Estrelinha

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OLIVIA


Logan me mandou mensagem, disse que procurou o problema no carro e aquilo com certeza daria um pouco mais trabalho do que ele havia previsto, me disse que o valor ficaria na casa dos seiscentos dólares e eu pedi para que esperasse, pois antes de dar o aval para arrumar precisava falar com uma pessoa, mas seria bem rápido.

Confesso que fiquei extremamente sem chão, não desvalorizo o trabalho de ninguém, e muito menos o dele, eu só não esperava que meu carro estivesse tão fodido.

Liguei pra minha chefe pedindo um adiantamento de ao menos trezentos dólares, eu poderia falar com ele e tentar dividir o pagamento, até expliquei a situação para ela, mas a resposta foi um não enorme, eu realmente esperei que fosse outra, nunca havia pedido um adiantamento.

Mandei mensagem para Logan morrendo de vergonha e dizendo para não arrumar, esperei por um bom tempo mas o mesmo não respondeu. Eu ia ligar mas preferi não incomodar, ele já deveria ter fechado a oficina.


Tive que ir cuidar do Dylan pois o mesmo começou a ficar quente outra vez, dei os remédios prescritos e logo após comer o mesmo adormeceu outra vez.
Coloquei meu bebê na cama e como de costume a mamadeira do lado.

Eu já estava de camisola e pronta para dormir, resolvi apenas passar na cozinha pra comer alguma coisa.
 

Antes de voltar pro quarto, ouvi a campainha e fui atender, abri a porta vendo o Logan, sujo de graxa e com a camisa provavelmente manchada de óleo. Eu sei que vou parecer estranha, mas ele estava extremamente gato.

Meu Deus, eu preciso de uma bíblia com urgência.


— Boa noite....me desculpa por te fazer trazer o carro aqui outra vez... —


— Boa noite, não se preocupa — Me entregou a chave. — Olha eu...— Coçou a cabeça. — Troquei a mangueira e o óleo, mais um monte de coisas também, mas se sentir algum cheio estranho é o óleo novo —


 Você oque ?...Acho que não chegou a ler as últimas mensagens, eu te pedi pra não arrumar, não tenho dinheiro — Foi duro admitir.


— Olha, me lembrei das sacolas da farmácia e comecei a arrumar o carro. Troquei algumas...várias peças e só terminei agora, dei uma volta no quarteirão acelerando um pouco pra saber como estava tudo e até o momento tá em perfeito estado outra vez.
Eu não ia te incomodar, mas parei aqui e vi algumas luzes ainda acesas, resolvi chamar, vai que precisa durante a madrugada.
Mas...tem razão, nem me dei ao trabalho de ler as mensagens, mesmo assim eu arrumei —


— E me diz, como vou te pagar ? — Ri não acreditando naquilo, eu tava bem ferrada no momento mas não conseguia ficar com raiva, no lugar disso era apenas a vergonha que me dominava, ele com certeza devia pensar que eu era uma irresponsável que engravidou sem ter aonde cair morta e agora colocava o filho em apuros.


— Não se preocupa...é uma gentileza, se seu marido achar ruim...pede pra ele passar lá na oficina amanhã. Eu converso com ele, só quis ajudar vocês, eu explico que não teve segundas intenções — Pareceu preocupado.


— Eu não tenho isso há um bom tempo — Suspirei. — Não sei se brigo ou se te agradeço — Olhei o carro outra vez. — Me diz que vai aceitar o dinheiro assim que eu tiver como te pagar ? Por favor —


Desculpa. Acho melhor você usar a segunda opção — Um pequeno sorriso brotou em meus lábios. — Com certeza, eu aceito —

A mentira estava estampada do rosto dele, como podia ser tão cara de pau ? Mesmo assim, fui até o carro, entrei e liguei, estava tudo perfeito, alguns barulhos até tinham sumido.


Saí sorrindo feliz e até com lágrimas nos olhos, dei um abraço involuntário nele, que ficou meio estático por uns segundos. Parecia ter muito tempo que não recebia um abraço, caí na real do que fazia e me afastei.


— Me desculpa, eu me empolguei demais —


— Tá tudo bem, eu só acho que não foi uma boa ideia — Apontou meu braço sujo de graxa.


— Não tem problema muito obrigado, e assim que eu tiver o dinheiro eu vou te pagar — Olhei pra dentro de casa. — Bom eu...eu te... —


— Me convidaria pra entrar ? Mas eu sou um completo estranho ? Você está certa ! — Rimos. — Eu só quero saber como está seu filho....e a sua mão ? —


— Ele acabou de dormir outra vez, a febre estava voltando, mas eu já dei os remédios e a temperatura está a baixando.
Bom, minha mão arde quando eu faço algum movimento mais intenso, fora isso tá tudo bem, obrigado —


— Lembro quando meu filho ficava assim — Sorriu. — As febres dele eram muito intensas —


Foi a primeira vez que vi ele sorrir e posso estar com algum problema, mas pra quem acabou de falar do filho, ele não sorriu feliz.


— Quantos anos ele tem hoje ? — Sorri me encostando na porta.


— Era pro Andrew ter setes anos — O olhei com cara de "UÉ ?" e ele suspirou. — Ele....não está mais entre nós, ele se foi com quatro anos, agora prefiro acreditar que ele é uma estrelinha. Isso soou idiota ? —


— Claro que não, eu nunca pensaria isso. Me desculpa...eu sinto muito mesmo — Meu Deus porque eu fui perguntar ?.


— Tá tudo bem — O olhei solidária e sem graça. — Eu vou indo...até qualquer dia —


— Obrigado outra vez —

Ele assentiu apenas e saiu andando de cabeça baixa, eu me senti a pior pessoa do mundo.

Fechei a porta e me sentei no sofá, eu mal o conhecia, mas já percebia algumas coisas nele. Uma delas era a frieza, a morte do filho era a mais provável causa.

Suspirei e fui até o quarto do Dylan, analisei meu pequeno dormindo e conferi a temperatura.
Foi horrível apenas cogitar pensar na morte dele, quem dirá viver com aquilo todos os dias.

Eu realmente fiquei muito abalada por Logan. Me deitei pensando e fiquei uma parte da noite com a cabeça processando muita coisa, levantei algumas vezes pra conferir a temperatura do meu pequeno, mas logo meus olhos se cansaram e eu peguei no sono.


— Mamãe.....acoida, eu peciso ir no banheilo, MAMÃE ! — Senti meu filho abrir meu olhos.


Me levantei num pulo conferindo se ele estava bem. Senti o sol batendo em meu rosto através da janelo e ouvi o pedido mais uma vez, o peguei no colo e fomos ao banheiro.


Ele ainda não tinha saído cem por cento das fraldas, eu sempre colocava pra ele dormir, mas a noite que passou eu esqueci e dei graças a Deus por ele ter acordado há tempo.
Abri a tampa do troninho dele que era bem mais baixo, facilitando seu uso.


— A mamãe já disse, que quando sentir vontade pode vir sozinho, amor.
Mas foi bom ter chamado a mamãe, sempre que a mamãe não estiver por perto, avise alguém antes de entrar no banheiro — Falei reavaliando os perigos.


Escovei os dentes com ele e descemos pra tomar café.
O deixei sentado brincando enquanto fazia sua mamadeira.


— Mamãe, eu posso ver o au au de novo ? —


Coloquei o pão no prato dele e ao lado sua mamadeira, me perguntei que au au e lembrei do Logan, com certeza era o cachorro dele. Meu filho e sua peixão por bichos.


— Bom, meu amor, pode sim, mas só depois do almoço...— Ele concordou e eu tive uma ideia para retribuir a gentileza que me foi feita. Claro que o pagamento viria depois, mas por agora era oque estava em meu alcance.





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