Desolación | Drarry

Capítulo 6: Sempre pode ser pior

Ter suas memórias de volta foi um alívio.

Isso lhe deu algo em que pensar.

Draco se mantivera ocupado naqueles dias em que fora despojado de suas memórias, evitando a todo custo o retrato mágico de sua mãe desde que a ouvira dizer a um de seus ancestrais que quase nunca estava em seu retrato porque a aborrecia estar ali, com Lucius e Draco inanimados ao seu lado, e que sempre pensara que ela e o marido iriam embora juntos. Draco ouviu de má vontade enquanto Narcissa perguntava quanto tempo mais ela teria para lhe fazer companhia e que estava curiosa para saber a causa de sua morte.

Então, para evitar pensar nisso, Draco se concentrou em pesquisar o feitiço que o Lorde das Trevas havia pedido para ele criar, e também em preparar a poção que eles usariam para a execução pública.

Mas não era a mesma coisa que ter aquelas distrações que a morte de Potter lhe trouxe. A verdade da Ordem. E a verdade sobre sua mãe.

Sem tudo isso, a única coisa que Draco sentia era que uma parte dele havia sido tirada. Que eles haviam despedaçado seu coração, tornando-o incapaz de perceber qualquer coisa além daquela dor ensurdecedora que o acometia toda vez que via as fotos de sua mãe na mansão, ou toda vez que tomava o café da manhã, e a geleia de amora estava lá, estava lá porque sua mãe a amava, e ninguém mais parecia notar isso.

Ninguém mais poderia.

Que desde que a guerra começou, há quase uma década, Draco ficou em pedaços, e a única pessoa que o mantinha unido era sua mãe, e a ideia de que ele algum dia estaria completamente seguro. Sem ela - sem ela...

Draco não era ninguém.

Narcissa era sua razão para acordar todos os dias. Cada coisa que ele fez, cada ação que tomou, ele fez pensando nela, sabendo que ao longo de sua vida a única coisa que teve foi sua família. Se Draco comprava uma túnica, sempre mandava fazer uma para sua mãe, para que, no dia em que fosse libertada de Azkaban, tivesse roupas novas e bonitas e não precisasse usar uma que lhe trouxesse más lembranças. Se Draco comprava novas terras, era sempre com a ideia de que, quando tivesse sua mãe ao seu lado novamente, eles poderiam ir morar lá, deixando a mansão, pois ele supunha que Narcissa não poderia viver naquela casa quando estivesse livre.

E no final só sobrou um armário cheio de roupas sem uso e casas imaginárias que nunca seriam construídas.

Era difícil viver sem ela, longe, presa.

Mas era insuportável saber que ele não tinha mais nada além das lembranças de algo que existia e que nunca mais existiria. Como a mãe contando as sardas em seu rosto, enquanto dizia que eram estrelinhas e que ele próprio era uma. Abraçá-lo quando ele teve um pesadelo e ordenar aos elfos que lhe dessem sua comida favorita pelo menos uma vez por semana. Enviando livros para Hogwarts só porque os viu no Beco Diagonal e eles o lembraram dele. Dando a ele tudo o que ele pedisse e quando ele pedisse, pois ela dizia que Draco era a coisa mais importante do mundo, e que ela faria absolutamente tudo que estivesse ao seu alcance para que nunca lhe faltasse nada. Que se ele pedisse a ela, Narcissa lhe daria o mundo inteiro. O universo. As galáxias. Que derrubaria a lua.

E ele falhou com ela.

Draco sabia que a morte de sua mãe ainda não o atingiu. Que ele ainda não tinha plena consciência do que havia acontecido e que tudo parecia ter sido tirado de um pesadelo no qual ele estava preso. Mas ele faria tudo ao seu alcance para atrasar o máximo possível o momento em que a realidade o atingisse e ele fosse forçado a enfrentar o fato de que nunca mais a veria. Que sua mãe havia partido.

Porque ele sabia que se fosse esse o caso, não conseguiria se recuperar.

Assim, quando Pansy veio visitá-lo durante o período em que ele não tinha suas memórias, Draco não a deixou entrar. Ele se lembrou de sua discussão anterior. Ele sabia claramente o que diria a ela e quase podia adivinhar a conversa antes que ela acontecesse. Ele também bloqueou as corujas de seus amigos, com exceção de Theo. Ele não tinha certeza se conseguiria lidar com as condolências.