Guardiãs • 2021

Capítulo 4

A cabeça de Sofia doía com o penteado apertado que estava em sua cabeça, seu rosto estava fabulosamente pintado em uma maquiagem que a deixava mais bonita do que realmente era. Mais uma máscara, pensou, olhando para sua face no espelho do seu quarto.

Depois de tudo o que havia acontecido, o dia passou tão rápido, que Sofia até se assustou quando viu que já eram sete horas da noite. O barulho dos empregados correndo e a música tocando no fundo, fazia seu estômago dar voltas, e as mãos suarem de nervosismo.

— Sofia! — sua mãe disse olhando para ela carinhosamente, enquanto as duas andavam pelos corredores da mansão indo em direção ao salão de festas. A cada passo a música e as vozes se tornavam mais altas, assim como a ansiedade crescente na menina. — Vai dar tudo certo, confie em mim.

Sofia apenas assentiu, enquanto sua mãe a dava um sorriso tranquilizador. De repente as portas do salão se abriram, revelando uma sala lindamente decorada com candelabros, mesas repletas com os doces mais deliciosos do mundo que ninguém iria comer e até mesmo uma pista de dança, e ela, um enfeite ambulante com o cabelo castanho escuro preso em um coque elaborado, um vestido branco repleto de pequenas gemas de diamante, que seu pai havia encomendado especialmente para o evento e um lindo, mas mortal, sapato de salto que a deixava doze centímetros mais alta. Sofia se sentia quase como um brinquedo brilhante que Joaquim ia exibir para os amigos.

Seus pensamentos foram interrompidos pelo barulho alucinante de aplausos e flashes de câmera em sua direção. Ela deu um sorriso casto no rosto enquanto caminhava junto com sua mãe em direção ao seu pai, que estava posicionado no meio do salão, cercado pelos convidados que esperavam uma oportunidade de bajulá-lo.

Joaquim de Alcantara usava um terno cor de grafite que estava perfeitamente alinhado em seu corpo, o cabelo escuro como o de Sofia estava penteado para trás, mas o que mais chamou a atenção da jovem foram os olhos olhando triunfantemente em sua direção.

Sofia teve que conter a vontade esmagadora de não fazer uma cara de ódio. Ao invés disso colocou um sorriso no rosto e caminhou em sua direção.

— Papai! — falou assim que o alcançou, o apelido carinhoso queimando em sua língua quase como se fosse um veneno, e depois deu um beijo em sua bochecha fria.

— Querida! — respondeu, quando encostou os lábios na bochecha da filha e, antes que a garota pudesse se afastar, sussurrou para que só ela ouvisse. — Não estrague tudo. — Sofia o encarou severamente quando o mesmo se afastou. Nunca havia conhecido alguém tão frio e calculista como ele, uma pessoa que só se preocupava com status e dinheiro no banco. Desviando do olhar da filha, Joaquim olhou para a multidão presente no local, que os observavam curiosos.

— Queridos, amigos... — começou se dirigindo para o agrupamento de pessoas a sua volta. — Hoje eu os recebo em minha casa, para compartilhar esse momento tão especial com vocês, o aniversário da minha única filha e herdeira.

Cada palavra soava como um aviso, um lembrete, de que se a garota não cumprisse com o que ele queria, ela seria a ruína da família.

— Sofia. — Se virou para a filha, com lágrimas caindo nos olhos. A garota sabia que era apenas mais uma cena para as câmeras posicionadas no salão. — Minha filha... Minha menininha, feliz aniversário.

Nesse momento ele começou a cantar a famosa música de aniversário, acompanhado pelos convidados. Sofia, desconfortável com a situação, apenas bateu palmas junto com o grupo, em maioria empresários e seus filhos, quando a imagem de Frederico, usando um lindo terno preto e com os cabelos negros penteados para trás, apareceu no salão.

Seu coração deu um pulo, a raiva crepitando em suas veias enquanto o observava, só conseguia lembrar dele beijando Vanessa, depois de sempre falar que eram apenas amigos. Ele havia mentido para ela o tempo inteiro.