capítulo 3

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A ornamentação da residência Lukewood estava simplesmente divina. Algumas matérias da sociedade costumavam exagerar muito na decoração, isso deixava o ambiente pesado e nada agradável aos alhos, mas qualquer pessoa por mais leiga que fosse conseguir perceber que Lady Conelliet não pertencia a essas pessoas, ela certamente pertencia a um grupo mais seleto, o grupo das mulheres elegantes e uma das poucas que conseguem compreender que existem casos onde o menos é realmente mais. As janelas estavam adornadas com tecidos dourados e velas ornamentais grandes e pesadas, as mesas expostas com bebidas, docinhos e sanduíches estavam simplesmente impecáveis e quando Tessa olhou para as rosas, notou que possuíam um tom azulado magnifico! Ela olhou para o seu próprio vestido e pensou que talvez aquele fosse o início do seu sonho, tudo estava mais perfeito do que ela jamais teria se permitido imaginar, e Tessa havia imaginado por incontáveis vezes como seria a decoração do primeiro baile no qual ela entraria com a coroa fictícia que mostrava para quem quer que fosse que ela era orgulhosamente uma das favoritas da côrte.
O salão estava com em média quinhentas pessoas, algumas já ocupando o salão de dança e quando Tessa olhou para seus irmão percebeu que eles já haviam dispersado. Humpf! Novidade mesmo seria se eles ainda estivessem ali.
— Venha querida, dance com o seu pai, seja vista por todos e tenho certeza de que vão notar a sua beleza e seu sorriso cativante. — Ela sabia que seu pai queria ajudá-la, ele sempre fazia algo do tipo e com toda certeza o conde é muito mais próximo de seus filhos homens, mas isso não significa que não ame incondicionalmente as suas garotinhas como ele sempre gostava de dizer. Seria capaz de qualquer coisa por qualquer um de sua gigantesca prole.
Tessa aceitou que seu pai a conduzisse para uma valsa e sorri ao ver o orgulho estampado nos olhos de seu pai.
Essa tem sido uma emoção bastante presente na família Clarke. Orgulho. E principalmente orgulho dela, orgulho de vê-la seguir seu caminho e esse sentimento estalando no rosto de todos é o indicativo de que ela está no caminho certo.
Pai e filha dançaram juntos por pelo menos vinte minutos antes que um lorde se aproximasse querendo dançar com ela.
— Milorde. — Ela disse e fez o seu cumprimento com elegância. Enquanto dançava com o visconde Lúcio ela olhou o seu pai se afastar e conduzir a sua mãe para uma dança. Naquele momento Tessa soube o que queria, mesmo que as coisas não acontecessem da maneira como ela esperava e planejava a anos, ela queria um casamento exatamente como o dos pais. Se tivesse metade da felicidade deles saberia que estaria completa.

Ház terminara de vestir seu colete e se distraiu olhando pela janela dos seus aposentos. A noite estava linda, mas este céu estrelado nem sempre lhe traz boas lembranças.
Ele percebeu para onde suas divagações o levavam e despertou imediatamente, afastou tais lembranças de sua mente e terminou de se vestir. Já estava mais atrasado do que sabia que a sua tia acharia tolerável para um conde.
Desceu as escadas e resolveu caminhar por entre as pessoas, afinal de conta fora exatamente para isso que a sua presença havia sido tão indispensavelmente requisitada. A pior parte sem dúvida eram todas aquelas mães ambiciosas e pais que querem livrar-se de suas filhas sabiam o atual estado civil dele. Solteiro, rico e com título, com certeza isso o torna muito cobiçável, admirável e digno de ser perseguido. Infelizmente para todos eles, Ház tinha plena certeza e convicção de que jamais amaria, não é de fato contra o casamento mas para ele isso apenas servirá em algum momento para tecer a sua linhagem e nada mais. Ofereceria a sua futura esposa todo conforto que uma condessa merece, todo respeito e até poderia lhe prometer fidelidade, mas amor... Isso estava além de suas capacidades.
Continuou andando distribuindo sorrisos nada sinceros porém convincentes o suficientes até perceber que estava com a boca completamente seca.  Ház seguiu até uma mesa consideravelmente afastada onde tinham copos e garrafas.
Enquanto bebia passou um tempo olhando as moças na pista de dança. Ele riu ao pensar quantas delas estão desesperadas por um casamento, provavelmente todas afinal uma mulher geralmente não tem outras ambições de vida, raramente lhes é permitido outra ambição que não essa. Ele também se permitiu pensar em quantas garotas com o ego completamente inflado estavam presentes, muitas podem ter cultivado uma certa ilusão por fazer parte da elite escolhida pelos monarcas, ele sabia que isso não as fazia as melhores da temporada e nem tampouco lhe garantia um matrimônio. E mesmo que todas se casassem, ele conhecia os homens bem o suficiente para saber que mais da metade daquelas jovens seriam infelizes de diversas formas.
Depois de alguns minutos contemplando a própria companhia, Ház se deu conta de que não haveria formas de se divertir naquele baile tedioso até o momento se ele não se dispusesse a de fato aproveita-lo. Resolveu que iria sim dançar com algumas delas nesta noite, não haveria mal algum em tornar este baile pelo menos um pouco mais divertido em sua concepção.
Caminhou até uma moça de vestido vermelho e chamou a sua atenção. Ela sorri e ele elegantemente a convida para dançar. No minuto seguinte se arrependeu. DROGA! Ele pensou exatamente com esta entonação, um grito estrangulado em sua garganta. Com tantas mulheres neste salão como ele conseguiu ser estupido o suficiente para se dirigir a uma que simplesmente não consegue se calar?  Com poucos minutos de dança ele se afastou daquela máquina de jorrar palavras sem sentido e tinha certeza de que jamais esqueceria do nome dela, pois nunca mais se permitiria voltar a dançar com a senhorita Milena de Campo.
— Achando a noite agradável lorde Ház? — Ele se virou assustado mas não era necessário tanto espanto, tratava-se apenas da Lady Coneliett chegando sorrateiramente como sempre. Um dia ele teria que descobrir como ela conseguia simplesmente surgir em todos os lugares sem que sua presença fosse notada antes que ela esse fosse o objetivo dela.
— Sim, muito agradável de fato. — Ela fez que não com a cabeça e ele ficou sem compreender a negativa.
— Fez uma péssima escolha para uma primeira dança senhor. Ande, venha comigo e vou arranja-lhe uma melhor companhia para exorcizar a anterior. — A única coisa em que Ház conseguia pensar era em como gostaria de estar em seus aposentos. Depois da péssima experiencia com a senhorita De Campo ele preferia na verdade ficar apenas às margens do salão observando, afinal o importante mesmo era apenas a sua presença, mas não se atreveu a discordar dela, ele sabia por experiência própria que não existiam  maneiras de discordar de Coneliett e sair vencedor.
Eles se aproximaram de um casal.
— Estes são o conde Clarke e sua esposa Lady Amélia, este é o meu sobrinho Conde Ház de Lukewood. — Ele viu um lampejo de brilho perpassando pelos olhos de Coneliett. Ele conhecia aquele olhar e sentiu suas pernas tremerem. Era o olhar de quando sua tia estava tramando alguma coisa que ele certamente detestaria.
Rapidamente Ház tentou traçar uma rota de fuga, mas infelizmente foi interrompido antes de concluir.
— Suponho que queira conhecer a minha filha Tessa, por sorte a valsa terminou. Meu amor, vá chamá-la. — O conde pediu e sua esposa disse que sim e foi em direção a uma moça de vestido azul e cabelos levemente dourados. Nada resta a não ser esperar que a guilhotina lhe corte o pescoço.
Quando se aproximaram sorriram docemente  e Ház se esforçou para retribuir com máxima sinceridade.
— Senhorita Tessa, gostaria de conceder uma dança ao meu sobrinho Conde Ház de Lukewood? — Coneliett não sabe como ser sutil. Ou talvez saiba mas esse nunca é o seu propósito.
— seria um honra, senhor. — A Tessa disse e assim ele a conduziu. Antes de se afastarem completamente dos casamenteiros ele pôde visualizar um sorriso nada discreto de sua tia e rezou para que ele tivesse sido o único a notar.
— A senhorita está deslumbrante essa noite. — Ele elogiou, não por que era o educado de sua parte, mas sim por que ele realmente havia achado isso, ela era uma das moças mais bonitas deste salão e era possível que isto fosse exatamente o que a colocou ali, a sua beleza deslumbrante e contagiante.
— Obrigada milorde, eu estou empenhada. — Ele apertou os olhos. Era a primeira vez (ou melhor, a segunda) em que uma mulher lhe falava abertamente que está empenhada em algo, e isso o deixou um tanto curioso.
— Seria indiscreto da minha parte perguntar em que está empenhada? — Ela sorri. Naquele momento Tessa riu por ter pensado no quanto aquele senhor estaria enganado caso imaginasse que esta dança significaria algo mais para ela.
— Não é obvio, milorde? Estou empenhada em arranjar um marido. Uma pena que o senhor não seja uma das minhas opções. — Ele ficou confuso com a declaração. Em sua concepção ela estaria talvez sendo um tanto atrevida e possivelmente não deveria encorajar esse comportamento, mas ele se sentiu tentado a isso e então fez uma simples pergunta.
— Por que eu não sou uma opção? — Para ela a resposta era obvia, mas ele tinha perguntado e é de muito desagrado deixar um homem sem respostas, portanto lhe sorriu com os olhos esquento respondia.
—Por que o senhor é um conde milorde, e eu não pretendo aceitar menos que um duque. — Ház ficou tão atordoado com a resposta que não sabia como deveria se sentir em relação a ela (a resposta, não a garota), tinha com toda certeza sugerido que um conde não é bom o bastante para ela e isso é algo que ele não poderia aceitar. É um título bastante respeitável e ele por si só era um homem com muitas posses, ele se sentiu completamente afetado e talvez seja por que o conde Ház não está acostumado a receber negativas ao seu respeito. Aquilo realmente ferira seu orgulho.
— O seu pai também é um conde. — Ela percebeu naquele momento pela rispidez da sua voz que poderia ter estragado tudo. Um conde é alguém respeitável em qualquer lugar que vá e se ele resolvesse por pura maldade e vingança torná-la inelegível como esposa com certeza estaria arruinada. É verdade que seu foco era um duque, mas não poderia de maneira nenhuma ter se expressado daquela maneira. O desespero começa a tomar conta de seu corpo e ela o sente gelar.
— Minhas mais sinceras desculpas milorde, não quis dizer algo ofensivo, apenas tenho como principal foco um título a mais que o de meu pai. — Para ele a Tessa não passava de uma mulher caçando títulos e ele geralmente não se importava com isso, mas seu orgulho estava ferido e com toda certeza isso o incomodava. Ela não tinha o direito de tê-lo afetado daquela forma.
A valsa terminou e eles se despediram. O Ház retornou aos seus aposentos logo em seguida mas não conseguiu parar de pensar em como aquela garota era insolente. Pensou algumas vezes que deveria contar a Lady Coneliett que a sua escolha de acompanhante para ele apenas tinha tido a função de piorar a sua noite mas ele pensou melhor, não queria que ela o visse como um garotinho dependente, ele era um homem feito e bem crescido, e era como homem que iria resolver isso.

O conde de Lukewood - volume 1 os ClarkesOnde histórias criam vida. Descubra agora