Guardiãs • 2021

Capítulo 12

Sofia encarava com raiva a panela em sua mão, como se a sua mera existência fosse um insulto. Não se lembrava da ultima vez que tinha cozinhado alguma coisa, provavelmente nunca tinha cozinhado algo na vida, porém sempre achou que fosse algo intuitivo... Mas provavelmente o cheiro de queimado e a coloração escura não fosse um bom sinal.

— Meu Deus, o que morreu aqui dentro? — Lucas perguntou, ao mesmo tempo que tossia devido ao forte cheiro de fumaça.

Gabriella em seu encalço lançava um olhar, que Sofia não conseguiu decifrar, para ela.

Sofia não conseguiu não pensar no que havia acontecido no dia anterior, tanto na sala de estar quanto em seu quarto. A jovem ainda não conseguia compreender, já que em um momento Gabi estava a abraçando e em outro a jovem estava a um passo de beijá-la.

Culpa a corroía por dentro. Não fazia tanto tempo assim que havia terminado com Frederico, por mais que ele tivesse beijado outra menina enquanto ainda estava com ela, Sofia não conseguia entender como o havia esquecido tão rápido, uma pessoa com a qual ela passou dois anos inteiros de sua vida e que quase se casou. Mas no instante em que Gabriella tinha tocado seu rosto e a garota sentiu seu corpo tremer com o toque, e o desejo que teve de cobrir sua boca com a dela... Frederico nem passou em sua cabeça, na verdade nada passava em sua mente naquele momento.

Sofia olhou para Lucas, que estava com o cabelo castanho avermelhado meio bagunçado e um dos seus moletons, tentando ao máximo não mostrar o quão mexida ainda estava com a presença de Gabriella.

Enquanto o rapaz vinha a seu socorro na cozinha, Gabriella continuava sentada no banco, com a cabeça apoiada em uma das mãos, encarando Sofia.

A menina tentou não devolver o olhar, mas não conseguiu, era como um feitiço e ela estava encarando aqueles olhos escuros e seu coração se encontrava acelerado de novo.

Ela estava tão absorvida dentro do momento que nem notou que Lucas havia tirado a panela do fogão e jogado seu conteúdo no lixo.

— Valentina? — o rapaz chamou tirando a garota do transe no qual se encontrava. Só então ela desviou o olhar de Gabriella, sentindo seu rosto corar, e se lembrou do que Lucas havia perguntado.

— Meu orgulho — ela respondeu e os dois amigos riram de sua cara, deixando a jovem com o rosto mais vermelho. — Isso não é engraçado! — Sofia preferiu batendo o pé no chão frustrada.

— Não acredito que você acabou de bater o pé no chão — Lucas falou, soltando uma gargalhada ruidosa.

— É sério! Que pessoa de dezenove anos não sabe fazer uma panqueca? — exprimiu a loira olhando tristemente a massa preta dentro da lixeira.

— Melhor do que ter mais de vinte e só saber fazer panqueca! — disse Lucas, enquanto pegava a panela com restos de massa queimada de dentro da pia.

— Pelo menos suas panquecas são as melhores, Luquinhas — Gabriella falou, fazendo com que o garoto abrisse um sorriso convencido. — Quero dizer, depois de muita luta e a Antonela sofrendo horrores para te ensinar.

— Tem razão, eu sou o rei das panquecas hoje em dia.

— O rei da humildade também. — Gabi deu risada, balançando a cabeça.

— Isso também — Lucas apontou o dedo para a amiga, em seguida voltando a lavar a panela — Já sei! Como eu sou o rei das panquecas, o que você acha de eu te ensinar, Valentina?

A garota estava prestes a responder quando seu celular começou a tocar ruidosamente e a foto de Frederico ocupou sua tela. Com um suspiro pesado, a menina recusou a ligação evitando o olhar curioso de Lucas.