capítulo 1

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1813 é um ano muito importante para a nossa amada Inglaterra, politicamente falando é importante por ser o momento em que a Prússia declarou guerra à Napoleão, e apesar de importante quantas de nós mulheres somos incentivadas a dar muita atenção para isso? Guerras são o tipo de coisa que importam apenas aos homens, mas neste momento existe algo digno de parar toda a província e esta é o início da temporada! É a época que causa maior euforia entre todas as famílias com moças na idade de se casar, afinal de contas é necessário conseguir para elas uma boa união isto é, casar com algum homem de família rica e de preferência com títulos.
A temporada Dhenaliense é a época de casamentos e por ser feita apenas uma vez por ano, é possível compreender o motivo de tanta euforia.
Todas as jovens a partir dos dezessete anos devem ser apresentadas diante de uma corte, seus convidados e as  famílias das demais jovens mostrando que está pronta para o matrimonio e talvez mais importante, mostrar que está completamente desejosa de que as bençãos matrimoniais recaiam sobre si o mais brevemente possível. Há quem pergunte se as senhoritas podem ser apresentadas alguns anos mais tarde e a resposta é sim, porém não é de forma nenhuma o mais indicado pois pode ser visto com desrespeito à monarquia e todos os costumes vigentes.
Na casa dos Clarkes tudo estava correndo como o planejado, a Lady Amélia havia preparado muito bem a sua filha mais velha para este momento, se dedicou durante todos os anos para torná-la uma dama perfeita em todos os aspectos assim como está fazendo com sua outra filha, a Evie, esta porém ainda não está em idade de apresentação portanto é uma preocupação menor hoje.
Seus três filhos homens apesar de ainda solteiros eram cavalheiros como nenhum outro em toda a província, Lady Amélia não poderia sentir nada além de orgulho daquela sua prole gigantesca, barulhenta e cheia de amor.
— Estou pronta mamãe. — A jovem Tessa estava usando um belíssimo vestido branco com detalhes bordados a mão, seu cabelo estava em um coque preso por pequenos e lindos pontos de luz. Era assim que o momento mais importante de sua vida deveria ser, brilhante e reluzente como aqueles enfeites de cabelo. Deu uma longa olhada para um quadro de seus pais na parede e jurou para si mesma que faria com que em seu futuro tivesse uma história de amor tão linda quando a deles.
Ela estava nervosa é verdade, ela havia se preparado para isso a vida inteira e precisa estar dentre as preferidas da corte se quiser arrumar um bom pretendente.
— Você está fabulosa! Tenho certeza de que vai impressionar a todos naquele palácio. — Lady Amélia sorri enxugando uma minúscula lágrima no canto no olho direito com sua mão enluvada.
Quando elas desceram as escadas todos da sua família já estavam ali (possivelmente a bastante tempo), a Lady Amélia é guiada por seu marido o conde Clarke e a Tessa espera pacientemente que o Henri, seu irmão mais velho lhe guie para fora.
O Bairro dos lilases era um bairro muito influente, cheio de pessoas financeiramente bem estruturadas (bastante ricas para ser mais exata). A rua estava cheia de carruagens e em cada porta era possível ver várias famílias muito bem arrumadas e portando todos os adornos possíveis, a debutante da família Clarke tinha certeza de apenas uma coisa, a disputa entre elas seria árdua e cansativa afinal é impossível ignorar o fato de que todas querem estar entre as favoritas do reino e não costuma ser nada fácil cair nas graças da corte.
Coletar bons pretendentes geralmente é uma tarefa com muitos obstáculos e cada uma usará os artifícios que lhe couberem. No amor e na guerra, vale tudo, e em uma guerra por amor... Os limites podem estar absolutamente fora de alcance.
— Irmã, venha não podemos nos atrasar ou a nossa mãe vai encontrar um jeito de colocar a culpa de tudo em mim. —  Ela sorriu para o Henri e ele a ajudou a subir na carruagem e toda a sua família esperou a seguinte.
No começo Tessa havia achado um contratempo desnecessário a família se dividir em duas conduções, as carruagens da família eram bastante grandes e com toda certeza todos eles caberiam com facilidade e conforto em alguma delas, mas quando a sua mãe lhe dissera que várias garotas foram condenadas a casamentos nada vantajosos e infelizes apenas por que o vestido estava amassado ela percebeu a imensa importância de estar completamente alinhada. Ter uma mãe que havia sido um sucesso estrondoso em sua própria temporada era algo com algumas vantagens, a principal delas era o fato de que as coordenadas já estavam prontas para tessa, tudo o que ela deveria fazer é sorrir e seguir os passos de sua mãe, não era muito difícil, ela vinha fazendo isso a mais tempo do que poderia contar. Durante todo o trajeto ela foi se certificando de que tudo estava em ordem e perdeu as contas de quantas vezes deslizou as mãos pela ceda do vestido.
— Vai ficar tudo bem irmã, mas você precisa se tranquilizar. Vamos, olhe como as ruas estão arrumadas. — Sim, o Henri tinha toda razão, as ruas estavam lindas, a cada Km estavam postas diversas flores decorando o ambiente, cada uma delas desejava silenciosamente o mais lindo “boa sorte” para cada uma das jovens que passavam por ali, e se tudo ocorresse como deveria a Tessa teria um baile da alta sociedade para ir, o mais disputado de todo o ano pelo simples fato de ser a consolidação de quem eram as favoritas da côrte real. Haveria de existir honra  que essa? O próprio rei e sua rainha avaliaram cada uma delas pessoalmente, ambos eram muito exigentes, mas Tessa entendia que deveriam ser assim. Eles esperam a perfeição e não aceitariam aprovar alguma jovem que fosse menos que perfeita na frente de todos.
Quando ela menos esperava a porta foi aberta, enfim o momento havia chegado.
O momento para o qual se preparou a vida inteira, toda sua existência dependia daquele instante, nada poderia dar errado. Ela não poderia falhar.
O Henri a ajudou a descer com todo cuidado e apenas por ver seus familiares chegando em seguida sentiu seu coração abraçar o conforto e a paz. Tudo iria dar certo, Tessa ainda se lembrava de todas as coordenadas que traçou em sua memória durante a vida. Ela sabia bem como agir diante da côrte, ela era uma mulher de incontáveis atributos, mas em sua opinião os mais importantes delas eram a sua inteligência e boa memória, ela não falharia, sabia perfeitamente que daria seu melhor diante de todos.
Eles entraram juntos até um corredor onde todas as moças estavam em fila junto com quem a apresentaria, no caso de Tessa seria a sua mãe. Ali era o local para se separarem temporariamente novamente, sua irmã Evie, seu pai e seus irmãos Henri, Bruce e Jace se dirigiram elegantemente para o salão principal por uma porta lateral.
Ela passou um tempo analisando todas as outras garotas, algumas estavam com trajes mais extravagantes do que o que ela pensou ser permitido, depois de olhar para aquela quantidade de jovens desejando a mesma coisa, Tessa passou a correr seus olhos por todo palácio, olhar tudo o que suas vistas podiam alcançar sem sair do lugar, era necessário guardar aquela preciosa imagem em sua memória, aquele seria um momento marcante em sua história, era o primeiro encontro da Jovem Tessa Clarke com o palácio pelo lado de dentro. Era sem dúvidas seu primeiro sonho que se realizava. Aquilo só podia ser um bom presságio não é? Outros sonhos poderiam se realizar sob aquela atmosfera mágica contagiante.
O arauto do rei fora incumbido de recolher todos os dados pessoais e familiares das jovens antes que a cerimônia de apresentação tivesse início, ele se colocou ao lado das mulheres Clarke e Tessa apenas esperou que a sua mãe fornecesse as informações sobre ela e sentiu o nervosismo voltando a tomar conta do seu corpo, ela achava que aquela era até uma sensação boa e pensou que essa fosse pelo menos uma parte da adrenalina que seus irmãos tanto falam que percorre o seu corpo quando se atrevem a fazer algo perigoso ou completamente estupido. Quase se sentiu capaz de entender os diversos momentos de estupidez de seus irmãos, mas que fique em destaque o “quase” da questão.
O arauto terminou de recolher os nomes e quando entrou no salão principal todas asgconcorrented pararam de falar, era o sinal claro e objetivo de que a cerimônia iria começar, estivessem elas prontas ou não.
Aos poucos o corredor ia se esvaziando e depois de um consideravelmente curto período de tempo a próxima a ser apresentada seria a Tessa, ela apenas respirou fundo três vezes tentando manter seus pensamentos em ordem.
— Apenas sorria filha, e faça a reverencia com destreza. —  Tessa sabia que sorrir para a corte inteira era importante, mas também sabia que não podia sorrir abertamente. É um sorriso, como a mãe dela lhe disse, sem mostrar os dentes, ou pareceria terrivelmente desesperada e deselegante.
— Senhorita Tessa Clarke de dezessete anos, apresentada por sua mãe Amélia Clarke esposa do honorável membro da aristocracia, o Conde Clarke. — Depois de ser anunciada em alto e bom som a Tessa e sua mãe adentraram no salão principal quase lado a lado, era possível ver todas as jovens em um canto especifico mas ela não queria se concentrar nisso, tudo o que realmente queria era se fazer notável entre todas elas.
Diante dos monarcas ela se curvou o máximo que pôde com elegância e quando levantou viu um sorriso da rainha, que apesar de sutil foi algo muito explicito para todos que estiveram prestando atenção a todo momento.
— Você encheu este salão com graça e elegância querida. Por favor junte-se as outras. — Ainda sorrindo ela obedeceu. Não era capaz de distinguir se a rainha havia sido tão enfática com as outras garotas, mas preferiu apenas receber aquilo como um sinal positivo.
— Como é do conhecimento de todos apenas as garotas que mais se destacaram irão receber convites para todos os principais bailes da temporada. É uma pena que nem todas as garotas vão ter a oportunidade de serem cortejadas por um homem com títulos e maravilhosas riquezas incluindo as grandes novidades da temporada, o marquês Leonard e o duque de Helloward. — O rei disse e todas as garotas pararam de respirar por alguns segundos. Por que nada havia sido divulgado antes? Era o que elas gostariam de saber mas nenhuma se atreveria a perguntar.
— Nós já temos uma lista bastante satisfatória e vou pedir para que a rainha tenha a satisfação de anunciar para todos o que decidimos. —  E a aflição só aumentava.  A cerimônia diante da corte era algo tão surpreendente que nada nunca estaria 100% garantido.
— Entre todas essa jovens apenas algumas conseguiram chamar atenção da nossa corte, trinta e cinco para ser mais exata e mesmo sendo uma numeração bem menor de garotas do que a quantidade apresentada ainda assim é consideravelmente um número maior que o de pretendentes pelos quais vocês vão competir, acredito que isso tornará tudo ainda mais divertido. Pelo menos para nós. —  O que a rainha disse assustou a todas, mesmo as que se saíram melhor no dia de hoje ainda poderão ficar solteiras.
A rainha começou a falar os nomes das sortudas e conforme falava era notável que o alivio era apenas parcial.
— Tessa Clarke por toda sua elegância e graça. — Neste momento Tessa visualizou pelo canto do olho o orgulho estampado no rosto dos membros de sua família, mas de alguma forma ela sabia que ainda não poderia ficar inteiramente feliz, a temporada estava apenas começando  e ela havia conseguido transpor apenas a primeira fase, ainda haveriam outras para passar, por benção divina a determinação e obstinação são características que compõe o sangue dos Clarkes.
De um lado estavam as trinta e cinco garotas com convites dourados em mãos, já do outro estavam as outras garotas menos afortunadas chorando copiosamente sabendo que o melhor casamento que poderiam conseguir agora seria com um comerciante. Tessa conseguiu sentir empatia por elas, sabia que todas ali estavam competindo, mas ainda assim sentiu empatia. De toda forma ela sabia que as garotas ficariam bem, casar com um comerciante ou com um simples servente é consideravelmente menos pior do que receber a classificação das chamadas solteironas pelo resto da vida. Essa era a definição de vergonha e humilhação para qualquer mulher, toda a existência do sexo feminino se resumia a sua capacidade de encontrar um marido e dar a ele filhos que sejam bons frutos da união, se falhasse em alguma dessas coisas ela seria vista como um objeto que veio quebrado, sem valor e sem a capacidade de fazer aquilo para o que foram criadas. Era uma perspectiva desesperadora de fato. Tessa se pegou desejando que todas ficassem bem, a cidade era cheia de comerciantes ricos e solteiros, jamais seria capaz de querer um destino cruel para suas semelhantes.
Elas pareciam não compreender os olhares de apoio de Tessa pois choravam cada vez mais. Talvez estivessem pensando nas piores possibilidades.
— Ora, tirem essas choronas daqui, essa é a recompensa que merecem por não se dedicarem corretamente a apresentação. —  A rainha ordena e apesar de sentir o peso das palavras quem seria capaz de contradizer a vossa majestade? Ela pode ser bastante cruel e insensível a dor dos outros.
— E vocês garotas sortudas, podem retornar a suas casas e continuem se dedicando, afinal, vocês ainda não estão com o futuro garantido. Se arrumem e surpreendam a  todos os pretendentes no baile de hoje à noite. — Os acompanhantes foram um a um buscar as garotas sortudas como havia dito a rainha.
— Eu sabia que você seria escolhida. — A Tessa ri para o irmão mais velho aproveitando aquela tranquilidade parcial, mesmo sabendo que só irá se considerar de fato escolhida quando ver uma aliança devidamente posta em seu dedo. 

O conde de Lukewood - volume 1 os ClarkesOnde histórias criam vida. Descubra agora