capítulo 11

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Depois de quase um mês a situação estava insustentável. Ház tentou milhares de vezes tentar imaginar qual seria o plano de Tália para estar ali, ele sabia que ela tinha um plano, Tália não era uma mulher dada a ações aleatórias e muito menos era uma mulher que precisasse trabalhar para viver. Ela tinha-o deixado para se casar, não deveria ela estar com seu marido? Na verdade ela deveria estar em qualquer maldito lugar que não fosse perto de sua vida!
Maldição, ela deveria estar em qualquer lugar que não ao lado de sua esposa a cada minuto de todos os dias.
Droga! Aquela sensação de impotência o estava enlouquecendo.
Ele costumava praguejar com frequência, mas não se recordava de que em alguma vez o tivesse feito com tanta veracidade quanto havia sido durante todo este mês.  Tessa é seu único ponto de sanidade e tirando a presença indesejada de Tália, o seu casamento estava perfeito, Ház sempre tinha achado que o amor fosse algo fácil de superar e esquecer, mas agora apenas a ideia de ser obrigado a viver sem sua esposa o sufocava. Era perturbador pensar o quanto ela tinha se tornado absolutamente a própria personificação da palavra “tudo” em sua vida, e mais impressionante ainda é ele se dar conta de que nunca tinha de fato amado Tália, ele sentiu muitas coisas por, mas a junção de desejo, luxúria, curiosidade e encantamento não tem como produto de sua soma o amor, e agora ele finalmente sabia disso e não poderia estar mais satisfeito com a descoberta.
Ele sorri, como era possível que já estivesse ao passo de amar a Tessa? Eles ainda tinham pouco tempo de casamento e afinal de contas, ele quem havia afirmado com uma certeza prepotente que a união deles não envolveria amor. Ele pagou com a língua e essa ironia não podia ter sido mais deliciosa do que de fato foi. Ele a amava, ou pelo menos amaria em breve, ele tinha certeza. E é justamente por isso que ele precisava que Tália saísse de uma vez por todas de suas vidas, não se permitiria que este amor ainda prematuro morresse sufocado com todo o veneno que ela destilava toda vez que seus olhares se cruzavam. Ház estava decidido, agora que estava provando da força e doçura do amor haveria de agarrá-lo com as duas mãos e com toda força, não deixaria que aquilo se perdesse.
Tessa estava na casa de sua família e tinha dispensado a companhia de Tália então isso concedia ao Ház algumas horas para ir tentar dar um jeito naquela situação esdruxula.
Ele a viu separando as roupas de sua mulher no quarto de vestir, por alguns segundos ele apenas observou e de repente sentiu uma súbita vontade de jogá-la janela a fora, no entanto obrigou-se a resistir ao impulso. Esse com certeza não seria o melhor plano de ação.
— Vossa graça, sua esposa não está presente, acho que ela o avisou quando saiu.
Estupida é uma das coisa que ela nunca havia sido. Tália sabia exatamente o motivo dele estar ali diante dela encostado na lateral da porta.
Ela sabia o quando aquilo tudo estava sendo de fato a experiência mais torturante    de toda sua vida. Ele estava a todo tempo sem paz alguma, sempre tentando prever qual seria o próximo passo daquela mulher maquiavélica.
— Você sabe o motivo de eu estar aqui Tália, então por favor, sem amenidades, não vamos fazer esse jogo. — Ele se aproximou dela e fechou a porta atrás de si. Antes de subir ao quarto de vestir Ház se certificou que todos os outros criados estivessem devidamente ocupados para que essa atitude do conde não acabasse por levantar suspeitas equivocadas, tudo o que ele menos desejava era que aquela tentativa furtiva de eliminar um problema gerasse fofocas perigosas o acusando de deslealdade. Seu estomago se revirou apenas ao vislumbrar a possibilidade e piorou ao pensar que Tessa poderia considerar isso como verdade.
— Eis aqui o que eu sei milorde, eu o pedi que se encontrasse comigo e você mentiu pra mim, agora vai pagar por isso. Tratou de fazer sua própria cama, então não ponha a culpa em mim por ter de dormir nela. — Pagar por ter mentido? Isso não faz sentido algum, uma mentira não valeria tanto esforço, nem mesmo para ela.
— Pagar por minha mentira? Creio que você não se preocuparia com tão pouco. — Ele sabia que agir com agressividade apenas a instigaria a fincar seus pés ali e nunca mais sair, apesar de ela não ser nada do que ele idealizava anos antes, Ház ainda a conhecia muito bem, ou pelo menos o suficiente para saber que tê-la como inimiga era algo como um campo minado. A sua ironia está sendo uma perfeita aliada, ele não poderia demonstrar que se preocupava com a sua presença ali ou essa seria a arma necessária para fazer de sua vida um inferno.
— Eu não me importo com a mentira e não me prestaria ao serviço de criada por algo tão incorpóreo, nisso você tem toda razão. A minha raiva tem uma fonte muito mais profunda. Você se apaixonou por ela, não foi? — Ele sentiu seus joelhos fraquejarem por uma fração de segundo mas logo se recompôs. Tessa era a fonte de toda sua força, mas também era inegavelmente o jeito mais eficaz de feri-lo até a morte. O jeito mais eficaz de fazê-lo desejar a morte. Era em outras palavras, o seu calcanhar de Aquiles. Ele temia que aqueles olhos escuros e amendoados de Tália já tivessem enxergado seus temores e assim ela o teria em suas mãos.
— Qual sua parte nisso? Nenhuma ligação há com você. — Ela abanou a mão como se espantasse o que ele tinha acabado de dizer.
— É claro que antes de deixar o meu marido eu sabia que você iria se casar, não é surpresa nenhuma que os ventos de Denalhia corram até a Escócia levando todas as notícias interessantes. O seu enlace não me incomodava, eu nunca me preocupei com o título de esposa, você sabe disso. Eu vim com o propósito de me tornar sua amante, isso seria ótimo e a única diferença disso para o que éramos cinco anos antes seria a existência de uma esposa insignificante. Não achei que fosse ser capaz de me recusar, e Ház… — Ela sorri de uma forma a mostrar algo que ele nunca tinha sido capaz de ver, Tália tinha a alma ruim e nada de bom poderia sair de dentro dela. Suas próximas palavras o fizeram pela primeira vez na vida, desejar matar uma mulher com as próprias mãos: — Você deveria saber que eu não lido bem com recusas. — Ele sem pensar duas vezes pisou firme até ela e a agarrou pelo braço sem se dar ao mínimo trabalho de medir a sua força. Iria matá-la. Simples assim, iria matar aquela maldita mulher naquele maldito momento. Ele queria que ela sentisse medo dele, queria que ela sentisse que ele seria capaz de qualquer coisa para que ela fosse embora, mas por mais que ele apertasse e tivesse a certeza de que ela sentia dor, Tália não demonstrava arrependimento ou medo, ela ria e debochava de sua tentativa infeliz de asssuta-la.
— Quero que me ouça com atenção Tália, te darei no máximo dois dias para que pegue os seus trapos e saia da minha casa, quero que se afaste da minha esposa e nunca mais retorne. — Ela gargalhou e o encarou com os olhos em brasa como o diabo.
— Eu observei por um bom tempo Ház, você sabe que eu sou mais inteligente que isso. Eu sei que você contou para a sua adorada esposa sobre nós, e sei que não quer que ela saiba que a sua dedicada criada e possivelmente amiga e a mulher que você tanto amava são a mesma pessoa. Então muito cuidado ao tentar me expulsar novamente. Eu vou sair daqui apenas quando eu quiser. Lide com isso ou morra tentando. — Tália era uma mulher ambiciosa, isso tudo deveria ser por dinheiro, em algum momento ela diria uma quantia ele tinha certeza, mas não poderia esperar até que ela escolhesse o momento. Até lá toda a sua vida poderia ruir. Não, não se daria ao luxo de esperar.
— Quanto você quer? Me diga uma quantia, qual-
quer uma que deseje e eu lhe darei, a única coisa que quero é que você vá embora. — Ela ri novamente, dessa vez foi algo mais parecido com a gargalhada de uma bruxa e isso, ele tinha que admitir, ela fazia a perfeição. A maldade lhe caía como uma luva e era incrível que ele tenha demorado tanto para notar que não se tratava de uma mulher com espírito livre, e sim de uma mulher perversa por natureza.
— Acha que é por dinheiro? Ora, mas se fosse por isso não acha que eu já teria dito o meu preço a muito tempo? O que eu quero dinheiro nenhum pode comprar. Eu quero atormentar você Ház, quero que perca noites de sono tentando imaginar qual será o meu próximo passo, quero que tente antecipar meus movimentos e sofra de frustração ao perceber que sempre está uma jogada atrás, quero que se sinta impotente a cada dia quando me ver perto da idiota da sua esposa e não poder fazer nada para protegê-la de mim por que você não pode contar a ela quem eu sou sem destruir o seu casamento. Quero que se apavore a cada vez que eu tiver que ficar a sós com ela, quero que me sinta observando-os em cada momento incluindo os mais íntimos. Eu quero reduzir você a nada além de um fedelho amedrontado. Eu vou sugar a sua paz Ház, e eu tinha te oferecido uma coisa bem mais prazerosa que essa. Foi uma escolha sua me rejeitar, agora lide com as consequências do seu erro. — Ela se soltou do aperto da mão de Ház e saiu dando-lhe uma piscadela.
Ele sentiu seu coração ficar pesado como a lua a cada
vez que se forçava a respirar, fazer o ar entrar dentro dos seus pulmões nunca havia sido uma atividade tão difícil e dolorosa. Isso não podia estar acontecendo, por que justo agora que ele finalmente tinha conseguido se livrar das lembranças que o assombravam?
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Durante os dois meses que se seguiram Ház estava cada momento mais fora de si, a única alegria que ele teve durante esse meio tempo se deu quando Tessa o chamou para conversar.
— Minha menstruação está atrasada. — Ela falou e ele estava tão atordoado com a presença de Tália no quarto que simplesmente não conseguia entender o que ela queria dizer.
— E? — Ela revirou os olhos.
— Eu estou gravida Ház. — Ele piscou os olhos cinco vezes atordoado. Claro que aquela era uma excelente notícia, e ele estava completamente feliz com isso, mas quando olhou para Tália e viu ela mexer os lábios de uma maneira a formar as palavras parabéns papai ele sentiu no fundo da sua alma que essas palavras não eram verdadeiras felicitações. Tratava-se de uma grande ameaça velada.
Ele não sabia dizer se Tália havia tido algo haver com aquilo mas a felicidade deles dois durou menos que um mês, inexplicavelmente Tessa tinha se desequilibrado no topo da escada e mesmo sem ferimentos aparentes aquela foi uma de suas piores noites da vida. Tália lhe deu um chá que, segundo, poderia ajudar para que o bebê não tivesse sofrido com aquela queda, Tessa tinha começado a considerar Tália sua amiga e Ház não podia fazer nada a respeito. Ela bebeu o chá e tinha ido dormir com a certeza de que a queda não tinha significado nada de preocupante. Ele se agarrou a possibilidade de que Tália tivesse tido um momento de compaixão e realmente estivesse tentando ajudar, afinal, por qual motivo ela iria querer punir um bebê que de nada tinha culpa?
A madrugada chegou e com ela vieram os gritos de sofrimento de Tessa, ele tinha se levantado assustado demais para entender, mas, quando olhou para a cama e viu todo aquele sangue ele soube.
Soube que tinha perdido sua alegria mais recente e soube que estava vendo Tessa perder seu brilho bem diante dele. O médico confirmou que ela havia perdido o bebê e Ház nunca pensou que veria Tessa tão triste em toda sua vida. Ele chorou em silencio quando estava sozinho se sentindo completamente digno de pena ou ódio. Aquilo tudo era culpa dele. Não, aquilo era tudo culpa de Tália. Ele se levantou da cadeira de seu escritório com todas as suas lagrimas nos olhos e sua vulnerabilidade a vista para quem quisesse ver.
— Já chega Tália. Por favor, já chega. Eu estou aqui completamente derrotado em sua frente, agora por favor nos deixe em paz. Deixe a Tessa em paz, ela não merece esse sofrimento. — Ele disse parando diante de Tália e não foi capaz de conter o choro. Ele Amava a sua esposa e agora isso estava claro, mas não se sentia digno dela. Ele tem sido covarde demais para contar toda a verdade para ela por ter medo de que se contar ela possa nunca vir a amá-lo, ou pior, seja capaz de odiá-lo. Ele tinha a sensação de que não suportaria isso.
— Você não deveria estar chorando ainda, por que no que depender de mim o ventre dela ficará seco. — Tália não tinha nada de bom em si, Ház teve a vaga impressão de que para tirá-la de suas vidas ele teria que matá-la, mas não queria sujar suas mãos. Ele teria que encontrar uma outra solução.
Ela saiu deixando-o ali com todas as suas inquietações e a certeza de que aquele não era o fim. Ház chorou mais uma vez sendo incapaz de se conter.

O conde de Lukewood - volume 1 os ClarkesOnde histórias criam vida. Descubra agora