capítulo 15

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O nono mês de gestação estava sendo quase impossível de se manter de pé. Nada de muito interessante havia acontecido na vida de Tessa nos últimos três meses, a não ser por dois divisores de águas. O primeiro foi que ela tinha conseguido finalmente enviar uma carta para o seu marido e isso a fez sentir que tinha conseguido dar um passo em direção a superação. Ela estava finalmente conseguindo perdoar toda a mentira. O que doeu mesmo fora isso, toda a mentira, ela se sentia traída e enganada e doía demais, mas conforme seus dias iam sendo ocupados com as risadas de sua família, compras com as meninas e as longas conversas com sua mãe ela percebeu que podia perdoar aquilo, e era necessário admitir que as conversas com sua mãe tiveram grande importância nisso, afinal o que ela mais dissera fora “ eu adoraria que o seu pai ainda estivesse aqui podendo mentir para mim e eu estando a seu lado para perdoar”, claro que ela sabia que não se tratava da mesma situação nem de nada meramente similar, mas ela entendeu o que a Amélia queria dizer, Tessa tinha um marido a quem amava mais que tudo e por milagre divino ele se sentia da mesma forma, não seria bom e nem mesmo justo se manter afastada dele por algo que ela conseguiria perdoar, ele errou tentando acertar e ela começara a levar isso em conta. Não estava pronta para voltar para casa, mas estava pronta para deixar com que ele ocupasse todos os seus pensamentos novamente. O outro divisor de águas se trata de uma paz de espirito muito grande adquirida pelo fato de Tália parecer ter evaporado. Ela queria muito que o irmão tivesse conseguido encontrá-la para entregá-la as autoridades, mas como não foi possível ela não reclamou, mesmo que ela não pagasse por tudo o que fez diante das leis dos homens ela pagaria diante de Deus, Tessa tinha certeza disso, então ela resolveu apenas descansar e se concentrar nas coisas boas que estavam acontecendo. Além de tudo estava sendo muito divertido ver seus irmãos desesperados toda vez que a viam.
— Vocês também tem a sensação de que ela vai explodir a qualquer momento? — O Jace a encarava com os olhos genuinamente amedrontados como se de fato achasse que ela fosse explodir.
— Eu acho que parece que ela engoliu uma melancia inteira, olha como está pontuda e completamente baixa. — Bruce comentou analisando a irmã de cima a baixo.
— Tem certeza que não vai cair? Eu fico aflito toda vez que olho para a sua barriga minha irmã, está assustadoramente baixa, e parece muito pesada. — Henri disse quase rindo e Tessa o encarou ironicamente. Como se já não estivesse sendo suficientemente complicado carregar aquela barriga gigantesca para todo lugar, tinha que ficar ouvindo comentários bobos como aqueles. Ainda bem que é trabalho da mulher dar à luz por que se fosse dos homens, Tessa tinha a nítida certeza de que mais da metade das pessoas simplesmente não existiriam.
— Eu juro que já estou com pena das futuras esposas de vocês quando estiverem gravidas. — Cada um fez uma expressão diferente. Jace a olhou como se estivesse muito ofendido ou como se ela tivesse desejado algo extremamente terrível para ele, Bruce ficou de olhos arregalados como se estivesse visualizando seu futuro e Henri fingia não se importar mas estava visivelmente nervoso. Ela riu, será que eles não iriam desistir de lutar contra o matrimonio? Se bem que ela tinha absoluta certeza que o “medo” deles não se devia ao casamento em si, e sim às barrigas de gravida.
— Isso ainda vai demorar muito para acontecer. — Henri constatou e Tessa imaginou o deleite que teria caso ele fosse o próximo a se casar.
— Parem já de importunar a minha esposa, ela está linda e a barriga dela também. — De repente o cômodo se iluminou, Tessa esqueceu do quanto seus irmãos estavam dedicados a irritá-la e a única coisa na qual conseguia se concentrar era o som da voz de Ház.
Ela não tinha percebido o quanto tinha sentido falta de olhar para ele, ao contrário de Ház que soube disso desde o momento em que ela saiu de casa.
Ele se sentou ao lado dela e colocou as duas mãos em sua barriga.
— está bem grande. — O comentário era obvio, qualquer pessoa perceberia que ela estava a ponto de ter uma pessoinha saindo de dentro dela, mas admirou o fato de não ter ficado em silêncio.
— Agora estou apenas esperando que ele deseje nascer, já estamos no tempo estipulado pelos médicos. — O olhar dele se entristeceu. Claro que ele não comentaria, mas a verdade é que se sentia mal por não ter acompanhado o desenvolvimento da gestação de perto, tudo o que sabia vinham das informações que Henri passava e apesar de bem intencionado não fora capaz de fazer uma descrição completa sobre como sua esposa estava e isso não poderia ser mais frustrante!  Ela não permitira que ele a visitasse antes, mas agora ele iria tentar de tudo para que ela retorne com ele para o lar deles, de onde nunca deveria ter saído.
— Espero que não demore muito. — Ele retrucou sorrindo.
— Acho que estamos sendo ignorados. — Constatou o Bruce capturando a atenção de todos novamente enquanto encarava o casal com falsa incredulidade.
— Somos definitivamente invisíveis. — Completou o Henri se recostando no encosto da cadeira de uma forma bastante deselegante (deixando registrado que ele jamais se portaria desta maneira na frente da mãe ou ela certamente puxaria suas orelhas) com um sorriso indulgente.
Jace começou a bater com o dedo indicador na lateral do rosto com uma expressão pensativa.
— Deveríamos usar essa habilidade para sermos heróis ou para o crime?
Foi impossível segurar o riso. Os três irmãos sempre foram unidos até a alma, era quase impossível distinguir onde terminava um e começava o outro, e eles sempre usaram esta união para atormentar com muita dedicação (como fazem todos os irmão que se prezem) as irmãs mais novas.
Tessa sentiu uma dor incomum, era como uma pontada na barriga, como se o bebê a estivesse puxando para baixo.
— O que aconteceu? Você perdeu a cor de repente. — Ház a encarou preocupado. Tessa estava a pouco mais de um minuto completamente em silêncio como se tentasse distinguir o que sentia. Isso não poderia ser chateação por ele estar presente não é? Se fosse algo minimamente parecido ela teria dito, mesmo que fosse mandando-o ir embora e respeitar a distância que ela havia imposto entre eles, logico que ele não acataria desta vez mas isso não a impediria de falar.
— Fala, Tessa. O que está acontecendo? — Parecia que seus irmãos também haviam perdido a paciência de esperar e já estavam os três ajoelhados diante dela, todos com a mesma expressão de preocupação. Neste exato momento a única pessoa com capacidade de raciocínio naquele momento apareceu na sala aparentemente para ser a salvação daqueles homens atônitos.
— Mamãe, acho que tem algo errado com o bebê, sinto como se ele estivesse descendo. — A Tessa finalmente conseguiu dizer algo e isso serviu apenas para preocupar todos os homens. O que poderia estar errado? Ela precisava de um médico urgentemente, e era isso que eles trariam.
— Vou arranjar um médico. — Disse o Henri se colocando de pé já que o Ház se negava a sair de perto da esposa.
De repente a Lady Amélia sorriu após uma breve avaliação.
— Melhor que nos arranje uma parteira. Imediatamente.
Uma parteira? Por que seria preciso uma parteira se o que Tessa sente é dor?
A não ser que…
— O bebê vai nascer agora? — Ház perguntou com a
voz um pouco estridente demais aos seus ouvidos. Esperou resposta enquanto engolia em seco sem parar. A sogra fez apenas um breve “sim” com a cabeça enquanto ajudava a filha a se levantar.
— Acho que ele levou muito a sério quando eu disse que estava apenas esperando. — Tessa tentou falar com um pouco de humor para desanuviar o momento tenso mas talvez por um erro de cálculo sua voz soou esganiçada nas últimas palavras causando muito mais pânico.
Posicionou a mão na parte inferior da barriga e se permitiu ser conduzida pela mãe até o quarto mais próximo onde pudessem aguardar a parteira. Ház esperava que ela não demorasse muito para chegar afinal o seu filho queria vir ao mundo!
— Se eu não tivesse vindo de surpresa teria perdido o nascimento dele. — Ele comentou apenas por que não se deu conta de que estava falando até que ouvisse a própria voz, não teve tempo de explicar para Tessa antes que uma leve expressão de culpa perpassasse seu rosto.
— Sinto muito que tenha ficado tantos meses longe. — Ela disse enquanto se recostava em um amontoado de travesseiros arrumados por sua mãe que por sua vez torceu a boca.
— Não tem nada de que se desculpar minha filha, certamente o seu marido entende que você tinha todo direito a um pouco de espaço devido aos acontecimentos, então neste caso creio que ele apenas esteja grato pela sorte de estar presente no nascimento do bebê. — Ház engoliu em seco. Era de se esperar que toda família de Tessa também ficassem relativamente irritados com ele pela mentira em questão, mas como ele teve a chance de explicar aos seus irmãos e eles o haviam perdoado tinha esquecido completamente de que com a sogra não seria tão simples assim. Ele sabia que ela o amava e o tinha como mais um de seus filhos, mas naquele momento certamente não gostava muito dele. E ele entendia, apenas esperava que ela fosse capaz de perdoá-lo em breve assim como sabia que Tessa o estava perdoando.
— Sim, é claro. Não falei com a intenção de ralhar com ela, apenas quis dizer que estou contente e agradecido por poder presenciar isso. — Tessa segurou a mão dele e levou até os lábios onde depositou um beijo suave.
— Nada poderia me deixar mais feliz do que ter você aqui. — Essas palavras eram completamente verdadeiras e ali ele soube que o amor que ela sentia por ele ainda estava ali, vivo e talvez mais forte do que nunca.
Ele quis responder, quis dizer que a amava infinitamente mais do que achava ser capaz de amar, mas não conseguiu. Em partes por que os gritos dela começaram a ficar muito muito, muito altos e encobriram sua voz a cada tentativa, e também se devia ao fato de Henri ter finalmente aparecido com a necessária parteira. Não houve tempo para apresentações nem para tentar obter referências, a mulher disse que não tinham muito tempo pois a criança definitivamente não estava querendo esperar.
Lady Amélia lhe deu uma oportunidade de sair do quarto e aguardar com os outros homens, mas ele negou a oferta, esteve durante muito tempo longe de Tessa e se recusava a fazer isso novamente. Ficaria ali, ao lado dela naquele momento e em qualquer outro.
— Precisa empurrar vossa graça. — Disse a mulher ao notar que Tessa tinha parado. Ela estava visivelmente exausta e Ház inconscientemente agradeceu por essa não ser uma função dada a homens, ele era humilde o suficiente para reconhecer que nenhum deles aguentaria aquela situação.
— Eu não posso… não consigo mais… — Ela murmurava e chorava, então ele tomou sua mão e a fez olhá-lo nos olhos.
— Consegue sim, você lutou muito por este bebê e se você fizer esse esforço mais um pouco, logo ele estará aqui, em nossos braços meu amor. O começo da nossa família.
— Ela sorriu entre as lagrimas e fez que sim com a cabeça.
— Tudo bem, eu consigo.
E então ela conseguiu. Um choro alto e forte ecoou pelo cômodo e a sensação não poderia ser explicada. Um misto de sensações, algo como o medo de não ser capaz de fazer o melhor para aquele serzinho e o amor que rompia qualquer barreira no mundo.
— É um menino forte e saudável vossas graças. — A mulher enrolou o mais novo integrante da família em uma manta e o entregou a Tessa que sorria sem parar.
Ficaram os três (Tessa, Ház e a Lady Amélia que não enxergava nada além do primeiro neto) por alguns minutos apenas admirando o menino.
— Como quer chamá-lo? — Tessa o olhou interessada.
— O que acha de Max de Lukewood? — Ele vinha pensando em sugestões de nomes a várias semanas e esse com certeza havia sido seu preferido pelo significado certeiro que possuía. Max é o que impressiona os que o rodeiam, o que agrada a todos. E ele sabia que seu filho seria assim, simplesmente impressionante.
— Eu amei. Oi Max. — E o menino (Max, futuro conde) sorriu como se estivesse aprovando o nome.
Ház voltou seu olhar para Tessa.
— E então? Voltaremos todos para casa? — Ele es-
tava cheio de expectativa e também uma pontada de medo, achava que não suportaria se ela se negasse a voltar, mas então a coisa mais maravilhosa aconteceu. Ela sorriu, da mesma maneira que sorria para ele sempre que se viam quando estavam em sua feliz vida de casados.
— Vamos, sim. Está mais do que na hora de ficarmos os três em nossa casa. — E seu coração transbordou de alegria. Ela retornaria com ele afinal! Não apenas ela, corrigiu-se ele sorrindo. Ela e o pequeno Max.

O conde de Lukewood - volume 1 os ClarkesOnde histórias criam vida. Descubra agora