Durante os dois meses que se seguiram após aquela visita inusitada, os laços entre os irmãos Clarkes e o conde Ház estavam cada vez mais fortes, aquela era sem dúvida a parte ruim daqueles longos meses, ela e o conde não conseguiam permanecer no mesmo ambiente sem discutir em algum momento, mas essas meses também contaram com um incrível ponto alto, essa alegria deve-se ao fato de que em todos os oito bailes que aconteceram depois disso ela esteve fixamente acompanhada do único homem que lhe interessava, o fabuloso duque de Helloward. Tessa fora citada algumas vezes no diário oficial e tinha perdido as contas do quanto ela tinha desejado ser o assunto da cidade por encontrar um bom pretendente, mas assim que as notícias surgiram no folhetim de fofocas ela se arrependeu. Todas as manchetes diziam que a fama do duque o precede, sempre vinham acompanhados de relatos de possíveis mulheres falando o quão imoral o duque era e como se sentiam mal pela jovem que havia caído em suas garras. Como seria possível deixarem que tamanha afronta circulasse pela cidade? Bom, o fato é que o duque já não estava sendo visto como um homem bom para se casar com Tessa, mas ela simplesmente dizia que as coisas que falaram eram inverdades muito maldosas e assim ela permitia que as coisas seguissem. Boatos maldosos se provam falsos em determinado momento, nada fica em oculto para sempre, em algum momento tudo se revela.
Nesta tarde ela e a família foram passear pela praça central de Denalhia, durante a noite irá ser realizada uma festividade bastante exclusiva neste mesmo ambiente e ela queria ver como andavam os preparativos, jamais tinha estado em uma festa ao ar livre, e precisaria admitir que aquilo seria uma realização de um de seus sonhos mais íntimos.
Para a sua infelicidade o conde Ház também estava presente e já era comum para todos os presentes contemplarem cenas provocativas o suficiente entre eles para terem a confirmação que os dois não se dão bem. Para ele a Tessa não passava de uma caçadora de títulos insolente, e para ela o conde era e sempre seria um patife, arrogante e imoral. São como duas matérias impossíveis de se misturarem em homogeneidade, nunca poderiam coexistir juntos e amigavelmente, quase não era possível mantê-los em um mesmo ambiente por meia hora sem que brigassem como cão e gato.
— Como vai o seu dia? — Mesmo que eles de fato não se dassem nem um pouco bem e disso não ser um segredo para absolutamente ninguém ele insistia em conversar com ela. Tessa respirou fundo e olhou para ele.
— Meu dia estava esplendido a cinco segundos atrás. — Ela já sabia que ele a achava insolente então não havia mais motivo algum para que fingisse que não era.
— Gostaria de dizer que sinto muito por atrapalhar os bons momentos do seu dia. — Ela estreitou os olhos, depois que ele se tornou amigo de seus irmãos a coisa mais rara era que ele lhe pedisse desculpas, era quase como se realmente achasse que era da família e não a enxergasse mais como uma dama da alta sociedade.
— Sente mesmo? — perguntou refletindo a desconfiança que sinalizava dentro dela. Ele riu.
— Nem um pouco na verdade. Apenas me pareceu ser a coisa certa a dizer, se bem que eu tinha um pouco mais de fé na sua inteligência Tessa, imaginei que perceberia a falta de sinceridade. — Ela parou de caminhar e olhou para ele, ver a fúria em seus olhos estranhamente havia sido motivo de diversão para ele.
Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa a Lady Coneliett apareceu ao lado deles como em um passe de mágica.
— Esse comportamento não condiz com a posição de nenhum dos dois. Vamos resolver isso agora mesmo, já estou farta dessa instriga. Me digam o motivo de não gostarem um do outro desta forma. — Ninguém tinha a capacidade de contradizer a Coneliett, ela sabia como extrair a verdade de todos com uma facilidade assustadora.
— Sinto muito milady, mas não consigo gostar do seu sobrinho pelo simples fato de que ele é um arrogante e um imoral incorrigível. — Ele ri.
— Baseada em quê a senhorita afirma com tanta veracidade que eu sou um imoral? - neste momento quem sorriu foi ela, não pôde evitar de notar que ele não a contradisse no adjetivo “arrogante”. Ela não havia achado graça de verdade na pergunta, fora mais um sorriso de incredulidade e uma pitada de superioridade.
— Me diga senhor, eu estou errada? — Ela não gostava nem um pouco dele mas também sabia reconhecer suas poucas qualidades, e uma delas era que o conde não mentia, mesmo que aquilo o pusesse em maus lençóis.
— De fato não está, mas isso não parece incomodá-la tanto assim visto que o seu futuro noivo frequenta os mesmos bordeis que eu. — O sorriso de Ház era sínico e desafiador, ele queria que ela contestasse e o ofendesse, mas simplesmente ficou sem palavras.
— Conde, por que tem tanta aversão a senhorita? — A Lady Coneliett evitou que a discussão sobre a honra (ou a completa falta dela) do duque continuasse, e a Tessa realmente queria saber se os motivos dele eram tão justificáveis quanto os dela.
— Eu não chamaria de aversão minha tia, mas já que insiste em denominar dessa forma eu não me oponho, afinal pouco importa como é definido se o resultado será o mesmo. É bem simples na verdade, a senhorita Tessa é uma caçadora de títulos insolente e obtusa. — Ele disse com tanta naturalidade que ela quase teve vontade de socá-lo.
— Está me chamando de estupida? — O sorriso dele não vacilou nem por um momento e isso a irritava mais ainda, aquele homem era capaz de irritá-la até os ossos!
— Não adianta Lady Coneliett, esses dois são opostos completos, nunca vão se resolver. — O Henri disse e seus irmãos e seus pais riram. Ela não havia entendido o motivo do riso e nisso finalmente concordaram pois ele também pensava o mesmo. Eles não se davam bem e ponto, não era algo que se pudesse controlar, a ambiguidade deles era mútua e ir contra isso seria como ir contra a própria natureza. Qual a graça nisso?
Coneliett abanou a mão como se espantasse o que ele tinha dito.
— Eu ainda verei esses dois muito mais que resolvidos um com o outro. — Ela disse e se voltou para a decoração fingindo estar completamente admirada com os andamentos de decoração do baile.
— Ela não costuma errar. — O Jace sussurrou bem baixinho mas ainda assim havia sido completamente audível para Tessa e para Ház que olhou feio para o mais jovem.
A manhã se encerrou de forma comum, Tessa estava conversando com a sua irmã e sua mãe enquanto observava os homens jogando um modelo confuso de futebol.
*********
A Família Clarke resolveu ir um pouco mais cedo para o baile, tinham sido informados que acenderiam luzes flutuantes e isso era a parte do evento que as meninas não poderiam perder, Arabela se juntou novamente a família e dessa vez iria junto com eles para o baile.
Tessa pegou o seu convite dourado e foi até a carruagem acompanhada de toda sua família.
A praça central nunca esteve tão bem adornada em toda a história de sua existência, enquanto eles se misturavam com as pessoas que já estavam ali era impossível não notar o quanto tudo estava perfeito, muitos girassóis estavam espalhados e muitos estavam dando a impressão de estarem flutuando, sempre ao alcance de todos. É a primeira vez em que elas veem as luzes flutuantes, mas nenhuma delas ficou tão empolgada com isso quanto Arabela, ela estava tão agitada em saber que casais as acenderiam e soltariam pelos ares, era encantador. Como todas queriam a mesma coisa, inclusive a senhora Amélia, o duque, que havia acabado de chegar sugeriu que se dividissem em casais para que todos tivessem o prazer de fazer as luzes subirem pelos céus, seria algo que ficaria marcado na memória dos presentes. Henri havia ficado sem uma acompanhante e como se recusou a se juntar a alguma das solteiras disponíveis apenas preferiu lançar a luz com o Jace e a Arabela.
— Henri, o plano era que estivéssemos divididos em casais, não em trios. — Bruce disse rindo e o mais velho lhe lançou um olhar entediado e severamente contrariado.
— É, mas não vejo como o número de pessoas poderia interferir, tudo o que precisamos fazer é que essa maldita coisa suba voando por aí. — Henri respondeu e mesmo que ele estivesse se mostrando irritado todos caíram na gargalhada.
— você é um doce de pessoa, irmão. — Evie comentou sorrindo.
— Se for um doce de limão, eu aceito. — ele retrucou com um sorrisinho de canto.
Aos poucos a conversa em grupo se dispersou e a atenção da senhorita Clarke mais velha se voltou novamente e inteiramente para seu acompanhante.
Isso até que aquela voz absurdamente irritante a tirasse dos eixos.
— me concederia a honra de sua primeira dança? — Tessa olhou para trás e viu o Ház com sua mão estendida. O duque se posicionou um pouco a frente dela como se estivesse pronto para o combate, então para evitar um maior conflito resolveu aceitar.
Enquanto dançavam ela percebeu que o duque havia convidado sua irmã para uma valsa também. Ele era tão amorosamente gentil.
— O que está tentando fazer? — Tessa perguntou após ter se cansado de esperar que o conde justificasse a sua atitude.
Eles não se suportavam, nem mesmo gostavam um do outro. Aquele homem irritante certamente tinha algum plano maligno em mente.
— Eu sei que não nos damos bem, mas isso não significa que eu queira ver você infeliz. — A resposta a confundiu. Tessa não tinha motivo algum para estar infeliz, muito ao oposto disso na verdade.
— Não estou nem um pouco infeliz, acredito que pode me deixar ir agora. — Ela tentou sair de seus braços quando a valsa terminou mas ele a segurou e uma próxima dança começou.
— Você não entende, o duque está longe de ser esse homem que você pensa. — Esse assunto já estava tirando a sua paciência profundamente. Será que ele não era capaz de entender que pouco importava a sua opinião a respeito do duque? Ela nem se quer havia pedido isso dele!
— Deveria parar de tentar manchar a imagem dele para mim, não vai adiantar de nada senhor, eu vou me casar com o duque. — Ele já estava ficando nervoso, não tinha nenhuma prova do que dizia mas era absoluta verdade quando disse que não a queria infeliz. Segundo uma conversa recente que havia tido com o irmão mais velho dela tudo o que ela queria era um casamento completo e principalmente cheio de amor e respeito. O duque era capaz de fingir o sentimento por um tempo até que a tivesse em mãos, mas a fidelidade dele era completamente questionável.
— Pare de ser estupida pelo menos quando o assunto é o resto da sua vida, por favor. Precisa entender que eu não estaria aqui insistindo nisso se não soubesse o que estou falando, sei reconhecer homens de caráter duvidoso quando vejo um. — Ela ri, ele sabia que não tinha achado graça em nada que ele disse, era mais como uma risada irônica.
— Sabe reconhecer homens que são exatamente como você? Eu sei o motivo de estar agindo dessa forma, ainda está com o orgulho ferido por que eu falei que o senhor não é uma opção de marido para mim, não deve estar acostumado com recusas, mas espero que entenda e aceite de uma vez por todas que nem todas as mulheres sedem aos seus questionáveis encantos. — Ele tinha realmente ficado com o orgulho ferido no início de tudo, mas agora não se tratava mais disso, ele apenas não queria que ela fosse infeliz. Enquanto ela se afastava dele pisando firme de tanta raiva ele apenas suspirou pensando que tinha feito tudo o que estava ao seu alcance, se ela queria permanecer agindo como uma garotinha mimada e obtusa então ele não iria mais se opor, esperava que ela aproveitasse bem os seus anos de castigo ao lado do duque de Helloward.
Quando chegou o momento das luzes serem ascendidas e flutuarem pelo céu, o duque chamou a atenção de Tessa e assim que eles lançaram a luz deles para os céus ele fez uma singela pergunta, algo que a fez sentir que havia conquistado o mundo.
— Senhorita Tessa Clarke, aceita se casar comigo? — Ela esperava um pedido romântico sim, mas aceitou com tanto entusiasmo que acabou não fazendo tanta diferença assim. Ele não tinha a obrigação de agir de acordo com seus sonhos, ainda não existia essa conexão entre eles, não se amavam até o momento, mas Tessa acreditava piamente que o amor nascia com a convivência. Depois que se casassem com certeza iriam se amar.
— Aceito milorde, sim sim sim, mil vezes sim. — Eles foram na direção de sua família e deram as boas novas, Tessa estava contente, afinal tinha conseguido exatamente o que queria, iria se casar com um duque!
Ela olhou de canto de olho para o conde Ház e por um momento esperou que ele fosse capaz de ler mentes pois o que ela havia pensado fora que ele só poderia estar errado com relação ao duque, ele seria um excelente marido para ela e Ház seria obrigado a assistir a felicidade que ele havia tentado minar.
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O conde de Lukewood - volume 1 os Clarkes
RomanceO conde Ház de Lukewood havia se mantido longe de Denalhia por cinco anos, mas para ele este tempo não foi o suficiente. A temporada casamenteira de 1813 o forçou a retornar a seu lar de origem. Gostava e acreditar que conseguia compreender perfeita...