Carta 2, 30/10/2014

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Querida Cristine,

Ontem fui para nossa casa após uma consulta, entrar sem você foi uma dor imensurável e é um vazio imenso, comecei ontem a ter consultas pós traumáticas com um psiquiatra e nada fiz a não ser chorar, seu rosto com medo segue em meus pensamentos e não sei como parar. Sobre o acidente continuam a investigação, nada de conclusivo e seu pai está cada dia mais angustiado e nervoso ao te ver assim e ninguém está pagando por isso.

A bel está vindo aqui diariamente, ela está cuidando do nosso gatinho e sente sua falta. Nosso mês preferido está chegando e você ainda dorme profundamente, o médico disse que não houve melhoras ou piora, sigo muito aflito.

Muitas marcas e empresas mandaram flores e cartões por sua agência, e ela está nos dando todo apoio. Você cultivou ótimas pessoas por onde passou, quando acordar vai ficar feliz em ver todo carinho. O motivo dessas cartas também é minha preocupação que você possa esquecer de nós, mas não se preocupe, escreverei momentos e diariamente te contarei tudo desde o início, te contarei nossos melhores e piores momentos para que sempre saiba que em nossa roda de amigos, sempre fomos o casal mais provável do mundo, te conheci há quatro anos pelo caio, um fotografo da sua agência e meu vizinho que hoje mora no Japão...

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— Caio, eu não gosto de bar e muito menos com o pessoal da sua empresa que não conheço. — Sussurrei, arrumando meus óculos.

Realmente não me sentirei bem, como posso convencer ele?

— Júlio, são pessoas legais e acabou de passar no vestibular, precisa comemorar. — O Caio sorriu e bufei. — Estamos na porta do bar, vamos?

Bufei e arrumei minha mochila, a entrarmos no bar todos estavam em uma mesa enorme no canto e as últimas cadeiras estavam vazias, com certeza sentarei lá.

— Gente, esse é meu amigo Júlio e ele acabou de passar no vestibular. Ele é tímido e uma das pessoas mais legais do mundo, e Júlio esse pessoal trabalha comigo na agência. — Caio sorriu e sorri ara todas as pessoas que se mostraram felizes por mim.

—Parabéns, Júlio. — Uma moça que deveria ser modelo falou e sorri.

— É isso aí guri, pode sentar e fique à vontade. — Um rapaz falou.

— Obrigado, irei me enturmar. — Arrumei meus óculos e sentei no final da mesa ao lado de um rapaz e uma cadeira vazia.

Tirei minha mochila, recebi um copo de cerveja e muitas pessoas puxavam assunto, dei risadas ao ser chamado de nerd gato por uma modelo e lentamente me enturmei.

— Mas Júlio, você quer ser jornalista interno ou para aparecer na televisão ao vivo? — Uma moça falou e neguei.

Na televisão? Não conseguiria.

-Ah não, sou bem tímido, quero o trabalho interno. — Falei sorrindo e eles sorriram também.

Entre muitas conversas, uma menina se aproximou da mesa cumprimentando todos com alegria, ela sorria e suas covinhas me fez encara-la fixamente. A beleza dela se destacava, seus cabelos ondulados aos ombros, por seu corpo bem magro e sua altura diria ser uma das modelos, seus olhos se destacavam com um delineado marcante e seus lábios brilhavam.

— Cristine, atrasada? Que milagre. — Outra modelo a abraçou e ela sorriu pegando uma garrafinha de água.

Cristine, esse era o nome dela...

-Ah não enche guria gata, vou sentar lá na ponta. Oi pessoas lindas, demorei mais cheguei. — Ela sentou a minha frente da cadeira vazia e senti seu cheiro doce.

Tentei não a encarar e as pessoas tornaram a conversar em tumulto.

-Oi. — Ela falou e a encarei.

Assustei-me quando ela me chamou.

— Oi, falou comigo? — Apontei para mim mesmo, arrumei meus óculos e ela sorriu sem mostrar os dentes.

— Falei ué, você é novo aqui? Meu nome é Cristine, sou modelo novata. As vezes eu falo muito, tudo bem? Aqui todo mundo já se acostumou. — Ela estendeu a mão com unhas medianas e eu apertei sua mão.

Naquele momento seria precipitado dizer que o mundo parou no seu sorriso?

— Me chamo Júlio, sou amigo do Caio. — Soltamos nossas mãos e ela sorriu mais uma vez. — Sou intruso e tímido, tudo bem você falar muito se não se incomodar por eu falar pouco. — Sorri.

Ela consentiu, tomou sua água e em pouco tempo estávamos em uma mesa cheia, conversando apenas nós dois, como em uma bolha. Eu procurando assunto e ela sempre por dentro de todos os assuntos

— Tenho vinte e um anos e me mudei do interior e moro ali perto da praça dois, o que será que essa cidade vai me oferecer? Aqui é tão quente, mas agradável... — Ela falava e prestava atenção em seus detalhes.

Sorri, e ela pegou meus óculos para limpar de supetão.

— Obrigado por limpar, tenho vinte e três, moro na rua ao lado da praça... — Ela arregalou os olhos castanhos e sua risada engraçada me fez sorrir também...

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Foi assim que percebi ter me apaixonado à primeira vista por seu sorriso Cris, eu que nunca gostei ou beijei alguém, me vi trocando telefone com você no final da noite e recebendo seu primeiro oi por sms, agradecendo por ensinar como agentes químicos tiravam mancha de molho.

Consegue recordar?

Naquela época, a modelo e o menino tímido começaram uma relação de amizade, de cumplicidade e companheirismo ao procurar seu falecido cachorro tob na rua e dividir o taxi para algum lugar já que éramos quase vizinhos. Lembra de quando me chamou para ir ao cinema e recusei? Eu já estava apaixonado e com medo, e lembra quando aceitei e você disse que nunca me viu mais feliz e se gabou? Você tinha razão, eu nunca estive mais feliz, e o motivo era você.

Querida, estou a mais de uma semana sem você após anos sem sair do seu lado e não estou gostando da sensação, eu deveria tê-la abraçado mais? A beijado mais? Das vezes que brigamos por ciúme eu deveria ter cedido primeiro? Nesse momento estou me martirizando por todos os minutos que perdi. Sentimentos são muitas vezes catastróficos, sem explicação, e sem fronteiras. Essas coisas não se podem controlar, a não ser procurar uma maneira de arrumar cada coisa em seu lugar, juro que estou dando o melhor de mim dia após dia.

Cris, eu estou devastado de todas as maneiras que pode imaginar, daria qualquer coisa para estar em seu lugar e tomar suas dores para mim. Estou ao seu lado, te esperando leve o tempo que for.

Com amor, Juju.

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Cartas que eu desejaria te entregarOnde histórias criam vida. Descubra agora