Capítulo 9 - Parte 2

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— Eu só... Não sei o que aconteceu — Gabriella começou a falar, por mais que quase nunca conseguisse se abrir com os amigos sobre seus sentimentos, ela estava se sentindo bem ao falar sobre isso com Lucas, como se um peso fosse retirado de seu corpo. — Nunca foi assim, sabe? Como se eu não conseguisse pensar, como se meu corpo estivesse totalmente desconectado do meu cérebro... Não é algo que eu esteja acostumada, e isso me assustou.

Assim que ela terminou de falar ela soltou um suspiro, se sentindo um pouco mais leve ao falar aquilo em voz alta.

Lucas a olhou por mais um momento e balançou a cabeça em compreensão, entendendo o que ela queria dizer.

— Eu sei como se sente — ele falou, pegando uma almofada e a abraçando, olhando para a parede da sala, totalmente perdido em pensamentos. — Mas talvez isso seja uma coisa boa, quem sabe você e ela não possam...

— Não — Gabriella o cortou antes que ele conseguisse terminar a frase. — Não posso, eu nem a conheço... E tudo isso, não conseguir pensar perto dela... Parece uma receita para o desastre.

Lucas ficou em silêncio novamente como se refletisse sobre as palavras dela.

— Você não acha que está com medo?

— Medo? — Ela fez uma careta, como se a ideia fosse ridícula — Não, eu só não acho que algo de bom vá sair de um relacionamento assim.

— Gabi — Lucas começou a falar, se virando para olhar nos olhos castanhos da jovem ao seu lado no sofá. — Não precisa ter vergonha sabe? Eu sei que você gosta de controle, de sempre estar à frente das situações... Mas não dá para controlar tudo, e você não precisa se envergonhar disso.

— Lucas, não é isso — Gabriella começou a tentar explicar, mas se encontrava sem saber o que falar. Ela não queria admitir que ele estava certo, que a ideia de que aquilo acontecesse de novo a deixava louca. — Eu só...

— Não podemos viver dentro de conchas, Gabi — Lucas falou, vendo que ela não conseguia terminar a frase — Eu sei que dá medo, mas ficar presa dentro de uma fortaleza sem querer sentir nada... Isso não é bom para você, porque uma hora ou outra você vai ter que sair para lutar com os seus próprios monstros.

Gabriella ficou quieta por um momento, pensando em tudo o que ele disse. Mas ela não podia fazer aquilo, não depois do que havia acontecido com Luiza, da forma que ela havia machucado os sentimentos da jovem.

— Não existem monstros, Lucas — ela disse, totalmente convicta.

Era isso, a jovem estava decidida a esquecer tudo, não tinha o porquê pensar no que tinha acontecido — ou deixado de acontecer. Talvez tenha sido só um lapso, uma coisa passageira, não importava, Gabriella estava decidida a acreditar que nada de diferente existia.

— Eles são só para colocar medo nas crianças, mas não existem na vida real.

— Você pode negar o quanto quiser, mas uma hora vai ter que aceitar que ela mexeu com você e toda a vez que isso acontece você se fecha, assim como fez com Luiza — ele falou, e Gabriella teve que parar por um minuto, totalmente surpresa com o que Lucas tinha dito.

— O que a Luiza tem a ver com isso? — a jovem perguntou, e ele a lançou um olhar sério, como se estivesse lendo sua mente e vendo o que ela estava sentindo.

— Assim que a hipótese de que algo possa penetrar a armadura que você criou em volta do seu coração aparece, você se fecha — Lucas apontou, o que fez Gabriella começar a ficar realmente irritada, se levantando do sofá. — Fez isso com a Luiza, disse que não correspondia aos sentimentos dela porque a ideia de que algo a mais pudesse acontecer entre vocês te apavorou, assim como te deixou com medo o fato de você se sentir assim em relação a Valentina.

Guardiãs • 2021Onde histórias criam vida. Descubra agora