eu esperava ansioso por este momento durante o dia inteiro e isso sempre refletia mal no meu trabalho é claro, mas eu não me importava, estava decidido que passaria o resto da vida com aquela mulher. Sei que isso é um pouco errado de minha parte, mas, devo lhe confessar que já vivemos muitos momentos que facilmente seriam repudiados pela sociedade bem aqui, neste lugar. — Ele deu um sorriso condescendente. Era surpreendentemente difícil para Tessa saber que o coração dele estava ocupado, mas ela tinha uma sensibilidade tão boa, tão bonita que simplesmente não podia sentir nem mesmo raiva. Até cerca de dois meses antes ela nem mesmo gostava do conde, e agora estava ali temerosa de que esta mulher sempre assombrasse o seu sono e se tornasse para sempre um fantasma em seu casamento. Ele continuou:  — Isso deve servir apenas para confirmar sua teoria de que eu sou o maior dentre os libertinos, é claro. — Ele completou com um sorriso.
Tessa olhou para baixo sentindo seus ombros ficarem tensos e pesados a cada segundo. Ele levantou o seu rosto com a ponta do dedo indicador.
— O que houve? — ele parecia preocupado, mas ela desviou o olhar do dele antes de responder. Era muito vergonhoso se sentir daquela maneira, ela não estava apaixonada por ele, mas o incômodo lhe cortava a garganta cruelmente.
Ela pigarreou para ganhar um pouco mais de tempo antes de começar a falar.
— É que... Bem, de repente eu percebi que nunca vou poder competir com isso. — Deu de ombros se sentindo completamente envergonhada e impotente.
— Ei. — ele se aproximou um pouco mais e fez com que ela o olhasse novamente. — Você nunca vai precisar competir com ninguém, com nenhuma mulher, pode confiar em mim. Eu não devia ter te contado sobre meu passado, me desculpe.
— não, eu fico realmente grata por tê-lo feito, melhor saber por você que por outra pessoa ou em alguma situação ruim. Só fiquei imaginando... — ela não terminou a frase, mas ele conseguiu conclui-la da melhor forma.
— Ficou imaginando muitas bobagens, você nunca vai precisar competir com ninguém, nunca.
Ela ficou mais tranquila com a afirmativa, se sentiria horrivelmente humilhada se fosse forçada a competir com uma lembrança, e mais envergonhada por saber que certamente perderia. Ela confiava nele, sabia que era um homem de palavra, se falava que não havia com o que se preocupar, então realmente não havia com o que se preocupar. Não perderia o sono por aquilo.
Ele não tinha obrigação alguma de lhe contar algo tão íntimo de seu passado, mas mesmo assim o fez, totalmente sem reservas e com toda sinceridade. E ela precisava saber mais.
— O que são essa atitudes que a sociedade repudiaria? — Ela não resistiu e perguntou. Estava extremamente curiosa apesar de tudo, e verdadeiramente ansiosa para saber o final daquela história.
— Creio que não devo falar algo assim para uma dama tão bem criada, mas não se preocupe em breve você saberá. — Ele disse simplesmente ignorando a expressão de contragosto que se formava no rosto de Tessa.  Em breve você saberá…  em breve...
Tessa não queria esperar por este “em breve” para saber do que se tratava, mas certamente ele não contaria antes.
— E por que você e essa mulher não estão juntos? — Ele segurou a mão dela e suspirou.
— Por que como eu disse, ela não se prendia a nada, e como eu dolorosamente descobri, não se prendia a ninguém. Eu estava decidido a pedi-la em casamento, já tinha decidido tudo e eu até mesmo tinha adquirido uma propriedade em outra cidade pois sabia que aqui a nossa união não seria aceita, eu pedi a um mensageiro que entregasse uma nota para ela, o conteúdo exato eu não me lembro mas haveria de ser alguma bobagem de amor é claro, mas lembro perfeitamente que no fim dele eu a pedia que se encontrasse comigo logo ao anoitecer. E ela veio. A noite estava absurdamente estrelada e eu achei que era algum tipo de confirmação que estava recebendo dos céus e então quando ela chegou eu percebi que se tratava do exato oposto disso. Ela me disse que o que tínhamos havia sido uma grande aventura, mas que teria de acabar pois o noivo dela havia chegado e eles iriam se casar e ir para Escócia. — Ele disse por fim com um sorriso amargo. Tessa não conseguia imaginar que alguém pudesse ser tão cruel assim. Essa mulher praticamente pisoteou os sentimentos dele e o deixou humilhado. No fim das contas não era complicado de entender o porquê ele disse que nunca amaria, a experiencia de amar (ou a ilusão de achar que era amor) foi literalmente mortificante para ele e Tessa teve uma forte vontade de abraçá-lo, mas se conteve. Não soube exatamente o motivo mas sabia que tinha que se conter.
— E você não foi atrás dela depois? — Ela já sabia a resposta é claro, insistir naquela mulher seria um esforço sem recompensa alguma além de mais dor e sofrimento, vergonha e humilhação.
— Depois dessa história extremamente vergonhosa pode até não parecer, mas eu ainda tinha algum tipo de orgulho. Eu não fui forte o bastante para permanecer na cidade, mas isso de certo modo foi bom para mim, eu consegui amadurecer bastante e pude entender que deixar os sentimentos guiarem as escolhas é a pior decisão que alguém poderia tomar. — Depois disso eles ficaram em um  silencio que durou bastante tempo. Bem mais do que seria agradável aos ouvidos de qualquer pessoa.
— A minha história foi muito pesada para digerir? Se for isso prometo que ficarei em silêncio pra que você assimile tudo.
Ela resolveu que já que se casaria com aquele homem ela deveria pelo menos ser sincera com ele em relação a suas inquietações, principalmente se estão direcionadas a ele.
— É só que… bem, é que eu... — Por que por que por que era tão difícil encontrar as palavras corretas?
Ele estava se perguntando o que ela poderia estar tentando falar de tão importante que ela simplesmente não estivesse conseguindo, isso estava fazendo com que ele se inclinasse um pouco mais para frente mostrando que estava extremamente interessado que ela concluísse seu pensamento.
— Eu continuo sem compreender o motivo de você se negar a amar. — Ela disse por fim. Bem, aquilo não era completamente verdade, ela entendia sim, e sabia disso, o que ela não compreendia era como ele poderia simplesmente querer medir todas as pessoas por apenas uma que o machucou. Corações são partidos diariamente infelizmente, mas as vezes eles permanecem assim por pura escolha.
Ele deu um suspiro pesado.
— Você não entendeu nada do que eu disse? Eu não consigo… — Ele começou a dizer, mas naquele instante Tessa tinha sido tomada por uma força inebriante, ela não podia deixar que ele continuasse daquela maneira, não mais. Ela desejava ser uma soma na vida dele, e não apenas no papel, queria fazer com que ele se curasse, ajudá-lo a lamber as feridas.
— Eu não sou ela e você sabe disso. Não pode continuar dia após dia se condenando a um vazio eterno em seu coração por que uma pessoa não soube ser o que você merecia. Sei que não nos amamos, e sei também que pode demorar bastante para isso acontecer mas se você parar de achar que em algum momento seu coração vai ser partido novamente pode ser que dê certo. Você só precisa confiar em mim por que eu estou decidida a confiar em você.
— Essa é uma decisão horrorosa. — Ele não resistiu a um gracejo e ela apenas revirou os olhos. A conversa tinha um teor sério demais para que ele a desviasse com brincadeiras.
Quando a referida mulher o abandonou ele tinha passado a  acreditar nas palavras que certa vez foram ditas a ele. Amar é destruir e ser amado é ser destruído. Suas convicções com esta frase tinham durado exatos cinco anos, ele muitas vezes tinha se perguntado o motivo de nunca ter dado a credibilidade correta para elas antes de se machucar, mas ali, enquanto olhava para Tessa ele sentiu essa mesma certeza se dissipar. Elas eram mulheres diferentes afinal, não eram? Aquilo não era apenas uma possibilidade, era um fato, Tessa nunca o faria mal daquela forma e ele sempre soube disso, mas o receio dele sempre havia sido o quanto ele poderia machucá-la. Pessoas quebradas costumam machucar pessoas incríveis. Ele não queria ser o responsável por infligir uma dor tão grande nela, mas por outro lado aquela podia ser sua chance de redenção... Se fosse esse o caso, ele deveria ao menos tentar, devia isso a si mesmo, não devia? Não faria mal aceitar e ver onde aquilo acabaria.
Talvez fosse o certo para ele... Talvez devesse apenas ceder ao que poderia ser inevitável.
— Você tem razão. Está mais do que na hora de enfim esquecer essa fatídica história e me concentrar nesta aqui que está para começar. — Ele se aproximou dela e a abraçou.
— Ah, tenho algo para você.
Ela se ajeitou no chão e olhou para ele. Algo para ela? O que poderia ser?
Ele retirou de seu bolso um lindo anel com uma pedra de safira. Era maravilhosa, sem dúvidas era o anel mais lindo que já havia visto em toda a vida.
— Acredito que seja tradição o noivo dar um anel desses para sua noiva. — ele disse enquanto erguia a mão esquerda dela e deslizava o anel pelo dedo.
— Bem, sim é, mas nunca pensei que você fosse se dar ao trabalho de comprar um desses pra mim.
Ela estava estaiada, emocionada e maravilhada. O anel era definitivamente incrível.
Ele se virou para frente, evitando olhar para ela.
— Eu não comprei. Esse foi o anel de noivado de minha mãe, espero que não se importe por não ser algo novo. Achei que você fosse do tipo que gosta de relíquias de família. — ele deu de ombros mas estava visivelmente curioso para saber se ela havia gostado ou não do anel.
— O senhor acertou em cheio milorde, agora gosto ainda mais desse anel, ele possui histórias além de beleza. Muito obrigada.
Ela estava sorrindo abertamente. Ele a considerava o suficiente para lhe dar algo que havia pertencido a sua mãe, não poderia estar mais contente que naquele momento.
Ház sempre havia achado Tessa uma mulher linda, interessante e muito desejável, apesar de também ser muito  e enlouquecedora, ele não estava mentindo, Deus sabia o quanto ela era. Mesmo assim ele sentia que podia ser diferente, e teve a certeza de que não queria estragar tudo.
                           *********
  Após uma semana muito produtiva, agradável e tranquila e depois do baile de noivado ter sido simplesmente mágico tudo finalmente parecia estar em seu devido lugar. O noivado havia sido mais que magico na verdade, era uma tarefa impossível descrever a sensação de adentrar naquele salão acompanhada de Ház, a primeira coisa impactante sem dúvidas havia sido a magnifica decoração, a cor que predominava o ambiente era um azul claro e um branco cintilante do tipo que se imagina vestindo fadas, aquilo estava dando a sensação de fazer parte de um sonho perfeito! A segunda coisa que mais marcou a mente de Tessa fora o fato de toda a sociedade Denalhiense ter tido que engolir todas as suas fofocas já prontas quando viram que mesmo com todo escândalo e humilhação que o duque a havia feito passar ela teria um casamento honrado com um homem como o conde de Lukewood, a expressão no rosto das pessoas enquanto ela valsava com seu noivo fora sem dúvidas inesquecível. Ninguém jamais se atreveria a pôr em dúvida a honra dela novamente, afinal quem iria querer atrair para si a fúria da condessa de Lukewood, e mais ainda, de seu marido? Alguns espectadores pareciam admirados, outros tentavam forçar esse mesmo olhar de admiração, alguns eram mais ousados e mostravam a hostilidade, raiva e inveja sem tentar disfarçar. E então o dia do casamento chegou. Tessa estava nervosa, mas ela sentiu uma estranha e reconfortante sensação de que aquela era a coisa certa a fazer, e conseguiu ter um pequeno vislumbre que fez com que seu coração saltasse dentro do peito. Ela seria feliz. Eles seriam felizes, mesmo que aquele teimoso ainda não fosse capaz de admitir isso.
Depois de já vestida, Amélia entrou no quarto onde Tessa estava. Não existiam palavras no mundo capaz de descrever o quanto uma mãe ficava feliz ao ver sua filha vestida de noiva, Amélia sentiu que seu coração poderia explodir a qualquer momento pois nunca em sua vida tinha imaginado que além de tanta alegria ela também sentiria aquela sensação de saudade adiantada. Tessa ainda estava ali diante dela ao alcance de seus braços e ela já sentia que tudo havia mudado e seu trabalho como mãe para ela talvez tivesse findado.
— Olhe só para você, está perfeita. Seu pai teria adorado ver isso. —  Tessa sabia que era verdade, e isso era a única coisa que não permitia que ela estivesse se sentindo completa naquele momento, a falta de seu pai. Tudo ainda era muito recente, mas a pessoa que mais tem sentido o mundo desabar a cada dia era o Henri, isso preocupava a todos na família.
— O Henri me preocupa mamãe. — Amélia fez que sim com a cabeça.
— A mim também, mas ele precisa de um tempo maior para aceitar o que aconteceu e entender que possivelmente não existe um motivo oculto por trás, de certo foram saqueadores, mas ainda é difícil para ele aceitar. Você sabe que o seu pai era a pessoa mais importante para o seu irmão, o coração dele está em pedaços e a forma que ele encontrou de reagir foi essa. Esqueça disso por hoje minha querida, é o seu casamento. — Tessa assentiu. Henri ficaria bem, já era um homem e sabia perfeitamente o que faz.
— Esse é o momento em que me abraça e diz que vai ser uma história linda? — A Amélia a abraçou sorrindo.
— este é o momento em que eu preciso conversar com você sobre… é… as relações matrimoniais. — Tessa quase ri do enorme embaraço da mãe. Coneliett já havia tido essa “conversinha” com ela três dias antes mas como poderia dizer isso para a mãe? Simplesmente não podia. Ela sempre soube que isso era responsabilidade das mães em geral e Coneliett não deveria ter sido tão intrometida, mas não havia como impedir de que ela simplesmente fizesse tudo o que tinha vontade. “A sua mãe vai recatar essa conversa o máximo que puder”, ela disse antes de despejar todo seu conhecimento sobre o assunto com grande riqueza de detalhes.
— Essas relações são para fazer os bebês não é? — Amélia disse que sim e então simplesmente começou a rir de uma forma que com certeza ela mesma denominaria como deselegante.
— Nunca pensei que isso seria tão difícil. Desculpe meu riso descontrolado filha, eu não pude me conter. Voltando ao assunto, você não tem motivos para ficar temerosa, é tudo muito natural e com certeza ele vai ser atencioso. Apenas confie nele e tudo correrá bem. — Ela segurou a mão de Tessa enquanto a menina suspirava profundamente três vezes seguidas. Tessa pensou que talvez fosse tão simples como a mãe havia dito, bastava que ela confiasse e tudo correria bem.
O fato é que Tessa nunca achou que fosse algo simples. Ela sabia algo a respeito? Definitivamente não, mas, os bebês são minúsculas pessoas completamente perfeitas e como esse ato em questão é para fazê-los parece um pouco de presunção achar que é coisa simples. É o ato de fazer uma pessoa! Uma pessoa de verdade!
Bem, ela teria que esperar para saber, de nada iria adiantar essa antecipação do desespero.
                          *********
Ház tinha se levantado feliz. Pela primeira vez em cinco longos anos ele tinha realmente acordado se sentindo genuinamente feliz.
As coisas com a Tessa estavam indo muito bem e toda a sua família estava feliz por enfim poder calar de uma vez por todas a infame boca da sociedade. Quando ele saiu de casa para uma breve caminhada antes de ir para a igreja ele a viu.
Ela. Não era qualquer pessoa que ele quisesse ver, ou melhor não era alguém a quem ele tivesse imaginado que veria novamente. Era ela.
Continuava tão linda quanto ele se lembrava e aquilo o deixou tão atordoado que foi um verdadeiro milagre conseguir permanecer firme em cima das próprias pernas. Sem nenhum controle sobre si mesmo ele foi caminhando a passos curtos até ela, afinal de contas ainda existia a possibilidade de que estivesse apenas alucinando. Claramente não era uma opção agradável, mas era consideravelmente melhor do que ela estar de fato ali diante dele justamente no dia de seu casamento.
Conforme ele se aproximava viu a possibilidade se dissipar, não existia a menor chance de ser alucinação, era ela, definitivamente ela estava ali olhando para ele com aqueles enormes olhos escuros como a noite e sorrindo como se nada tivesse mudado nos últimos anos.
— O que você está fazendo aqui? — Ele segurou o braço dela com bastante força, estava tentando se concentrar na sua respiração para evitar de fazer qualquer coisa da qual se arrependesse profundamente mais tarde.
— Eu sei que te magoei Ház, mas eu preciso de ajuda. — Ele não pôde evitar rir, não por não se sentir bem humorado e não para limpar a garganta, mas riu pensando em como ele a ajudaria com tanta facilidade algum tempo antes, para o azar dela e contentamento dele, no momento simplesmente não tinha vontade de fazer nada para ajudá-la.
— Eu não tenho participação alguma com os infortúnios de sua vida Tália, quero que faça exatamente o mesmo que fez a cinco anos. Desapareça. — Ele soltou o seu braço, mas ela não permitiu que ele se fosse.
— Sei que hoje é o seu casamento e entendo que não possa conversar agora, mas amanhã me encontre naquele mesmo lugar de sempre. Por favor. —Ela olhava para ele com os olhos exalando súplica e ele disse que iria encontra-la, tentou se convencer que respondeu isso apenas para tirá-la de seu encalço, e quando viu que ela realmente não o seguiu novamente pensou que tinha sido o melhor, ele havia apenas dito o necessário para afasta-la ao menos por hora, caso o problema ficasse maior ele cuidaria disso quando chegasse a hora. O importante é que não voltaria a vê-la naquele momento, estava no dia do seu casamento e toda a história que envolvia Tália finalmente ficaria para trás. Tinha que ficar para trás.
Ele caminhou para a igreja e soube que era ali onde sua vida recomeçaria, dessa vez ele teria uma boa história, com a pessoa certa. Ele sorri pensando em Tessa e constatou que estava correto, ele iria se casar com a pessoa certa.
                            *********
A cerimônia havia sido impecável e com toda certeza muito altiva apesar de um pouco mais simples que o esperado para uma família aristocrata. Os votos apesar de rápidos foram muito lindos e feitos com convicção de se dedicarem intensamente a cumpri-los, depois disso eles ficaram juntos para receberem todas as felicitações matrimoniais ao conde e sua nova condessa. Tessa não tinha se permitido pensar nem um pouco em se tornar uma condessa naquele ano, mas agora que isto havia se tornado algo real ela não poderia se sentir mais contente, não pelo título em questão (ela já havia parado de imaginar que títulos são o que mais importa em um casamento), mas por saber que além de uma condessa ela era agora orgulhosamente a senhora Lukewood, esposa e futura mãe.
Riu com o pensamento. Quando ela poderia ter imaginado que se sentiria orgulhosa ao se tornar esposa de Ház? Certamente não acreditaria caso lhe dissessem antes.
Nenhuma palavra conseguiria definir melhor a festa do que satisfação. Pura e completa satisfação. A decoração contava com cortinas azuis de cetim, velas em candelabros ornamentados com perfeição e muitas flores silvestres. Os docinhos estavam maravilhosos e a bomba de chocolate recheado com creme de damasco estava uma verdadeira tentação. Isso sem falar no bolo que estava tão alinhado e bem decorado que dava pena ao saber que teriam que corta-lo.
— Como se sente? — Ház perguntou a Tessa, que agora já era oficialmente sua lady.
— Praticamente igual a ontem. — Ele percebeu que ela estava apenas brincando, claro que nada estava igual a ontem ou a qualquer outro dia anterior. Era o dia em que a vida deles havia deixado de seguir por dois caminhos e passaram a seguir juntos em apenas um. Um era do outro, eu sou do meu amado, e o meu amado é meu. Foi a frase de maior ênfase durante a cerimônia e a que mais martelou na mente de Ház também.
— Não se sente nem um pouco casada? Por que essa é uma das coisas que mudou de ontem para hoje e não creio que seja algo insignificante. — Ele respondeu rindo. Isso era uma coisa que ele sempre iria querer conservar entre eles, Ház adorava a maneira como era fácil conversar com ela, sempre foi assim mesmo quando eles se detestavam até os ossos, nunca sentiu que deveria ser polido demais o tempo inteiro, com medo de olhares tortuosos da parte dela, com ela ele podia ser simplesmente ele mesmo e isso o fazia sorrir. Era muito bom não precisar se preocupar o tempo inteiro se iria ou não dizer alguma coisa estúpida, ele podia ser ele, mesmo que em algum momento acabasse falando algo estúpido, ele sabia que se acontecesse não precisaria se sentir mal por isso, ela poderia até ficar brava com ele (e ficaria em todas as vezes), mas certamente acharia preferível conversar com um homem sincero com algumas frases ridículas a um falso de palavras decoradas e mentirosas.
— Esse deveria ser um pequeno indício, é verdade, mas não, não estou me sentindo casada. — Ela disse rindo.
Ele lhe lançou seu melhor sorriso malicioso digno de seus tempos de libertinagem.
— Não se preocupe, eu vou me encarregar de fazer você sentir muitas coisas a partir de hoje, se sentir casada é uma delas. — Ela não sabia se ria ou se ficava surpresa pelo tom de sua voz, naquele momento em especifico ela sentiu uma serie de borboletas voando compulsivamente em seu estômago, isso era um problema, pensar em borboletas tinha o poder de deixá-la apavorada e pensar que em alguma possibilidade remota poderiam existir muitas delas por perto a fez se sentir ainda mais nervosa.
— Vossas graças, trago minhas mais sinceras felicitações. — A senhora Catiana estava diante deles derramando o equivalente a duas cachoeiras pelos olhos. Ela é a mãe da Arabela e como ela era a filha única, Tessa não soube mensurar o quanto se sentia mal pela garota. A mãe colocava a pressão de suas próprias expectativas em cima da jovem sem se preocupar com o tipo de influência que isso poderia ter sobre ela. Era muito tranquilizador saber que a Evie era o mais próximo de uma irmã para ela, e com toda certeza um certo descanso de sua mãe chorona.
— Desejo uma vida longa e feliz para vocês. — Arabela disse e assim que terminou pediu que desculpassem os maus modos de sua mãe.
— Não há problema algum senhorita, imagino que o casamento apenas tenha emocionado a sra. Fitz. Agradeço por todas as felicitações e por favor aproveitem a festa. — Ház agradeceu pelos dois com um enorme sorriso no rosto. Ele tinha um jeito todo especial de fazer as pessoas se sentirem menos piores com situações assim. Era um dom divino com certeza.
— Me desculpem por favor, eu apenas estou imaginando como será quando chegar o momento de ver minha Arabela se casando. — Catiana não obteve resposta, tanto Ház quanto Tessa notaram o revirar de olhos da Arabela e preferiram não forçar a menina a mais uma contrariedade seguida de constrangimento.
Elas se afastaram e a festa de casamento seguiu mais perfeita do que o planejado, Tessa dançou com seus três irmãos e com o seu marido, Ház dançou com a cunhada, a sogra, sua tia Coneliett e claro que com a sua esposa.
— Eu falei que ainda veria eles dois muito mais que resolvidos. — Disse a Coneliett dando uma bela cotovelada nas costelas do Bruce. Aquela senhora raramente errava em qualquer que fosse seu palpite, era assustador e icônico.
— Ai! Sra. Coneliett por que fez isso? Não fui eu quem duvidou de sua capacidade de apostar no impossível e ganhar, foi o meu irmão. — Ele respondeu passando a mão no local atingindo. Coneliett deu de ombros.
— Não faz diferença, qualquer um de vocês três Clarkes dão no mesmo. — Ela ri. As pessoas costumavam falar coisas semelhantes a isso, e não apenas por se parecerem muito fisicamente, mas sim por serem tão unidos quanto de fato são. Isso certamente tinha ligação com a maneira que foram criados, sempre como filhos e raramente como herdeiros. Isso dissipava as possibilidades de disputas entre os irmãos, o Herdeiro do condado era apenas um, e toda a família serviria de apoio para ele, todos estavam contentes com a divisão divina de responsabilidades com a família.
Em pouco tempo a carruagem nupcial chegou, ambos se despediram de suas famílias e entraram juntos. Conforme o chofer se distanciava da música ainda constante, Tessa foi ficando cada vez mais ansiosa.
— Para onde estamos indo? — Ela estava com as mãos postas uma em cima da outra em seu colo recatadamente, Ház sorriu ao perceber que com certeza os nós de seus dedos estavam  completamente brancos quando ela começou a apertar as pregas do vestido. Um comportamento que seria facilmente repreendido por sua mãe, o vestido dela estava ficando cheia de dobras e amassados. Completamente vincados.
— Você sabe que eu não vou te fazer mal, não é? — Ela estava olhando pela janela e então se virou para ele e seus olhos transmitiam ansiedade e talvez nervosismo, mas de forma nenhuma foi possível encontrar medo ali, na certeza ou na dúvida, ela confiava nele.
— Eu sei disso. Só estou um pouco ansiosa. — Ele fez que sim, se levantou do banco que estava em frente a ela e se sentou ao seu lado.
Pegou suas mãos e depositou um beijo suave em cada uma delas.
— Se você relaxar um pouco, pode ser que não fique tão ansiosa. — Ele retirou as longas luvas de seda branca dos braços de Tessa e se sentiu muito mais íntimo dela ao poder sentir sua pele.
— Eu estou relaxada. — Isso não passava de uma resposta automática e muito mentirosa, ele sabia disso e sabia que ela sabia que ele sabia, ela não estava relaxada e quanto mais o seu corpo ficasse tenso, mais difícil seria o processo para eles. Ele olhou para ela em busca de qualquer tipo de rejeição em seus olhos, mas como não encontrou ele interpretou como uma receptividade maior a seus avanços. Precisava fazer com que confiasse nele, precisava fazer com que a primeira noite deles como um casal de verdade fosse perfeita e não aceitaria proporcionar menos que isso para ela. Esse momento definiria a interação que eles teriam durante todo casamento, então tudo precisava ser perfeito. Ele sabia que a inocência dela era incontestável, uma mulher (principalmente a sua mulher) que nunca havia sido tocada por um homem precisava que tudo aquilo fosse reverente, e ele precisava que o casamento deles fosse perfeito e satisfatório, então faria tudo o que estivesse ao seu alcance para que assim fosse. Começando por essa noite e seguindo pelo resto de sua vida.
Ele tocou seu rosto suavemente com a ponta dos dedos para não a assustar e sentiu seu corpo estremecer um pouco. Ele sorriu.
— Eu vou beijar você agora, está bem? — Ela tentou falar alguma coisa, tinha sido perfeitamente articulada a menos de cinco segundos atrás (tudo bem, muito provavelmente não tão “perfeitamente” articulada assim) mas, agora estando com o nariz praticamente colado ao dele ela havia perdido toda capacidade de formar algo que fosse minimamente compreensível então se limitou a balançar sua cabeça de cima para baixo em um silencioso sim. Ela também queria aquele beijo, e queria muito.
Tessa sentiu uma deliciosa comichão de sentimentos mútuos enquanto ele se aproximava lentamente, e quando seus lábios se tocaram Ház simplesmente não soube explicar o motivo de nunca ter feito aquilo antes. O balanço da carruagem dificultava um pouco os seus movimentos, mas isso não passou de um mero detalhe enquanto ele apreciava o deleite que era saber que a partir daquele dia, todos os seus beijos seriam para ele. Ele começou a dar movimento e firmeza ao beijo diminuindo a quantidade de inocência presente, ela timidamente lhe concedia espaço para poder mostrar a quantidade inumerável de sensações que apenas um beijo pode transmitir. Aos poucos ele começou a fazer com que suas mãos participassem daquele incrível momento em completa concordância com suas línguas que agora dançavam perfeitamente juntas, acariciou os seus braços e posicionou uma mão atrás de sua cabeça, Ház nem mesmo em mil anos conseguiria explicar o quanto era maravilhoso saber que ela estava ali, em seus braços (onde agora estaria por toda a vida, nunca era demais recordar) quase que completamente entregue a ele e ela nem mesmo sabia o quanto estava conseguindo mexer com todos os seus pensamentos e sentimentos mais primitivos, e ele com toda certeza planejava colocar alguns deles em pratica assim que estivessem em um local apropriado.
Ela se afastou buscando um pouco de ar.
— Eu preciso respirar. — Ela falou com sua voz realmente transmitindo isso, o ar infelizmente já se fazia necessário. Era impressionante como Ház não tinha notado, ele possivelmente iria continuar ignorando isso se fosse para continuar beijando-a mesmo que como consequência terminasse com ele desacordado de tanto que seus pulmões estariam sem ar. Valeria a pena, sem dúvida. Ele sorri com esse pensamento, não era preciso que quisesse beijá-la como se o amanhã não existisse, ela seria sua agora e eles teriam longos anos para beijos acalorados, não havia necessidade de agir como um adolescente imprudente com os hormônios em ebulição, por favor, aquela não era a primeira vez que ele estava com uma mulher! E mesmo sabendo disso, tudo o que ele queria era beijá-la novamente como um jovem afobado que acabara de descobrir o que é ter uma mulher em seus braços.
Era engraçado e muito, muito, muito patético. Ainda bem que sua esposa não tinha o poder de ler mentes ou com certeza ele decairia no conceito recém formado dela sobre ele.
Controle-se Ház, você sabe como agir, não troque os pés pelas mãos.
— Para onde estamos indo? Você ainda não me disse. — Ela chamou sua atenção, ele se sentou comportadamente ao lado dela novamente como um verdadeiro cavalheiro.
— Para a nossa lua de mel é claro. — Ele disse como se fosse obvio, o que de fato era verdade.
— Isso eu já sei, mas quero saber para qual lugar. — Ele sabia desde o princípio o que ela estava insistentemente perguntando, mas ele queria conseguir preservar aquela informação, queria que fosse uma surpresinha e como um bônus inesperado, poderia vê-la se corroendo de curiosidade.
Ela insistiu mais um pouco pelos próximos dez minutos e pela mesma quantidade de tempo ele permaneceu em silêncio, chegou até a fingir que estava dormindo apenas pelo prazer de irritá-la um pouco mais, saber que ela estava ficando cada vez mais curiosa era uma inclusão bastante agradável para seus planos.
A carruagem aos poucos foi parando e ele se voltou para ela com um sorriso condescendente.
— Sua curiosidade vai ser saciada agora mesmo minha esposa. — Ele desceu e a ajudou a descer também. O restante do caminho era bem curto então não foi dificuldade alguma chegarem.
A mera menção da palavra esposa fez brotar um sorrisinho discreto e sincero nós lábios de Tessa. Ainda não conseguia acreditar que agora era uma mulher casada.
— Um chalé? — Ela perguntou forçando os olhos para captar o máximo possível mesmo na escuridão da noite.
— Sim. Eu tenho a bastante tempo e mesmo gostando muito eu raramente venho aqui. — Ele tinha um apego especial por aquele chalé e o primeiro motivo disso é que era uma de suas únicas propriedades onde Tália nunca esteve. Trazia uma essência mais pura para aquele local, mais leve e mais agradável.
Aquele lugar deveria ser preenchido apenas pela beleza de sua esposa, pelo cheiro dela que incrivelmente o lembrava do verão. Aquele lugar tinha espaço apenas para ela e ele queria fazer com que ela sentisse isso.
— E por que me trouxe para este chalé? — Ele sorri.
Incrível como ela sempre tem perguntas a fazer.
— Por que minha querida, tem uma quantidade reduzida de criados e isso me possibilita uma menor chance de interrupções. — Ele tinha certeza de que ela tinha compreendido, mesmo que parcialmente é claro, mas ela tinha compreendido sim a essência do comentário, disso ele não tinha dúvidas.
— Quanto tempo planeja que fiquemos aqui? — Ele começou a tamborilar os dedos na face.
— Uma semana ou duas. — Ela concordou.
— É um tempo razoavelmente aceitável. — Ele sorri e com certeza não iria perder a oportunidade de mais um gracejo.
Eles já estavam em frente ao chalé e quando ele abriu a porta a pegou em seus braços com uma rapidez impressionante.
— Acho que prefiro ficar no mínimo um mês. Quem sabe, talvez um pouco mais que isso. — Ela sorri. Ele já tinha dado ordens aos criados que não estivessem a sua espera, então estavam apenas os dois e ele não esperou mais meio segundo antes de subir para o quarto com ela nos braços. Ela não sabia muito bem o que esperar, mas sabia que podia confiar nele de corpo e alma. Ele queria mostrar a ela que a paixão e o desejo podem ser um ótimo guia para um casal.
E ele mostraria.
— Esse é o nosso quarto.
Ele abriu a porta para que ela entrasse.
Ficou por alguns minutos parado na porta apenas observando-a admirada com todos os detalhes do ambiente.
Ele imaginou a forte possibilidade dela se sentir envergonhada na primeira vez então antes de chegarem ele deu algumas instruções para seus criados, uma delas havia sido diminuir a quantidade de velas no quarto para que a luz ficasse mais fraca e o quarto estivesse em uma penumbra agradável.
Ele foi se aproximando dela e estendeu a mão para segurar a sua cintura e vira-la para ele.
— Sei que devia ser muito paciente essa noite, mas acho que não consigo esperar muito mais. — disse enquanto a unia ao seu corpo.
— Então não espere. — disse timidamente. Ela não fazia muita noção do que a esperava, mas estava ansiosa para descobrir.
Ele tomou seus lábios em uma ardente demonstração de afeto e desejo, enquanto isso corria suas mãos lentamente por toda extensão do seu corpo, ele não queria assusta-la, mas não pôde evitar fazer com que sua mão magicamente escorregasse da cintura dela para a leve curva de seu traseiro. Uma vez que sua mão já estava lá, ele não se impediu de aproveitar, tocou, alisou e apertou com toda a propriedade que lhe cabia, ela por sua vez suspirava profundamente e arfava tentando acompanhar os movimentos de seu esposo. Não havia sido difícil, toda aquela intimidade parecia certa e seu corpo sabia exatamente como reagir ao toque dele mesmo que ela não soubesse o que fazer com aquilo.
As mãos dele subiram até o corpete e desfizeram o laço que o sustentava afrouxando-o. Ela estremeceu um pouco pelo susto inesperado.
— O que está fazendo? — Ela sussurrou baixinho. Ele a virou de costas para ele e enquanto depositava beijos em seus ombros e pescoço ia retirando o corpete.
— Apenas confie em mim. — Ele disse assim que o corpete fora parar no chão. Ela se sentia muito mais exposta do que esperava, mas confiava nele.
Respirou fundo e por sua própria conta virou-se novamente para ele e sorriu.
— Você é muito linda. Surpreendentemente mais do que eu imaginava. — ele confessou enquanto a admirava sob a luz fraca da vela. Não conseguia ver tudo com ampla perfeição, mas ele sabia que sua mente não o estava confundindo, ela era linda, perfeita. Tinha certeza disso. Sempre havia tido.
Ela estreitou os olhos e sorriu um pouco mais.
— Então o senhor já havia me imaginado despida antes, milorde? Inacreditável. — passou a mão pelo ombro esquerdo dele.
Ház sorriu e concordou com a cabeça.
— Não posso negar que você me irrita como ninguém mais no mundo, mas eu não sou hipócrita. Desde a primeira vez que a vi eu a achei encantadora, delicada, linda, dedicada e forte, isso tudo além de ser muito atraente. Não culpe o homem por deixar que seus pensamentos vagueiem por ai. — deu de ombros gargalhando com a cara de brava que Tessa assumiu depois disso.
— Isso claramente se aplica apenas a homens solteiros. Por que ai de você se deixar que seus pensamentos vagueiem por outras mulheres Ház. — Ela se afastou dele e cuzou os braços.
Era bom saber que mesmo sem amor ela sentia algum ciúme dele. Fazia com que se sentisse desejado e muito querido.
Ele a segurou pelo braço e a puxou com força para junto de si novamente.
— Não fique longe de mim. E não precisa se preocupar com a direção dos meus pensamentos, cada uma de minhas libertinagens tanto carnais quanto imaginárias são direcionadas a apenas uma mulher. Você. Eu sou um homem fiel, pode confiar. —para confirmar o que dizia ele a beijou novamente, mas dessa vez ele foi caminhando em direção a cama, sem nunca partir o beijo.
Ele a deitou no leito e em seguida se despiu deitando-se ao seu lado.
Ela estava visivelmente assustada enquanto olhava-o de cima a baixo diversas vezes.
— Não vejo possibilidades disso dar certo. — ele sabia que não deveria ter sorrido. Ela estava assustada e ele precisava dar-lhe apoio e segurança, mas naquele momento ele sorriu por meio segundo antes de controlar-se novamente.
— Vai dar certo, e eu vou tentar fazer com que relaxe e aproveite tanto quanto eu sei que vamos aproveitar juntos por toda vida.
Ele a beijou no pescoço novamente e suas mãos a percorriam. Aquilo era muito bom, fez com que ela esquecesse de qualquer coisa que estivesse temendo antes que ele a tocasse, aquelas mãos... Aquela boca.... Aquele homem por inteiro jamais a machucaria.
Ela parou de tentar raciocinar a todo momento e se deixou ser guiada por ele, deixou a vergonha de lado e resolveu que também merecia explorar o corpo do seu marido. Será que ele a acharia atirada demais? Atrevida demais? Será que deveria perguntar? Mas, ela não queria isso, não se sentia capaz de esperar por uma resposta, ela queria conhecê-lo como ele mesmo a estava conhecendo naquele instante, então sem se preocupar em estar sendo menos recatada do que uma moça deveria ser nas suas núpcias, ela o tocou por inteiro, correu a ponta dos dedos sobre a sua pele e se surpreendeu deliciosamente quando ele arfou satisfeito. Ele havia gostado de seu toque! Ela não sabia as coordenadas de como seguir na intimidade de um casal, mas de alguma forma conseguiu fazer algo que ele realmente gostou!
— Continue me tocando, não pare. — ele disse e ela percebeu que suas mãos estavam realmente paradas enquanto ela contemplava a ótima sensação de ter feito uma coisa agradável no começo da relação sabendo que provavelmente não tinha nada a oferecer além de uma gigantesca gama de inexperiência.
— Não vou parar, tenho certeza que ainda há muito o que explorar. — ela correu um dedo pelo peitoral dele enquanto o olhava nós olhos.
Um sorriso malicioso surgiu dos lábios de Ház.
— Pode acreditar nisso, milady, a noite está apenas começando.
E dito isso ele avançou sobre ela beijando-a por todo o corpo arrancando dela os sons mais deliciosos que ele já havia escutado na vida. Queria ouvir aquilo para sempre.


















O conde de Lukewood - volume 1 os ClarkesOnde histórias criam vida. Descubra agora